Análise Tática: Brady sem Gronkowski: como vai funcionar?

O quarterback mais vitorioso da história terá de atuar sem sua principal arma ofensiva pela primeira temporada desde 2009

O ano de 2019 começará com uma grande ausência para Tom Brady e o New England Patriots: pela primeira vez em dez anos o time não terá Rob Gronkowski no ataque, já que o tight end se aposentou no último mês de março. Mais do que suprir sua produção, os Patriots terão de se adaptar a uma vida sem um jogador cuja simples presença em campo gerava uma grande quantidade de mismatches; não importa que ele já não estivesse em seu auge em 2018: se você era um coordenador defensivo, você tinha de respeitar e se preparar para como defender Gronkowski, e quando um jogador como ele se aposenta, o ataque como um todo sofre de várias maneiras

Desde a aposentadoria do jogador, os Patriots investiram para evoluir seu grupo de skill players, seja na free agency, seja no Draft. A escolha de primeira rodada foi no recebedor N’Keal Harry; do mercado, vieram Demaryius Thomas e Benjamin Watson. Além disso, Damien Harris foi selecionado na terceira rodada. É óbvio que, apesar disso, não se pode suprir a presença de um jogador como Gronkowski: você pode minimizar a lacuna, mas jamais preenchê-la por completo.

Por sorte, a filosofia ofensiva da última temporada já previa uma aproximação mais conservadora, menos vertical/agressiva. Por exemplo, em 2018, segundo a ferramenta Next Gen Stats, da NFL, vimos os passes de Brady viajarem em média 7.7 jardas no ar, apenas a 24ª maior marca da liga; em contrapartida, em 2017, esse número foi de 9.0 jardas a cada passe, a 12ª maior. Outra métrica avançada que representa esse conservadorismo é demonstrada pelo Player Profiler, que aponta 69 passes longos de Brady no último ano, a 11ª maior marca da NFL; no ano anterior, foram 86, a terceira maior.

Sabendo que, além da aposentadoria de Gronkowski, a idade de Brady está mais do que avançada, provavelmente veremos um New England Patriots dando mais valor ao jogo terrestre do que nos últimos anos. Nas cinco partidas da última temporada, por exemplo, os Patriots superaram as 130 jardas terrestres em todos os confrontos – incluindo o Super Bowl. As 273 jardas contra o Buffalo Bills, na semana 16, foram a maior marca da temporada para o time.

Uma das formas que os Patriots amenizarão a ausência de seu tight end será com os passes para seus corredores, arma que já é bastante utilizada no ataque da equipe há alguns anos. No entanto, vimos em 2018 o running back James White ser direcionado em incríveis 123 passes, e sua efetividade recebendo a bola não pode ser questionada.

Nesse exemplo, contra o New York Jets na semana 17, ele tem um confronto direto contra um linebacker realizando uma rota Angle/Texas (ambas as denominações estão corretas). Com os Patriots em um alinhamento 3×1 com trips (três recebedores em linha) na esquerda, assim que White realiza o corte para o meio do campo, ele tem espaço livre para correr até a end zone e anotar o primeiro touchdown de New England naquela partida.

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White não só apenas é um bom corredor (4.5 jardas por carregada em 2018): ele também pode ser utilizado de diversas formas como recebedor, seja em rotas wheel, na supracitada angle ou até mesmo em screen passes. Neste exemplo, contra o Jacksonville Jaguars, na semana 2 da última temporada, note como ele consegue um excelente ganho após quebrar o tackle do linebacker adversário que diagnosticou a jogada – e mesmo assim não conseguiu evitar que os Patriots avançassem.

https://twitter.com/henrique_bulio/status/1162079756952756225

Para a sorte do New England Patriots, uma notícia excelente chegou à organização na última sexta-feira (16/08): o recebedor Josh Gordon foi reintegrado pela liga em base condicional, permitindo que ele retorne a equipe para a temporada regular. Ter de volta um jogador com o talento de Gordon é um aditivo imenso para qualquer equipe, ainda mais em um time que possui um grupo de recebedores suspeito.

Gordon é um recebedor imensamente talentoso, e antes de ser novamente suspenso pela liga após uma recaída no fim da última temporada, ele estava a caminho de ultrapassar as 1000 jardas recebidas, sendo o principal recebedor de Tom Brady pelo lado de fora – e definitivamente a principal opção caso o quarterback queira atacar as defesas de forma mais profunda.

Nessa jogada, na semana 7 contra o Chicago Bears, os donos da casa estão alinhados com apenas um safety no fundo do campo, de modo que o cornerback responsável por marcar Gordon precisa respeitar a vantagem física que o recebedor impõe. Dessa forma, Josh tem um caminho muito fácil para fazer a recepção assim que corta para o meio do campo, quase anotando o touchdown.

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Nessa jogada contra o Indianapolis Colts, na semana 5, você pode observar como Gordon vence sua marcação pura e simplesmente por conta de seu porte físico. A linha ofensiva faz um trabalho fantástico protegendo Brady e permitindo que ele consiga liderar seu recebedor aonde o passe será lançado, mas a recepção sobre a cobertura dupla é totalmente mérito de Josh.

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Por fim, não há como falar sobre Tom Brady nos últimos dez anos sem falar sobre aquele que foi uma das armas mais confiáveis em todo esse tempo. Seja como o principal recebedor ou seja como o segundo, o impacto de Julian Edelman como recebedor não pode jamais ser ignorado – assim como Gordon, se ele tivesse atuado a temporada inteira, teria alcançado as 1000 jardas; Edelman perdeu os quatro primeiros jogos dos Patriots por conta de uma suspensão.

Diferente de Gordon, cuja vantagem sobre seus marcadores é mais evidente na questão física e nas bolas contestadas, Edelman é o tipo de jogador que se destaca por sua versatilidade: ele pode ser um alvo decente se necessitado for em passes longos, mas seu molde físico também lhe dá vantagem para conquistar jardas após o snap. Um bom exemplo é nessa curta recepção contra o New York Jets na semana 12, que se transformou num ganho de 36 jardas.

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Já em outro confronto divisional, contra o Buffalo Bills, os Patriots resolvem arriscar uma 4th & 4 na linha de 32 dos adversários. Com os Bills tendo apenas um safety no fundo do campo e os linebackers ameaçando uma blitz, o corte de Edelman para o meio do campo logo após o snap já lhe daria espaço suficiente para conquistar o first down; melhor ainda, ele quebra dois tackles de uma forma incrível e amplia o placar para New England.

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Suprir totalmente a ausência de Gronkowski, como já dissemos, será impossível. Ao mesmo tempo, a criatividade ofensiva que Josh McDaniels já demonstrou vezes e mais vezes nos faz crer que, sim, os Patriots estarão preparados para atuar em 2019 sem sua principal arma ofensiva não-chamada Tom Brady.

O grupo de corredores é um dos (senão o) mais completos da liga, e com a combinação Gordon-Edelman-White-Dorsett, existe variedade suficiente de alvos para que não existam preocupações com o jogo aéreo. Uma aproximação mais conservadora, semelhante ao que se viu em 2018, é o que esperamos de New England nesse momento, mas não há razões para crer que a eficiência dos Patriots quando tiverem a bola será menor do que nos anos anteriores.

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