Análise Tática: Os Chargers e a nova era defensiva na NFL

Numa NFL cada vez mais complexa no lado ofensivo da bola, com tanta velocidade e esquemas que favorecem a criação de vantagens para o ataque, é óbvio que os coordenadores defensivos precisam inovar e encontrar alternativas que combatam a explosão de pontos que toma conta da liga.

Um dos principais fatores de desequilíbrio atual é a velocidade. Com jogadores cada vez mais velozes espalhando o campo, é preciso contra atacar da mesma forma.Um exemplo claro disso foi o embate entre Baltimore Ravens e Los Angeles Chargers, pelo wild card da AFC. Com Lamar Jackson e seu atleticismo, os Ravens rodavam um sistema repleto de corridas que se dividiam entre seu quarterback e os running backs. Além disso, havia a necessidade de não se descuidar do jogo aéreo, erro muito comum quando times tentam defender adversários que predominante atacam pelo chão, gerando espaços em profundidade que resultam em jogadas de muitas jardas.

Lamar terminou o jogo com 54 jardas corridas em nove tentativas. Descontando dois bons scrambles em que ganhou 19 e 17 jardas, podemos dizer que Lamar ficou bem contido, com média de aproximadamente 2,5 jardas por tentativa. Os running backs Gus Edwards e Kenneth Dixon tiveram média de 2,9 e 2,2 jardas por tentativa e maior corrida de um deles foi de 5 jardas. Um excelente trabalho, que obrigou os Ravens a colocarem em descidas longas, descaracterizando seu plano de jogo.

Com a obrigação de fazer passes longos em situações óbvias de passe e dando tempo para o pass rush para se desenvolver, os Ravens pouco conseguiram ser efetivos nos três primeiros quartos, tendo pouco mais de 30 jardas aéreas e sofrendo quatro sacks.

Somente no último período, com o ajuste das chamadas de passe (especialmente nos primeiros dois downs), o time conseguiu aproximadamente 160 jardas. Mas a desvantagem já era 20 pontos no placar e não houve tempo hábil para se buscar o placar.

O que os Chargers fizeram de especial?

A fórmula usada pelos Chargers é uma que deve ser tônica da NFL nos próximos anos: múltiplos defensive backs em campo em substituição a alguns linebackers e homens de linha defensiva. Cada vez mais, os jogadores da posição se tornam híbridos com as demais posições da defesa.

Derwin James, novato escolhido pelos Chargers no último draft é a personificação disso. Safety de origem, ele executa a tradicional função no fundo do campo, cobrindo grande espaço do campo. Mas, além disso, atua dentro do box quando a desenvoltura de um linebacker tradicional; tem velocidade e técnica suficiente para atuar em alguns snaps como nickel corner e cobrir wide receivers; e ainda é utilizado em blitzes como pass rush.

Para se ter ideia de sua versatilidade foram 105 tackles, três sacks, 13 passes desviados e três interceptações na temporada. Mostra bem sua desenvoltura em todas as fases da defesa. Minkah Fitzpatrick, também escolhido no primeiro round pelos Dolphins, é um jogador no mesmo estilo e que comprova ainda mais a teoria.

Ficando em campo quase o jogo todo com sete defensive backs, o time de Los Angeles conseguiu minimizar os estragos causados por Lamar, o fazendo não conseguir ganhar aceleração. Com velocidade plena Lamar é um jogador muito difícil de ser parado, além de ter uma grande capacidade de executar cortes. Outro fator importante é capacidade atlética e a disciplina dos edges contendo a lateral; com isso o quarterback é obrigado a desacelerar e titubeia entre buscar a lateral ou o meio do campo.Quando Lamar decide ficar com a bola (erroneamente), Joey Bosa faz um excelente trabalho contendo a lateral e o fazendo reduzir a velocidade. Esse tempo é o suficiente para Derwin James se desvencilhar do bloqueio na lateral e avançar para finalizar a jogada.

É importante notar que conseguisse cortar para dentro, o restante da defesa já havia fechado o meio e possivelmente não haveria maior avanço.

No jogo aéreo esse dinamismo também é diferencial. Com jogadores mais velozes e ágeis, fica mais cobrir um espaço maior do campo e consequentemente ficar menos exposto em qualquer fase do campo.

Para isso, precisam evoluir nos aspectos contra o jogo corrido por estarem mais próximos por estarem mais próximos da linha de scrimmage , mas também em fatores importantes como mudança de direção e o famoso “ball skills” (habilidade em conseguir recuperar a bola no ar, com bom radar e uso eficiente das mãos).Podemos notar isso quando vemos o safety Adrian Phillips alinhado no meio do campo, na posição normal de um inside linebacker.

Quando o cornerback Desmond King consegue desviar o passe de Lamar, Phillips está dropando para cobrir uma zona funda e consegue a interceptação. Muito provavelmente se tivéssemos um linebacker na posição, possivelmente ele não teria recuado tanto e sua chance de conseguir o turnover seria menor.

Podemos notar o mesmo Phillips (31) operando novamente na função natural de um linebacker interno, mas desta vez contra o jogo corrido. Notemos como ele se ajusta a movimentação no backfield antes do snap, identificando alguma tendência de corrida do adversário. Quando a jogada começa, ele identifica rapidamente a corrida.

Mas o mais importante foi seu entendimento do sistema de bloqueios; ao notar o trap do guard da esquerda para direita, ele sabe que será uma corrida por ali e se mantém na direção certa. Com isso, ele já está preparado para o bloqueador chegando de frente e avança com cautela, evitando ser pego de encontro. Quando o bloqueador chega nele, há espaço para que ele execute o sprawl (técnica em que ele joga o corpo para trás evitando a pancada). Com isso, ele consegue ocupar o gap e evitar a corrida.

Draftando jogadores versáteis como Derwin James, Kyzir White e Uchenna Nwosu no último ano, os Chargers se mostraram atentos as novas tendências do jogo e de que como a NFL se comportará nos próximos anos. O próximo passo é a modernização dos linebackers, que também se tornarão mais parecidos com os jogadores de secundária. Roquan Smith, Darius Leonard e Leighton Vander Esch são linebackers novatos que confirmam essa tendência e os principais nomes para os próximos anos como Devin White, Mack Wilson, Paddy Fisher e Devin Bush são jogadores muito mais velozes que os tradicionais linebackers dos esquemas antigos. A necessidade cria novas tendências e os Chargers estão na vanguarda. Não se espante se isso se refletir no final de semana, com o time tirando vantagem desta versatilidade contra os Patriots em Foxboro, criando muitos problemas para Tom Brady e seu sistema ofensivo.

Deivis Chiodini é nosso especialista em análise tática e co-criador do On The Clock, site especializado em draft. O OTC é o site brasileiro com todas as informações sobre o NFL draft. Todos os dias com conteúdo sobre os prospectos com análises profundas. Acesse em OnTheClock.com.br e siga o Deivis em @deivischiodini no Twitter.

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