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Adrian Peterson, 2012: O último não-quarterback a ganhar o MVP

Quem viu o corredor do Minnesota Vikings em 2012 viu uma temporada individual mais que espetacular e um recorde histórico que ficou extremamente perto de ser superado - e que rendeu a Peterson o prêmio de MVP.

Pra quem não viu Adrian Peterson jogar durante o seu auge, fica difícil fazer uma comparação com jogadores atuais da liga porque ele era superior a qualquer um dos que hoje estão na NFL. Peterson merece ser comparado com os melhores da história da posição e qualquer top 10 de running backs que não o envolva precisa ser questionado, porque seus primeiros anos no Minnesota Vikings justificam todo e qualquer elogio.

Ele também detém há mais de dez anos o atual cinturão de último não-quarterback a vencer o prêmio de MVP da liga, quebrando uma sequência anterior de cinco vencedores da posição. A ótima carreira teve momentos mais do que especiais e uma porção de prêmios individuais, porém nenhum ano foi tão bom para Peterson quanto a temporada de 2012.

Correndo atrás do recorde

É preciso dar o contexto da situação do Minnesota Vikings antes de falar individualmente do running back. Os Vikings vinham de uma temporada terrível onde venceram apenas três jogos e enfrentaram um período de reconstrução intenso, com vários veteranos de longa data deixando a organização e uma escolha de top 5 do Draft, além da franquia se planejar para a construção de um novo estádio (o atual U.S. Bank Stadium). Não fazia muito tempo que o time tinha perdido o quarterback Brett Favre para a aposentadoria, e o experimento Donovan McNabb não deu certo, com Christian Ponder (#12 no Draft de 2011) assumindo a titularidade.

Tudo isso importa porque os Vikings não eram exatamente um time forte e ameaçador na época, e duas coisas eram verdade: os running backs eram muito mais valorizados e as defesas estavam começando um processo de transição contra as spread offenses, mas ainda víamos times lotando box para parar o jogo terrestre com frequência. O resumo de tudo isso é que era bem óbvio que o ponto focal do ataque de Minnesota ia ser Peterson, que entrava na temporada 2012 com cinco anos de bagagem na liga.

E ah, detalhe também importante: em dezembro de 2011, já com a temporada dos Vikings mais que encerrada, Peterson sofreu uma lesão no joelho que lhe forçou a operar o ligamento cruzado anterior, o famoso ACL, e o ligamento colateral medial, conhecido como MCL. Running backs voltando de lesão no joelho é sempre preocupante.

Mas não em 2012.

Nove meses depois da sua grave lesão no joelho, Peterson começou a temporada na primeira semana contra o Jacksonville Jaguars com dois touchdowns e 84 jardas. O primeiro jogo com dígitos triplos rolou apenas na semana 4, com 102 jardas contra o Detroit Lions, e só veio rolar de novo na semana 7 contra o Arizona Cardinals.

Naqueles primeiros seis jogos de 2012, ele acumulou 499 jardas por terra. A média de 4.4 jardas por carregada é boa, mas longe de espetacular e abaixo da média de 4.8 jardas que ele acumulou nos primeiros cinco anos de carreira. Na semana 7, começou uma das mais impressionantes sequências por um running back que a liga já viu.

Uma pequena tabelinha rápida feita no Google Docs para você entender, por meio das estatísticas, o quão absurdo foi o desempenho de Peterson em 2012 a partir daquele momento:

E não foi contra qualquer defesa. Em 2012, usando a métrica DVOA, o Football Outsiders coloca tanto Buccaneers quanto Bears como duas das três melhores defesas contra o jogo terrestre em toda a liga. Os Packers, que Peterson obliterou, estavam levemente acima da média. Os Rams? top 8. Seahawks? Top 10.

E você acha que a linha ofensiva dos Vikings era coisa de outro mundo? O Adjusted Line Yards, uma métrica avançada também do Football Outsiders, colocou-a em 10º naquela temporada. O jogo aéreo abria espaços? Que nada – o quarterback era Christian Ponder e ele teve apenas 18 touchdowns naquele ano, com 12 interceptações.

Foi tudo Peterson. Simples assim.

Recordes individuais de Peterson

Obviamente, muita coisa aconteceu com Peterson individualmente e uma porção de recordes foram quebrados. O prêmio de MVP veio acompanhado do prêmio de Jogador Ofensivo do Ano, além das indicações óbvias ao First-Team All-Pro e ao Pro Bowl.

A sequência de jogos também rendeu premiações. As 861 jardas terrestres no mês de dezembro/12 são o recorde de mais jardas terrestres num mês na história da liga; ele foi o segundo jogador na história a correr para ao menos 150 jardas em 7 jogos durante uma única temporada (Earl Campbell, 1980, foi o outro). Também se tornou o sétimo jogador na história da NFL a ultrapassar as 2,000 jardas terrestres num único ano. Foram mais de 1,000 jardas após o primeiro contato.

Um adendo: voltando de uma temporada com lesões graves no joelho. Você acha que ele ganhou o prêmio de Comeback Player of the Year? Acredite se quiser – ele ficou em segundo. Peyton Manning, voltando de grave lesão no pescoço e em sua primeira temporada com o Denver Broncos, foi quem conquistou o prêmio.

“Nine yards what?”

Agora voltamos para o Minnesota Vikings.

Obviamente existia a expectativa de Peterson ultrapassar Eric Dickerson (2,105) e se tornar o jogador com mais jardas terrestres em uma única temporada da liga, só que pra isso ele precisava de ao menos 208 contra o Green Bay Packers na semana 17. Esse jogo também era muitíssimo importante para o time no geral, que tinha uma campanha 9-6 e precisava vencer para se classificar aos playoffs (o Chicago Bears, na mesma divisão, também tinha 9-6 e ficava atrás pelos critérios de desempate.

Se teve uma coisa que Minnesota fez naquela partida foi dar a bola para Peterson. Foram 34 carregadas, o máximo que ele teve naquela temporada. Só na campanha final, com o jogo empatado em 34 a 34, ele adicionou 36 para a lista e teve a chance: bola na linha de 12 jardas, faltavam 9 para o recorde. Que recorde, que nada – os Vikings não pensaram duas vezes: chutaram o field goal da vitória e garantiram a ida aos playoffs. Peterson encerrou aquela temporada regular com 2,097 jardas terrestres.

A coisa mais legal daquele fim foi na entrevista pós-jogo com Pam Oliver. Claramente extasiado pela vitória e pela classificação, a repórter da Fox aponta que só faltaram nove jardas (para o recorde). A resposta de Peterson mostra que o recorde estava longe de ser o seu foco naquele dia (é preciso clicar no vídeo para assistir no YouTube)

“Nine yards what?”

Enfim, a história feliz acaba aqui porque seis depois os Vikings jogaram novamente contra o Green Bay Packers, só que sem o quarterback titular Christian Ponder, que estava com o cotovelo podre e sem a menor condição de jogo – ruim com ele, muito pior sem ele. O reserva Joe Webb era tenebroso, e Minnesota não teve a menor chance contra Aaron Rodgers e seus amigos naquele dia.

É possível que Peterson e Dickerson sejam superados algum dia? Completamente. Recordes existem para serem quebrados. Só é importante notar que as duas marcas de ambos foram conquistadas em temporadas com 16 jogos, e atualmente a NFL tem um jogo a mais no calendário – Derrick Henry chegou bem perto em 2020. Ainda que o ano tenha acabado de forma melancólica, é válido apreciar o que foi uma das melhores temporadas individuais da história da liga.

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