A Nova Guerra da NFL contra a Indisciplina e Violência

O Futebol Americano é um esporte de contato. Não diria que necessariamente violento – mas, ainda sim, de contato físico intenso. Qualquer coisa que extrapole esse contato a níveis “sujos” acaba sendo algo que pega mal para a NFL num contexto cada vez mais intenso de luta contra concussões e aposentadorias “precoces”.

Para a liga como entidade, emissoras de TV que transmitem os jogos e para as franquias como um todo, 2015 foi um ano alarmante nesse sentido de violência desnecessária. Não que um pisão no pé aqui e ali nunca tenha acontecido: mas geralmente esse tipo de acontecimento era mais comum na linha de scrimmage, sem ninguém ver. Desde o início da codificação do esporte, antes do snap surgir, era assim que funcionava: quando havia um amontoado de gente, era mais fácil dar aquele “golpe baixo” sem que houvesse testemunhas.

Isso mudou e o ano passado foi um problema, nesse sentido, para a imagem da NFL: agora é na secundária que a violência desnecessária está acontecendo. Quando as câmeras estão focalizando só dois jogadores. Quando e, principalmente, onde a bola está. Não poderia ser pior para um esporte que luta diariamente contra o paradigma preconceituoso de ser violento.

Teoricamente, é exatamente por isso que uma das 19 propostas de mudança regra visa coibir a conduta anti-desportiva. Nesta semana, os donos de franquias estão reunidos e devem provavelmente aprovar uma espécie de cartão vermelho na NFL: na segunda falta por conduta anti-desportiva o jogador estará expulso da partida.

Antes de mais nada, uma rápida distinção: a violência desnecessária (unnecessary roughness) distingui-se da conduta anti-desportiva (unsportmanlike conduct) na medida que aquela ocorre com contato de jogo (tackle/bloqueio) esta não. Ou seja: o caos causado por Odell Beckham Jr com Josh Norman em dezembro do ano passado não estaria abarcado completamente pelo escopo punitivo da nova regra (apenas nos lances “sem bola”). Tampouco Vontaze Burfict na pós-temporada contra Antonio Brown e os Steelers. Ambas foram casos de violência desnecessária e não de conduta anti-desportiva. Exemplos desta única são (mas não limitam-se) a tentar dar um soco num jogador, provocar outros jogadores com insultos ou provocação que gere uma briga generalizada.

Isto quer dizer que… Se seu jogador preferido comemorar duas vezes alegremente e de modo fanfarrão na end zone, será expulso. Se o seu jogador preferido por duas vezes der um ippon, depois do apito, ele não será expulso? Se formos analisar a nova regra – e apenas ela – seria isso. Mas não é o que ocorrerá na prática.

Comissão de Arbitragem da NFL dará mais poderes a árbitros

Quem pode mais, pode menos. Esse é um axioma lógico que se aplicará perfeitamente na interpretação da nova regra de expuslões. Se existe uma previsão objetiva para expulsão, outros casos não tipificados objetivamente serão abarcados por analogia – ou, em não-juridiquês, o árbitro decidirá subjetivamente o que merece ser objeto de expulsão em casos de violência desnecessária, dado que não existirá o mínimo de duas ocorrências para tal punição.

É exatamente isso que Dean Blandino, vice-presidente de arbitragem da NFL disse a Peter King, do site Monday Morning Quarterback. King perguntou como a nova regra iria coibir atitudes como a de Beckham Jr no ano passado. Blandino foi enfático: “Acho que todos concordam que aquilo foi flagrante o suficiente para expulsão”. A subjetividade presente na regra, como King exemplificou, será para evitar expulsões acidentais.  Por exemplo: se um jogador já tem uma falta pessoal por violência desnecessária e atingir o quarterback segundos depois dele lançar a bola… Seria expulso caso a regra punisse com “cartão vermelho” duas condutas anti-desportivas.

ESPECIAL: Confira nossa cobertura sobre as propostas de mudança de regra para 2016 na NFL

Normativamente falando, faz sentido. Se você aplicar uma interpretação objetiva e restrita a uma dinâmica que raramente o é – como no exemplo acima – iríamos ver zilhões de expulsões por jogo. E não é bem o que a NFL quer. A liga tem como objetivo punir faltas que sejam flagrantes: exatamente como o caso de Beckham Jr e de Burfict. Com os novos poderes interpretativos que a NFL está dando aos árbitros, ambos deveriam ser expulsos na temporada 2016.

“Nós iremos reafirmar que o livro de regras permite aos árbitros certa discricionariedade quanto ao assunto da expulsão”, disse Blandino ao MMQB. “Garantiremos que eles entendam que têm esse poder e que eles não devem deixar de usá-lo quando for necessário”.

A regra ainda não passou, mas deve ser aprovada. São raríssimos os casos nos quais uma proposta de regra via Comitê de Competitvidade não passa – ainda mais quando é uma regra que evitará que o esporte tenha manchetes como “jogo violento” ou coisas do gênero, dado que indiretamente isso pode indicar menos lucro para a liga. Como efeito, poderemos ter mais expulsões em 2016. Mas, diretamente falando, mais poder para os árbitros. Num esporte onde o livro de regras tem 400 páginas, pode ser problema caso eles não estejam 100% preparados. Blandino garantirá que estejam – mas o choro dos técnicos será alto, isso eu posso garantir.

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