Tmes que vencem o Super Bowl se qualificam para a pós-temporada no ano seguinte na grande maioria das vezes. Quase sempre ocorre uma espécie de desmanche no elenco depois da temporada, ocasionado pela valorização dos jogadores; porém, nem mesmo esse desmonte é suficiente para destruir uma equipe de um ano para o outro.
O Philadelphia Eagles vem se mostrando uma exceção à regra. Depois de atropelar todo mundo em 2017 mesmo perdendo seu quarterback perto do fim da temporada regular, os Eagles encerraram a temporada de cinderela com chave de ouro, com um record de 13-3 e o primeiro título de Super Bowl da organização. 10 jogos dentro de 2018 e o time já dobrou o número de derrotas se comparado ao ano passado.
Uma grande lista de fatores tem influenciado o mau desempenho do time, que tem chances enormes de não se classificar aos playoffs. A verdade é que os problemas do Philadelphia Eagles em 2018 não começaram a partir de setembro: eles se arrastam desde 2017, e cobram um alto preço da equipe atual.
Passo 1: o desmanche no quadro de treinadores ofensivos
Para entender como todo esse processo começou, precisamos voltar ao ano do título. Os potentes ataques de Rams, Chiefs e Saints impressionam em 2018 ainda mais do que os Eagles chamavam a atenção na temporada passada – e o ataque de Philadelphia já era uma máquina de pontuar. O time era o melhor da liga em conversões de terceiras descidas, e Doug Pederson não tinha medo de arriscar se precisasse de mais uma jogada para conversões.
Outras equipes observaram bem o trabalho de Philadelphia e, depois do título, atacaram ferozmente os assistentes de Pederson. Frank Reich inicialmente não iria a lugar algum, todavia, com os acontecimentos em Indianapolis relacionados a contratação-não-confirmada de Josh McDaniels, os Colts contrataram o braço direito de Doug Pederson. Não se sabia à época o quão importante era Reich na organização; observando os dois times atualmente, percebe-se que muito.
Os Vikings foram outro time que empregaram funcionários dos Eagles de 2017. Após a saída de Pat Shurmur para assumir o comando do New York Giants, Minnesota contratou John DeFillippo para assumir a função de coordenador ofensivo. Flip, como é conhecido, desempenhava a função de treinador de quarterbacks dos Eagles, teve influência direta na evolução de Carson Wentz e era também o responsável pelo ataque de Philadelphia na red zone. Essas duas perdas se provam hoje bastante custosas ao sistema ofensivo dos atuais campeões.
Passo 2: as lesões que afetaram a intertemporada
Os Eagles venceram o primeiro Super Bowl de sua história apesar de vários percalços ocorridos ao longo da campanha – nomeadamente, as graves lesões sofridas por Carson Wentz, Jason Peters, Jordan Hicks e Chris Maragos. Nenhum deles esteve presente no jogo do título, mas os efeitos dessas lesões se prolongaram para a temporada atual.
Algumas pessoas lhe dirão que a offseason não importa, e que a NFL só acontece de setembro até fevereiro. Isso é uma grande falácia: o período entre temporadas é tão importante quanto os jogos em si. Por estarem focados em suas recuperações, nenhum dos quatro participou ativamente do programa de treinos dos Eagles. Em março, Timmy Jernigan sofreu uma grave lesão nas costas e não entrou em campo na temporada atual até agora. Brandon Graham também teve de fazer uma cirurgia após o Super Bowl, e o mesmo aconteceu com Alshon Jeffery. Ou seja: o time estava incompleto por grande parte da intertemporada.
Jeffery voltou aos campos na semana 4. Wentz na semana 3. Graham esteve presente na abertura da temporada, Peters também, e Maragos e Jernigan ainda não estrearam em 2018. Notam o grande número de bons jogadores que tiveram a intertemporada afetada? Isso torna muito mais difícil chegar ao seu auge técnico.
Passo 3: as perdas para a free agency
Naturalmente, manter todo o elenco campeão do Super Bowl seria uma tarefa impossível para Howie Roseman. Primeiro, porque todo time campeão tem seus jogadores valorizados no mercado, e as limitações impostas pelo salary cap forçam os times a deixá-los atingir o mercado.
Segundo, porque os Eagles apostaram todas as fichas no título em 2017. Roseman sabia que o elenco estava dentre os mais fortes da liga e adotou a estratégia de lotar as posições reservas com veteranos em contratos de curta duração, de modo a evitar que o time tivesse grandes buracos no elenco caso houvesse alguma lesão – e como sabemos, elas aconteceram.
