No último domingo, no meio do terceiro quarto da partida entre o Tennessee Titans e o Denver Broncos, aconteceu o que de certa forma já vinha se anunciando há tempos. O técnico dos Titans, Mike Vrabel, decidiu retirar Marcus Mariota do jogo, colocando eu seu lugar o até então reserva Ryan Tannehill. Posteriormente, Vrabel anunciou que Tannehill será o titular nas próximas partidas dos Titans.
Essa sequência, de certa forma, decreta o veredito final sobre a carreira de Mariota nos Titans.
O quarterback, draftado na segunda posição geral em 2015, prometia ser o grande quarterback que a equipe não tinha desde Steve McNair. Ao longo de suas primeiras temporadas na liga, Mariota alternou boas sequências com períodos muito ruins, mas, muito por conta de circunstâncias mitigantes, como a mudança frequente de sistema ofensivo, ainda mantinha algum crédito, tanto dentro da equipe quanto com a “opinião pública” da NFL.
Nesse ano, no entanto, as desculpas acabaram. Um começo de temporada sem brilho, com mais do mesmo da parte de Mariota, selou o destino do quarterback. A história de Marcus Mariota serve como um exemplo sobre os caminhos de um quarterback na NFL. No caso, uma história de ascensão e queda em que, na verdade, não houve ascensão, apenas queda. É sobre essa história que vamos nos debruçar hoje.
A dúvida irrelevante
O processo que antecedeu o draft de 2015 foi marcado pela continua discussão sobre quem era o melhor quarterback disponível. Naquele momento, a comparação entre Marcus Mariota e Jameis Winston era quase uma discussão filosófica sobre o que seria um quarterback. Enquanto Mariota era o exemplo do quarterback eficiente no futebol universitário, que distribuía bem a bola, com ritmo e precisão, Winston era o jogador de braço potente e alta variância, alternando lançamentos excelentes com passes inacreditavelmente ruins.
Cinco anos depois, esta discussão se tornou quase irrelevante. Os dois quarterbacks chegam em seus últimos anos de contrato com a quase certeza de trocarem de time ao término da temporada e, muito provavelmente, com seus dias como titulares perto do fim. No entanto, cabe ressaltar a dicotomia (muito comum em memes) entre expectativa e realidade. Jameis Winston tem sido, em seus anos como quarterback do Tampa Bay Buccaneers, um jogador com os mesmos defeitos que apresentou na universidade. Decisões ruins, alta variância em seus passes, resultando em inúmeras interceptações.
Já Mariota, no entanto, nunca se mostrou, na NFL, a eficiência demonstrada em Oregon. Sob o sistema criado originalmente por Chip Kelly, em um ataque que revolucionou o futebol universitário, Mariota distribuía com precisão a bola, dando espaço para seus alvos ganharem jardas após a recepção, além de correr ele mesmo com a bola, a partir de spread options. Entre os profissionais, no entanto, o que vimos de Mariota foi muito diferente. Um braço já não muito potente parece a cada dia mais fraco, associado a uma precisão intermediária abaixo do esperado, principalmente em passes verticais, para o meio do campo. Decisões ruins também se tornaram parte do dia a dia do quarterback, que já parece sem confiança. Como veremos a seguir, os Titans carregam alguma parcela de responsabilidade nessa involução.
A importância do encaixe
Obviamente isto não explica tudo o que envolve a queda de Marcus Mariota. Mas é fato que, em seus cinco anos como quarterback dos Titans, Mariota nunca foi colocado em uma posição que facilitasse seu sucesso. Primeiramente, em cinco anos na liga, Mariota teve cinco coordenadores ofensivos diferentes. Além disso, no período que deveria ser seu salto de desenvolvimento na NFL (seu segundo e terceiro anos na liga), Mariota precisou lidar com o “exotic smashmouth” de Mike Mularkey. Esse sistema, de formações fechadas e foco no jogo corrido de força, ia contra as melhores características de Mariota. Era como tentar encaixar uma peça quadrada em um buraco redondo. Apesar disso, a equipe foi aos playoffs, e Mariota liderou os Titans a uma vitória surpreendente diante do Kansas City Chiefs.
Em 2018, com a chegada do técnico Mike Vrabel e do coordenador Matt LaFleur, Marcus Mariota trocou novamente de sistema ofensivo. Quando parecia que o quarterback jogaria em um sistema mais favorável para suas características, uma contusão no nervo de seu braço direito limitou o desempenho do jogador, no que se converteu em mais um ano perdido. LaFleur saiu na intertemporada, assumindo o posto de técnico do Green Bay Packers, entrando em seu lugar Arthur Smith. E é neste contexto de instabilidade que Marcus Mariota vinha atuando em 2019. Claro que isso não muda o fato de que sua performance tem sido muito abaixo da esperada.
Mariota tem um rating de 89 em sua carreira, com um ANY/A de 6,11. Em 2019, o ANY/A é ainda pior, de 5,80. A performance justifica a decisão de Mike Vrabel de colocá-lo no banco, apesar das condições descritas acima. Assim, agora estamos falando de Mariota como um quarterback reserva na NFL.
Se houver amanhã
Marcus Mariota perdeu a posição de titular dos Titans para Ryan Tannehill. Além disso, o quarterback não tem contrato para 2020. A expectativa é que, no mercado da free agency, as oportunidades para o quarterback venham apenas como aberturas para ser um reserva experiente. Neste ponto, talvez o melhor cenário para Mariota seja o de ser reserva em uma equipe com titular veterano. Faz sentido pensar no encaixe de Mariota em uma equipe como o Green Bay Packers, com um titular veterano e que ainda tem como técnico o ex-coordenador ofensivo de Mariota, Matt LaFleur.
Qualquer que seja de fato o destino do quarterback, estamos falando de uma tentativa de reconstrução de sua carreira. Será que é possível nessa altura do campeonato? Pensar nisso é pensar, mais uma vez, no que faz o sucesso de um jogador na NFL.
