Análise Tática: Como Frank Reich fez Andrew Luck reencontrar seu melhor futebol americano

[dropcap size=big]N[/dropcap]a prorrogação de uma partida contra os rivais do Houston Texans na Semana 4, Frank Reich tentou converter uma quarta descida para 4 jardas, dentro da marca de 43 jardas do próprio campo. Para tristeza do torcedor do Indianapolis Colts, o resultado foi um passe incompleto para Chester Rodgers, e, três jogadas depois, Ka’imi Fairbairn anotaria um field goal de 37 jardas para selar a vitória – a primeira da sequência de nove para o time do Texas, que se encerraria, curiosamente, contra os próprios Colts.

A ousada decisão de Frank Reich, calouro no seu cargo, abriu as portas para uma enxurrada de críticas.

O próprio Rex Ryan, cuja passagem recente como head coach não foi exatamente um primor, carinhosamente chamou a decisão de “a coisa mais burra que eu já vi”.  Foi mais um questionamento acerca da temporada do time de Indianapolis, tendo em vista que, na semana anterior, Jacoby Brissett entrara nos finalmentes da partida contra o Philadelphia Eagles para lançar o hail mary — o que gerou dúvidas sobre o quão curado estava o ombro de Andrew Luck.

Só que a decisão de Reich contra os Texans na Semana 4, tal como as tentativas de conversão de quarta descida contra o Jacksonville Jaguars, são apenas manifestações de uma nova cultura que se instaura no Indianapolis Colts; cultura essa extremamente bem-vinda e redentora depois de anos frustrantes de Chuck Pagano nas sidelines e Ryan Grigson no front office.

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[dropcap size=big]A[/dropcap]ntes de mais nada, é importante apontar que esse texto, inicialmente, seria dedicado à volta por cima de Andrew Luck. Depois de temporadas de ausência que colocaram uma nuvem carregada sobre a carreira do quarterback, vemos em 2018, semana após semana, a recuperação fantástica do camisa 12.

Acontece que esse sucesso é indissociável dos novos ares que sopram em Indianapolis. Com o general manager Chris Ballard no cargo desde 2017, a contratação de Frank Reich se mostra a decisão mais acertada para a o time como um todo – o resultado tem sido a potencialização do talento e das capacidades do rosto da franquia.

Já no seu sétimo ano como profissional, Andrew Luck sempre teve o peso de ser “o melhor prospecto de quarterback avaliado desde Peyton Manning”. E, sejamos justos, ele mostrou ter todos os atributos para tal na NFL; capacidade de processamento e leitura, braço para fazer todos os lançamentos e lançar sem uma base sólida (eu sei que você se lembra desse passe incrível contra o Cincinnati Bengals). Acontece que Luck precisava ser um salvador partida sim, partida também.

A comissão técnica de outrora era ineficiente em maximizar os atributos do seu quarterback; do lado defensivo, não havia talento para permitir um equilíbrio ofensivo; do lado ofensivo, uma dificuldade avassaladora de ajustar o time no intervalo, deixando nas mãos do camisa 12 fugir dos rushers que faziam da linha ofensiva uma gigante catraca de metrô.  Em 2016, foram 41 sacks em 15 partidas; em 2018, o time está no caminho para 20; isso sem falar nos hits gerados pela simples tentativa de escapar de um pocket em colapso.



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Agora, Andrew Luck está com Frank Reich. O head coach, oriundo do campeão do Super Bowl LII Philadelphia Eagles, trouxe uma mudança cultural mister para o novo Andrew Luck que estamos testemunhando.

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[dropcap size=big]Q[/dropcap]uando vemos a tríade ofensiva que ajudou a levar o Vince Lombardi pela primeira vez para o Lincoln Financial Field, chega a ser curioso que, há meros 10 meses atrás, eles estavam comemorando uma vitória histórica contra o New England Patriots.

Doug Pederson, head coach, tem sofrido para encontrar a estabilidade que tinha em 2017. Lesões em todos os setores da equipe, Carson Wentz tendo que achar o ritmo durante a temporada regular; fatores que colocaram os defensores do Super Bowl em dificílima posição para uma pós-temporada. John DeFilippo,  treinador de quarterbacks em 2017 e coordenador ofensivo do Minnesota Vikings até a última terça-feira, viu sua carta de demissão entregue após uma perfomance ofensiva pífia contra o Seattle Seahawks no Monday Night Football.

Frank Reich, ex-coordenador ofensivo dos Eagles, surfa na onda de uma campanha 7-6, atual 7º seed da AFC, e firmes na briga bela cobiçada última vaga de wild card. Há quem diga que a decisão de Reich na Semana 4 pode ser o fator determinante na disputa; e isso lá pode ser verdade. Acontece que essa decisão é parte da cultura que tem feito tão bem ao Indianapolis Colts. No seu primeiro ano, temporada na qual o time ainda está se formando e com possibilidades pequenas de uma corrida longa dentro dos playoffs, a decisão diz mais sobre o time que Frank Reich quer que eles sejam. 

head coach traz, na sua modernidade e entendimento ofensivo do futebol americano profissional, o alento que Andrew Luck precisava para desabrochar no quarterback que era projetado lá atrás, nos seus tempos de Stanford de Jim Harbaugh.

