[dropcap size=big]A[/dropcap]inda faltam três jogos para a temporada regular acabar. Ainda assim, Saquon Barkley já possui quase todos os recordes que um calouro do New York Giants pode ter. A atuação de gala contra Washington ajudou o running back a pulverizar algumas marcas históricas da franquia, além de deixá-lo mais perto do improvável, mas não impossível, recorde de jardas de scrimmage por um calouro, estabelecido por Eric Dickerson em 1983.
Em seu primeiro ano na liga, Barkley deve ser eleito ao Pro Bowl, é o favorito ao prêmio de Calouro Ofensivo do Ano e com certeza está na disputa para ser escolhido All Pro. Mais do que isso, ele ressuscitou o jogo terrestre dos Giants, falecido desde a época de Ahmad Bradshaw e Brandon Jacobs, e rapidamente se tornou o protagonista de um ataque que já contava com Odell Beckham Jr.
Enfim, o impacto de Saquon foi gigantesco em 2018.
Se os Giants estão vivos até agora na briga pelos Playoffs, ainda que com chances remotas de pós-temporada, muito se deve ao seu excepcional running back, portanto selecioná-lo na segunda posição geral do último Draft tem se mostrado uma decisão excelente do ponto de vista técnico. Nesse sentido, a conta fecha: alta escolha, alta recompensa.
Entretanto, a controvérsia em relação à escolha de Barkley tão cedo no recrutamento não é tão simples assim e ainda está longe de acabar, pois, mesmo com números incríveis do calouro, a verdade é que New York não se tornou um time vitorioso em curto prazo por causa dele.
Inevitavelmente a mesma pergunta de seis meses atrás será refeita: valeu a pena pegar Barkley no Draft ao invés de um quarterback para o futuro? Agora é um bom momento para revisitar essa polêmica.
O caso a favor de Barkley: recordes e produção
New York trouxe Barkley com o objetivo de transformá-lo no ponto focal do ataque. Pois bem, ele é responsável por 1.753 das 4.943 jardas totais do time, o que dá um percentual pouco acima de 35,5%. Quer outra estatística a respeito da “Barkleydependência”?
Saquon lidera a franquia em tentativas de corrida (209) e passes recebidos (78), com uma recepção a mais do que, nada mais, nada menos, que Beckham Jr. Ele também é responsável direto pelo maior número de touchdowns do time (13).
Sob o aspecto da produção, não há dúvida que a aposta dos Giants se pagou. Saquon deu vida nova ao ataque e tirou a pressão de Eli Manning e Beckham Jr. Se pensarmos que, no geral, o ataque da equipe não foi lá essas coisas durante boa parte do ano, com exceção das últimas três ou quatro semanas, fica ainda mais evidente o buraco em que New York estaria se não fosse o calouro.
Olhando para os recordes estabelecidos, a temporada é ainda mais impressionante. Contra Washington, Barkley tornou-se o primeiro calouro da história da franquia a correr mais de 1000 jardas – e o primeiro running back dos Giants a atingir a marca desde 2012. Ademais, quebrou o recorde da franquia de touchdowns por um calouro, superando os 12 estabelecidos por Beckham Jr. e Bill Paschal.
Saquon acumula outras marcas de cair o queixo. Por exemplo, ele se juntou a Randy Moss como os únicos de todos os tempos a conseguirem cinco touchdowns de mais de 50 jardas em suas temporadas de estreia na NFL. Também somou mais de 100 jardas de scrimmage em 12 das suas 13 partidas de 2018. O recorde para um calouro é de 13 jogos e pertence a Eric Dickerson. E por falar em Dickerson, ele é o dono do recorde de mais jardas de scrimmage por um rookie (2.212). É difícil que Barkley quebre a marca, mas ele deve chegar bem perto.
O running back também acumula vários outros números interessantes dentro da franquia, competindo diretamente com os recordes estabelecidos por Tiki Barber na década passada. Quem quiser mais detalhes, pode conferir aqui um compilado feito diretamente pelo site dos Giants. O principal, porém, é ter em mente que Barkley em tão pouco tempo já se tornou um jogador tão importante.
O caso contra: o principal objetivo não foi atingido
Ao draftar um running back com a segunda escolha geral e ignorar uma das melhores classes de quarterbacks dos últimos tempos, New York deu um recado claro: queremos aproveitar os últimos momentos da janela com Eli Manning e vencer agora. É mais ou menos o que o Dallas Cowboys fez com a escolha de Ezekiel Elliott: o objetivo era aproveitar a linha ofensiva top de linha e Tony Romo como quarterback em potencial último ano de carreira.
O plano aqui, tal como em Dallas, era um absoluto “win now”. Bem, não deu certo, afinal a equipe possivelmente nem aos Playoffs irá – precisa vencer os três jogos que restam e torcer por várias combinações de resultados.
O objetivo de transformar Barkley no ponto focal do ataque foi um sucesso, mas o objetivo de vencer apoiado no seu talento não. É claro que a culpa não é do calouro. Apesar de ter estatísticas decentes, Eli não atuou bem a maior parte do ano. A linha ofensiva foi um desastre, permitindo que Manning fosse sackado um número recorde de vezes na carreira (43 e contando). Do outro lado da bola, a defesa também não foi nada demais.
Os Giants eram um time inconsistente, com uma comissão técnica toda reformulada e vindo de uma temporada 3-13. Eles simplesmente foram megalomaníacos ao acreditarem que apenas Barkley seria o suficiente para uma mudança radical de patamar. Um running back de elite, hoje em dia, costuma ser a cereja do bolo e não o bolo inteiro.
Valeu a pena ou não?