Philadelphia perdeu vários jogadores importantes na campanha do título quando chegou o mês de março. O time estava apertadíssimo na folha salarial, e não teve condições de renovar com Patrick Robinson e Trey Burton, dois agentes livres que vinham de excelentes anos e que receberam contratos caríssimos de Saints e Bears, respectivamente. LeGarrette Blount foi mais um que rumou para outros ares, assinando com o Detroit Lions.
Passo 4: as poucas escolhas no último Draft
No caso de Robinson, Burton e Blount, eles foram jogadores importantes na campanha, mas não se pode dizer que foram grandes estrelas – o primeiro poderia argumentar aqui, mas só. As necessidades que se abriram no time com suas saídas não foram gritantes, de modo que o time poderia compensá-las via Draft.
O problema é que, como resultado do manejo agressivo de elenco de Howie Roseman, o time não tinha muitas escolhas no Draft que se aproximava: a de segunda rodada pertencia aos Browns, ainda pela troca que resultou em Carson Wentz em 2016; a de terceira era dos Bills, que a adquiriram junto de Jordan Matthews em troca do cornerback Ronald Darby.
O resultado foi que Howie trocou a escolha de primeira rodada por um pacote de escolhas (2nd e 4th em 2018, 2nd em 2019) do Baltimore Ravens. Ao final de tudo isso, o time selecionou Dallas Goedert, Avonte Maddox, Josh Sweat, Matt Pryor e Jordan Mailata. Num mundo ideal, só Goedert teria tido um número grande de snaps em sua primeira rodada, especialmente num pareamento de personnel 12 junto de Zach Ertz. O próximo passo, porém, é o principal responsável pela situação que vem passando Philadelphia.
Passo 5: o mar de lesões da temporada atual
Como vimos acima, os Eagles chegaram para a abertura da temporada contra o talentosíssimo Atlanta Falcons sem seu quarterback titular, seu principal wide receiver, um defensive tackle titular e um jogador importantíssimo nos special teams. Sabe Deus como, Philadelphia triunfou naquela quinta-feira.
Porém, tudo começou a ruir a partir da semana seguinte. O time esperava uma vitória em Tampa Bay contra os Buccaneers, mas saiu derrotado com uma exibição primorosa de Ryan Fitzpatrick. Pior ainda, Mike Wallace sofreu uma fratura na fíbula e foi posto na injury reserve. No jogo seguinte, visita dos Colts, vitória apertada, volta de Carson Wentz, lesão grave de Rodney McLeod no joelho, fim de temporada.
Jay Ajayi, principal running back do time, ruptura do ligamento cruzado anterior na semana 5, fora da temporada. Derek Barnett, defensive end importantíssimo na rotação, lesão no ombro na semana 7, fora da temporada. Darren Sproles, running back mais ágil do time e importante nos retornos, lesão na coxa e só atuou em uma partida. Ronald Darby, principal cornerback do time, ruptura do ligamento cruzado anterior na semana 10, fora da temporada. Além da extensa lista acima, vários outros jogadores importantes estiveram de fora de algumas partidas por conta de lesão: Sidney Jones, Jalen Mills, Corey Clement, Richard Rodgers…
Vamos refletir um pouco sobre tudo que foi citado acima.
Foi impressionante tudo que aconteceu em 2017 e, mesmo com todos os obstáculos, ver Nick Foles liderando a franquia ao seu primeiro título de Super Bowl foi emocionante. Contudo, o preço a ser pago veio nesse ano. Os Eagles tiveram menos tempo do que qualquer outra equipe para se preparar para a temporada atual, e tiveram de fazer isso sem vários de seus principais jogadores.
O time era apontado como um dos favoritos na recheada NFC antes de setembro pois não se podia prever que uma extensa série de lesões aconteceria. Atualmente, os Eagles estão em frangalhos: a secundária de jogadores tão aleatórios que parece que foram gerados no Madden; o ataque não consegue produzir nada por terra, a linha ofensiva regrediu em relação à 2017 e Pederson não parece ter a mesma agressividade do ano anterior. Na defesa, o pass rush consegue chegar nos quarterbacks, mas isso não se transforma em turnovers e não consegue mascarar o baixíssimo nível da secundária.