Quando vemos as chamadas e o design ofensivo de Frank Reich, vemos como ele desonera o signal caller, como ele permite leituras eficientes e rápidas. Luck, mesmo que esteja defendido hoje por uma linha ofensiva qualificada, goza das mesmas benesses que, digamos, Drew Brees; ele consegue soltar a bola rapidamente, aliviando a pressão do pass protection e evitando hits desnecessários.

Só para não deixar esse momento ilustrativo passar batido, a primeiríssima jogada do primeiro drive da partida contra o Houston Texans, na Semana 14, mostra como o trabalho de Luck é facilitado pelo desenho ofensivo. Ele lê Eric Ebron no flat, T.Y. Hilton na out e Chester Rodgers sentado no meio como terceira leitura em pouquíssimos segundos.

Frank Reich também tem mostrado um sublime arsenal de jogadas a partir de packages mais pesados. Nos acostumamos  a ver nessa temporada Jack Doyle (agora lesionado, infelizmente), Eric Ebron e Mo Alie-Cox (que também tem lidado com lesões) atacando coberturas em formações atípicas numa NFL dominada pelo 11 personnel.

Nessa mesma partida, temos uma formação ofensiva com seis offensive lineman e um tight end, Ryan Hewitt. Com potenciais sete bloqueadores, Houston precisa levar em consideração a ameaça do jogo terrestre. O play action prende o front seven e Tyrann Mathieu; quando o safety ex-Cardinal vira para acompanhar T.Y. Hilton, o wide receiver está no meio do seu double move para fora, logo antes de entrar na post. Assim Mathieu olha novamente para Luck e o desenvolvimento da jogada, e já está fora de posição para alcançar Hilton, que já bateu Justin Reid na rota.

Reparem, mais do que isso, na rota do wide receiver mais externo do lado esquerdo da formação. Ele vende perfeitamente sua rota cortando para fora, deslocando o cornerback e ajudando T.Y. Hilton a vender a corner route — fazendo com que Reid e Mathieu mordam a isca antes de Hilton fintar para dentro em diagonal. É um desenho ofensivo executado à perfeição, mostrando todos em perfeita sincronia e resultando num ganho de  60 jardas.

O trabalho de Frank Reich utilizando formações mais fechadas em relação ao que estamos nos acostumando numa NFL dominada por spread offenses é bem sucedida pois ele incorpora a modernidade e o entendimento ofensivo dentro de escolhas de personnel menos comuns. Ele não está colocando três tight ends para que eles, de forma truculenta, abram espaço para o jogo terrestre à la o plano de Mike Mularkey no Tennessee Titans de 2017; ele utiliza esses packages para criar dúvidas nas defesas, facilitar as leituras para Andrew Luck da mesma forma que Sean McVay faz com seu tarimbado 11 personnel.

Dessa química crescente entre Andrew Luck, Frank Reich e os demais skill players permite-se que o camisa 12 esteja vivendo sua melhor temporada; estabilidade, inteligência e suporte dentro e fora de campo são o pavimento do futuro próximo do Indianapolis Colts.

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[dropcap size=big]A[/dropcap]pesar da boa temporada, é importante mencionar que o trabalho ainda está no seu começo. Frank Reich está ainda estabelecendo sua cultura e filosofia ofensiva em Indianapolis. A classe de 2018 tem sido fundamental do lado defensivo da bola — o trabalho do coordenador defensivo Matt Eberflus precisa ser exaltado. Afinal, não é fácil marcar DeAndre Hopkins; colocando um linebacker calouro para fazê-lo, então, nem se fala. Só que quando o passe não é completo, vemos do outro lado da bola, a consolidação de um futuro promissor; a confiança do técnico em seus jogadores e dos atletas nas atribuições feitas pelos técnicos.

Por mais que o Indianapolis Colts esteja na briga pela pós-temporada já em 2018, é seguro dizer que o time ainda tem peças a trazer – o salary cap da franquia é tentador para free agents que buscam novos lares em 2019 – para se tornar uma verdadeira força na AFC. Andrew Luck é o pilar disso tudo, e, possivelmente pela primeira vez na carreira, ele tem um front office e uma comissão técnica que sabem disso.



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Lá na frente, , caso o que vemos em 2018 germine e se torne o terceiro Vince Lombardi dos Colts no futuro próximo, talvez lembraremos da decisão de ir para a quarta descida na Semana 4 contra o Houston Texans como o momento no qual a semente de uma nova cultura foi plantada.

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