Em uma tradição quase “milenar”, a NFL reúne, sempre uns dois meses antes do Draft, os principais prospectos disponíveis no Combine. No evento, realizado sempre em Indianapolis, são realizados testes físicos, avaliações médicas e entrevistas com os jogadores. Neste momento, em que os olheiros, técnicos e executivos das equipes já viram as atuações desses prospectos na universidade, a hora é de descobrir quem pode ser ainda melhor do que parece na tela – ou mesmo o oposto.
Para os jogadores, o Combine é uma grande entrevista de emprego. Se você chega lá como uma possível escolha de primeira rodada, quer garantir uma seleção ainda mais alta. Isto é conquistado através de um desempenho acima dos limiares mínimos para a posição nos testes físicos, como a corrida de 40 jardas, o supino e os 3 cones (corrida que testa a agilidade na mudança de direção). Tão importante quanto os testes físicos são as entrevistas com representantes das equipes: ali são esclarecidas eventuais dúvidas sobre conhecimento do esporte e questões comportamentais, por exemplo.
Neste último Combine, um jogador chamou a atenção pelo desempenho desastroso em todos os aspectos possíveis: o EDGE Jachai Polite, de Florida, conseguiu deixar uma péssima impressão, tanto do ponto de vista físico quanto de personalidade. Hoje veremos como Polite pôde, em poucos dias, ter caído muito nos rankings das equipes e, consequentemente, ter perdido muito dinheiro. Tudo isso mais por falta de preparo técnico e mental do que por falta de habilidade.
Talento cru
Ao longo de sua carreira universitária, na Universidade da Florida, Jachai Polite mostrou muito talento para pressionar os quarterbacks adversários. Jogador leve pra a posição, Polite ainda assim não é apenas um pass rusher de velocidade: ele utiliza técnicas de força (a chamada bull rush) e também mudanças de direção no meio do movimento, para deixar o tackle hesitante.
Por outro lado, Polite sempre se mostrou frágil contra o jogo corrido e também quando eventualmente assumia responsabilidade na cobertura. Pelo seu tamanho (1,90m e 117Kg), já se imaginava que Polite teria dificuldade em se adaptar às funções de um defensive end em um sistema 4-3. Desta forma, para garantir uma melhor viabilidade como outside linebacker em um sistema 3-4, o jogador precisaria mostrar capacidade de adaptação e aprendizado, evoluindo na cobertura e contra as corridas. Não há dúvida, no entanto, que o talento cru como pass rusher (de valor inestimável na NFL) está presente em Jachai Polite.
Já esta abertura para adaptação e aprendizado…
Fracasso no Combine
Ao chegar no Combine, Jachai Polite estava almejando, quem sabe, se juntar a Nick Bosa e Josh Allen na primeira prateleira dos EDGEs disponíveis para seleção no Draft 2019. Dentro deste segundo grupo, se encontravam, além de Polite, jogadores como Brian Burns e Montez Sweat.
Sob o ponto de vista físico, as coisas foram ruins para Polite. O jogador fez um tempo de 4,84 segundos e um salto vertical de 32 polegadas, resultados bem ruins dentro da posição, particularmente quando consideramos que Polite é relativamente leve e um pass rusher de velocidade. Sem velocidade e agilidade em um nível adequado, como fazer movimentos de pass rush de velocidade contra tackles de qualidade superior como os da NFL?
Certamente, esta é a pergunta que os times da NFL estão se fazendo.
Após estes primeiros testes ruins, Jachai Polite optou por não participar nos demais testes físicos, citando uma contusão na coxa. Não ficou claro em que momento aconteceu esta contusão, o que por si só é um sinal de que Polite não estava preparado adequadamente para o Combine. Se a contusão era anterior ao evento da NFL, o jogador deveria não ter participado; se a mesma aconteceu durante os testes, seria importante deixar isso claro, para que o resultado fosse encarado com parcimônia. Do jeito que o jogador se comportou, ficou parecendo que a contusão foi só uma desculpa para evitar mais resultados ruins.
Por incrível que pareça, a parte física foi o menor dos males de Jachai Polite no Combine – nas entrevistas é que o verdadeiro desastre aconteceu. É claro que, de fora, muitas vezes não temos como saber o que acontece em reuniões fechadas entre os jogadores e os times. Neste caso, no entanto, o próprio Polite revelou à imprensa as besteiras que fez.
De acordo com o jogador, a maior parte das entrevistas foram ruins porque os representantes da equipe só ficaram questionando os erros de Polite, valorizando pouco seus acertos. A questão é que o que as equipes buscam saber é justamente como o jogador responde à adversidade, e o quanto pode reconhecer e corrigir seus próprios erros. Para piorar a situação, ao responder a pergunta de um repórter, Polite afirmou nunca assistir os vídeos de seus jogos, para estudar seu desempenho. Isto, inevitavelmente, pega muito mal dentro de uma liga em que a autoavaliação é constante. Fica a impressão de que Jachai Polite é um jogador absolutamente fechado à possibilidade de adaptação e evolução na liga profissional. Mais uma vez: que equipe vai apostar uma escolha alta em um jogador que parece se recusar a fazer o necessário para ser bem-sucedido na NFL?
Essa performance nas entrevistas revela de novo que Polite chegou ao Combine totalmente despreparado. É claro que muitos prospectos podem até “enganar” os times com entrevistas bem treinadas, mas, ao não mostrar este preparo, o que fica para as equipe é uma sensação de desinteresse da parte do jogador. Exatamente como alguém que, embora tenha a habilidade necessária, não chega para uma entrevista de emprego mostrando que quer a vaga.
Estrago feito, mas qual será o resultado final?
Com este desempenho no Combine, é claro que a ideia de chegar à primeira plataforma de EDGE do Draft já era para Jachai Polite – aliás, jogadores como Brian Burns e Montez Sweat fizeram muito mais nesse sentido. Assim, é possível imaginar que Polite será, na melhor das hipóteses, o quinto EDGE a ser selecionado no Draft. A realidade, no entanto, deve ser um pouco pior.
Polite tem bons momentos em suas performances no futebol universitário. Contudo, se consideramos que o seu Combine não sugere um jogador aberto ao crescimento, ficamos com um produto inacabado, certamente sem o valor de uma escolha de primeira rodada. Com um grupo relativamente numeroso de EDGEs de qualidade disponíveis neste ano, é difícil considerar a possibilidade de que Jachai Polite seja selecionado na primeira rodada. Aliás, isto vale para a segunda rodada também.
Neste momento, o valor de Polite sugere que o jogador será uma escolha de terceira rodada – e, quiçá, de quarta.
É claro que ainda há tempo até o Draft, e Polite ainda pode amortizar um pouco o prejuízo em treinos privados com os times e em seu Pro Day. Até porque, no fim das contas, basta ao jogador convencer um time de que pode ser um pass rusher de qualidade, que valha uma escolha elevada no dia do Draft.
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