O que está errado do lado defensivo da bola?
Um ano atrás, Philadelphia tinha uma linha defensiva assustadora, e que causava medo nos adversários por conta da excelente rotação. As saídas de Vinny Curry e Beau Allen junto das lesões de Barnett e Jernigan tiraram esse elemento, e embora Graham, Michael Bennett e Fletcher Cox sejam jogadores formidáveis, eles tem de passar mais tempo em campo. A volta de Jernigan deve ajudar bastante nesse sentido.
Você sabia que Philadelphia é o time que mais vezes acertou o quarterback em toda a NFL nessa temporada? Foram 83 hits em 11 semanas. Em contrapartida, um elemento que fez a defesa se tornar uma grande unidade em 2017 está em falta: os tackles para perda de jardas, especialmente nas primeiras descidas. Se os times tem de enfrentar 2nd-&-long, os ataques se tornam mais previsíveis, e o drive fica muito comprometido.
Acertar o quarterback adversário é um passo importante para conseguir turnovers. Com apenas sete em dez jogos, essa é a menor marca da história da franquia. Se pode atribuir isso ao baixo nível da secundária, claro, mas o elemento sorte está ausente aqui.
Outro fator notável na queda do nível defensivo foi que Nigel Bradham, tão efetivo no ano anterior, parece ter desaprendido a jogar futebol americano depois de ter renovado seu contrato. Suas exibições tem sido nada acima de terríveis, de modo que já existem pedidos de sua troca por Kamu Grugier-Hill. É importante notar que Bradham foi um grande jogador como MLB no ano anterior e que, com a volta de Hicks, ele tem atuado novamente como SLB. Jordan Hicks é outro que tem sido no máximo mediano.
O problema é estrutural de certa forma, com chamadas bastante questionáveis por parte de Jim Schwartz. No entanto, é preciso ser justo: o que se pode fazer? A secundária está completamente desfalcada e a linha defensiva não é tão recheada quanto no ano anterior. O desempenho deveria estar melhor, mas as expectativas tem de ser ajustadas.
O que está errado do lado ofensivo da bola?
Bom… Tudo. Carson Wentz, a estrela do time, teve o pior jogo de sua carreira no último domingo contra os Saints. Ele não soube lidar com a pressão do pass rush de New Orleans, completando apenas 5 de 11 passes sob pressão e lançando também uma interceptação. Além disso, seus passes longos (15+ jardas) tem sido terríveis em 2018: 0/6 no último domingo e três interceptações nesse, chegando a três touchdowns e cinco interceptações na temporada nessas condições. Em 2017? 13 touchdowns, quatro interceptações.
Apesar das estatísticas pouco inspiradoras, Wentz é a principal razão pela qual os Eagles ainda podiam se apoiar em alguma esperança de decolar na temporada. O jogo terrestre, que foi incrivelmente eficiente em 2017 apoiado numa linha ofensiva maravilhosa, não consegue manter nem perto do mesmo nível de produção. A linha ofensiva, aliás, também decaiu muito, especialmente protegendo seu quarterback.
Os Eagles eram o melhor time da NFL em % de conversão de terceiras descidas no ano anterior, e agora são apenas o 13º. Pederson, tão aclamado por não ter medo de arriscar conversões em 4th downs, não tem repetido a mesma fórmula agressiva, o que tem sido frustrante para o torcedor do time.
E tem salvação?
Salvação, não. A realidade é que os Eagles não tem o poder de fogo esperado para competirem com Rams e Saints dentro da conferência, mesmo tendo um quarterback de elite no time. O time pode – e deve – jogar melhor do que o nível que apresentou após a semana de folga, mas o teto de 2018 é bem limitado e a organização tem de focar na free agency e no Draft de 2019, que serão importantíssimos.
Embora o cenário atual aponte um favoritismo para os Cowboys na fraca NFC East e os Eagles tenham desperdiçado todas as chances possíveis para assumir o controle da divisão, os próximos três jogos são dentro da divisão, e dois desses são em casa. Um golpe de sorte, vitórias contra os inferiores Giants e Washington em sequência e o time pode viajar até Dallas com expectativas de assumir a liderança da divisão mesmo num ano conturbadíssimo. O teto desse ano é limitado, mas a NFC East ainda é um objetivo bem alcançável. Mesmo que o panorama das últimas semanas seja bastante desanimador, o 2018 do Philadelphia Eagles não acabou.
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