Como nosso amigo Henrique Bulio bem descreveu no nosso Power Ranking, “soft benching é a palavra da moda na NFL”. O termo se refere a deixar um jogador no banco sem expressá-lo para a imprensa de uma forma direta. Na noite da última terça-feira (04), Jacoby Brissett foi nomeado titular pela equipe; já na manhã desta quarta-feira (05), Kyler Murray foi colocado na reserva de machucados, deixando-o fora por, pelo menos, quatro jogos.
Ao analisarmos o contexto, contudo, a situação fica muito estranha. No início da semana, antes da partida contra o Dallas Cowboys, dizia-se que Murray poderia jogar – isso não aconteceu e Brissett teve boa atuação. Após a declaração do novo titular, Jonathan Gannon, treinador da equipe, disse que a decisão não foi exclusivamente física, mas que Murray também foi bancado por sua performance.
É o fim de uma era. Hoje, é difícil afirmar que Kyler vestirá a camisa do Arizona Cardinals mais uma vez. O mais provável é que sigam caminhos separados na próxima intertemporada. Um romance que se iniciou de forma promissora, mas que foi mais recheado de falsas fotos sorridentes do que de atos concretos de amor.
Rápido como um foguete
Primeira escolha geral do Draft de 2019, teve meteórica carreira universitária, sendo vencedor do prêmio Heisman em seu último ano no College. Sua seleção carregava, consigo, uma nova esperança para a franquia, pois, apenas um ano antes, os Cardinals usaram uma escolha de primeira rodada para selecionar Josh Rosen, em um dos maiores fracassos de memória recente do recrutamento. Naqueles dias, ademais, Kliff Kingsbury adentrava os salões de Arizona como novo treinador, com declarações abertas de como amava Kyler e seu estilo ofensivo.
Mesmo em um time problemático, foi Calouro Ofensivo do Ano. As jogadas pirotécnicas, desde o início, estavam lá e encantavam o torcedor. Como um romance que vive de lampejos, hoje, o cansam. Por dois anos consecutivos, os Cardinals iniciaram sua temporada com boas campanhas, apenas para desmoronar na reta final, ancorado em atuações irreconhecíveis de seu principal jogador.
Em 2021, no exemplo mais emblemático, iniciaram o ano 10-2, mas perderam quatro dos últimos cinco jogos, sendo massacrados pelo Los Angeles Rams na rodada de Wild Card. Kyler terminaria esse jogo sem touchdowns, com duas interceptações e menos de 60% de passes completos.
Arizona não iria mais aos playoffs depois desse dia. Mais ainda, seria uma das piores campanhas da liga, sem sequer competir. Uma ascensão e queda tão rápidas como a de um foguete. Tão rápida quanta as pernas de sua, outrora, promessa.
Um ponto essencial
“Consistência” é uma palavra que não adentrou o dicionário de Kyler em toda sua carreira na NFL. É impossível progredir na NFL, especialmente na posição de quarterback, sem este ponto chave. Murray vivia de lampejos espetaculares, na mesma proporção que entrega erros estúpidos e juvenis.
Brissett não é um quarterback espetacular, mas faz o básico com eficiência – e constância. Completa passes de forma mais simples, ativa os seus principais alvos, aproveitando os pontos positivos que há no ataque. É bem significativo que Trey McBride tenha quatro touchdowns recebidos com ele em apenas três partidas, enquanto possuía sete, em quatro anos de carreira, com Murray. Contra o Dallas Cowboys, também vimos Marvin Harrisson Jr. ser mais envolvido no plano de jogo, algo cobrado desde seu ano de calouro.
Gannon é inteligente e sabe que Brissett não é seu futuro, contudo, sua consistência permite que o ataque flua e que ele possa avaliar de melhor forma os pontos positivos de sua equipe, como a parte defensiva, a qual vem crescendo de produção. Seu futuro e carreira dependem da perfeita visualização do que vem dando certo. Ele não está pensando nos playoffs, está pensando em seu emprego na próxima temporada.
Possíveis destinos
Mesmo com tantas oscilações, a dificuldade de se encontrar um franchise quarterback levou os Cardinals a renovarem com Murray, em um vínculo de cinco anos que se encerra em 2027. Apesar do expressivo valor total ($ 230 milhões de dólares), a estrutura contratual permite que a franquia encontre um novo rumo para sua outrora promessa a partir de 2026 – porém, apenas via negociação.
Em uma eventual troca, Kyler deixaria “apenas” $ 17 milhões de dólares presos como dinheiro morto no teto salarial da equipe. A liberação, contudo, seria de $ 35 milhões. Um movimento que resultaria em capital de Draft e espaço para novas aquisições para melhora do elenco.
O destino do Miami Dolphins parece óbvio à primeira vista, com a iminente despedida de Tua Tagovailoa e o match de Murray com o sistema de Mike McDaniel. Ainda assim, podemos imaginar outras possibilidades: Las Vegas Raiders (experimento Geno foi para o buraco) e Pittsburgh Steelers (eventual aposentadoria de Aaron Rodgers) também são opções viáveis. Essas equipes possuem elencos decentes, mas com vacância clara na posição de quarterback.
Fato é que Kyler será um dos ativos de troca mais requisitados na próxima intertemporada. Exemplos recentes de quarterbacks que reviveram sua carreira longe do time original (olá, Sam Darnold) levam as franquias da liga a tomar esse risco em busco do alto retorno. Murray não é um quarterback ruim, entretanto, precisa encontrar um caminho consistente para que possa transformar a pirotecnia esporádica em talento constante. Se conseguir, transforma-se em uma das mais divertidas armas ofensivas da NFL.
Resta, ainda assim, a dúvida particular deste que vos escreve. Um quarterback que já teve tantos problemas de distração extracampo, conseguirá ter poder de concentração e dedicação o suficiente para reverter a trajetória de sua carreira? Hoje, parece-me improvável. Murray precisa ser mais do que um jogador divertido, precisa ser um verdadeiro competidor no campo de batalha que importa – não aquele dos videogames.
Para saber mais:
Power Ranking do Pro Football: Qual é o melhor time da NFL na metade da temporada?
EP 10, temp 2025: Trade deadline e tudo sobre a semana 9
Paciente da Semana #9 – New York Jets
Thursday Night Football entre Raiders e Broncos terá transmissão gratuita da ge tv
Quer ter todo conteúdo do ProFootball rapidinho em seu celular ou computador sem perder tempo?
Acesse nossos grupos no WhatsApp ou no Telegram e receba tudo assim que for para o ar.