O problema de Barkley no topo da primeira rodada nunca foi a sua qualidade, mas sim seu valor como running back. Antes mesmo do Draft escrevemos um texto sobre as desvantagens de escolher um corredor tão cedo: uma mistura de custo-benefício baixo, possível pouca durabilidade e oferta de talento similar em rodadas mais baixas.
Um exemplo clássico das aulas de microeconomia se aplica aqui. “Se um país escolhe investir em defesa militar (armas), terá menos dinheiro para investir em bens de consumo (manteiga)”. No caso, se você investir num running back no topo do Draft, não poderá investir num quarterback com potencial de elite. Ao mesmo tempo, a diferença de talento de um running back de início de Draft para um running back de final de draft é bem menor que a diferença na posição de quarterback.
Bem, os Giants seguiram o oposto disso. Apostaram, em escolhas altas, nos running backs – e, em escolhas baixas, em quarterbacks. Respectivamente, Saquon Barkley (1ª rodada) & Kyle Lauletta(4ª rodada)/Davis Webb (3ª rodada).
O exemplo de Phillip Lindsay joga contra Barkley. Lindsay não foi nem draftado pelos Broncos e vem tendo uma temporada de calouro sensacional. Ele é talentoso igual Saquon? Não, mas produz em alto nível por um custo de salário e capital no Draft infinitamente menor. Obviamente, não é todo dia que alguém tão bom é encontrado entre os free agents não-draftados, mas já cansamos de ver running backs excelentes escolhidos no segundo ou terceiro dia de recrutamento. Alvin Kamara e o agora suspenso Kareem Hunt são os dois exemplos mais notáveis.
No caso dos Giants, porém, a situação foi mais crítica pelo contexto.
Eli está nos momentos finais da carreira e não vem jogando bem há algum tempo. Muitos apostavam que era a hora de encontrar seu sucessor no Draft e a franquia teve a chance com Sam Darnold e Josh Rosen disponíveis – certo, Josh Allen também era uma opção, antes que alguém venha reclamar. Isso implicaria, basicamente, na franquia abdicar do sucesso em curto prazo e se preparar para o futuro – como bem sabemos, o plano foi exatamente o contrário.
Agora, recapitulada a temporada de Barkley e explicado o contexto da equipe, não vamos ficar em cima do muro na hora de responder a questão que motivou este texto. Valeu a pena selecionar Saquon com a segunda escolha geral? É simples: enquanto a sua produção não se converter em vitórias e vaga nos Playoffs, infelizmente não. Essa foi a motivação para a escolha, logo as críticas precisam ser feitas se os resultados não são atingidos. Sim, é uma cobrança pesada, mas é isso o que se espera de um running back escolhido no top 5.
Veja bem, tomamos todo o cuidado para deixar claro que o problema não é com Barkley. Ele é incrível, empolgante e merece todos os elogios que recebe. Tudo, porém, gira em torno do valor da escolha. Saquon não transformou New York em um time de Playoffs como a franquia imaginava. Nesse sentido, a seleção de Ezekiel Elliott foi muito mais valiosa. Sem querer entrar no mérito de quem é melhor ou pior, mas Zeke foi um encaixe perfeito em um bom time dos Cowboys que terminou 13-3 em 2016. Em outras palavras, Elliott foi um luxo que fazia sentido no contexto vivido por Dallas. No contexto de Nova York, não fez e não faz.
A discussão, contudo, está longe de acabar – na verdade, ela deve durar uns bons anos. Comparar Barkley com Darnold, Rosen ou Allen, hoje, seria injusto para todas as partes. O trio de quarterbacks teve temporadas bastante discretas, mas convenhamos: Cardinals e Bills possuem times e comissões técnicas fraquíssimas. Se Rosen ou Allen se destacassem logo de cara na bagunça que são essas equipes, eles seriam dois gênios. Darnold, por sua vez, também não encontrou uma situação muito melhor no lado verde de Nova York.
Por outro lado, pode ser que a melhora geral no ataque dos Giants nas últimas partidas seja a tendência daqui para frente. Quem sabe se o time não voltará um pouco mais competitivo em 2019, ainda com Manning como titular porque é a única opção possível, e com Barkley voando? Nesse caso, a opinião sobre a escolha mudaria, sobretudo se os quarterbacks não aumentarem de rendimento.
Ainda é muito cedo para tirarmos conclusões definitivas sobre o Draft de 2018, então é preciso ter calma nas análises em longo prazo. Em todo caso, o veredito parcial sobre Barkley é este: um ótimo retorno dentro de campo, mas sem o efeito pretendido pela franquia até agora. New York precisará encontrar uma maneira de fazer o grande investimento feito em Saquon dar resultado na próxima temporada, caso contrário a atual filosofia “win now” será um fiasco ainda maior.
Comentários? Feedback? Siga-me no Twitter em @MoralezPFB, ou nosso site em @profootballbr e curta-nos no Facebook.
Exclusivo de nossos assinantes – assine agora com 30% de desconto
🏈 PRO! | Mahomes segue genial, mas os Chiefs precisam consertar sua defesa
🏈 PRO! | Como os Bears subiram de possível surpresa para uma das potências da NFC
🏈 PRO! | Derrota confirma que a linha ofensiva ainda é o Calcanhar de Aquiles do Houston Texans
🏈 PRO! | Derrota confirma que a linha ofensiva ainda é o Calcanhar de Aquiles do Houston Texans
🏈 PRO! | Amari Cooper: a aposta alta e vencedora do Dallas Cowboys
🏈 PRO! | Análise Tática: A surpreendente temporada do Houston Texans






