Para quem acompanha o processo de seleção do draft da NFL, é fácil perceber que nem sempre as equipes conseguem predizer adequadamente a transição de um atleta do jogo universitário para o profissional. Ao realizar uma escolha errada de primeira rodada, a equipe tem que arcar não apenas com a ausência de contribuição do jogador selecionado. O contrato de valores elevados de uma escolha de primeira rodada pode deixar o time “preso” àquele jogador e, talvez ainda mais importante, a equipe deixa de selecionar um jogador que pode acrescentar muito ao elenco. Muitas vezes uma escolha precisa no draft pode ser a diferença que leva uma equipe forte ao título.
Quando observamos retrospectivamente alguns grandes erros de seleção da primeira rodada do draft (os chamados “busts”, os quais traduzimos como “farsas” no título para que fique o mais inteligível o possível para o público no Brasil), certos aspectos desses jogadores carregam semelhanças. Ficar atento a essas semelhanças pode ajudar as equipes a evitarem erros caríssimos.
A seguir, lembraremos alguns “busts” recentes, discutindo as razões para seus fracassos. Epa, e Johnny Manziel? Bom, como pressuposto para figurar nesta pequena lista nós decidimos que o jogador tem que ter sido draftado há pelo menos três anos. Manziel foi escolhido há dois, então não se qualifica como bust (ainda).
Dion Jordan – Miami Dolphins – 2013 – 3ª escolha geral
Dion Jordan teve uma ótima carreira universitária em Oregon, tornando-se especialista em pressionar o quarterback. Durante o processo preparatório para o draft de 2013, Jordan teve sua capacidade de jogar como defensive end na NFL questionada, muito por conta de ser relativamente magro, e utilizar mais a velocidade do que a força para vencer os duelos contra os tackles adversários. Apesar disso, Jordan teve desempenho excelente no combine, o que contribuiu pra que os Dolphins trocassem escolhas com o Oakland Raiders, subindo na ordem do draft para selecionar o jogador. Contribuiu para o insucesso de Jordan nos Dolphins a insistência do time em adequá-lo ao sistema 4-3, o demandaria um aumento de massa muscular por parte dele. Após uma primeira temporada de fracas atuações, Dion Jordan recebeu diversas suspensões da liga referentes a uso de drogas e estimulantes de performance. Jordan volta a poder jogar no início da próxima temporada, mas é incerto o que ele ainda tem a dar para seu time.
Vernon Gholston – New York Jets – 2008 – 6ª escolha geral
Vernon Gholston é o exemplo perfeito do jogador que “engana” os times no combine. Gholston foi um defensive end discreto durante sua carreira em Ohio State, mas apresentou ótimos resultados nos testes de força e velocidade. Mas muitas vezes estes resultados não se traduzem em performance adequada em campo. Em três temporadas nos Jets, o jogador nunca se firmou como titular, não conseguindo nenhum sack. Gholston está fora da liga desde 2011.
JaMarcus Russell – Oakland Raiders – 2007 – 1ª escolha geral
Ao selecionar JaMarcus Russell em 2007, os Raiders cometeram um erro bastante comum entre equipes que necessitam de um quarterback. Escolheram um jogador que “parecia” um quarterback (alto e com potência no braço), mas que não era capaz de jogar como um (baixa acurácia, decisões ruins). Juntam-se a isso vários momentos em que Russell mostrou sua falta de profissionalismo, nenhum mais claro que sua dificuldade em manter a forma física. A trajetória de Russell nos Raiders foi um fracasso milionário, do qual a equipe demorou muito tempo para se recuperar.
A gente disse milionário? É. O contrato de JaMarcus foi de 6 anos e 61 milhões de dólares, 32 deles garantidos. Como efeito para toda a liga, agora os contratos de calouros são, em tese, “tabelados” desde o último acordo coletivo-trabalhista da NFL, antes da temporada 2011.
Trent Richardson – Cleveland Browns – 2012 – 3ª escolha geral
Richardson obteve grande sucesso em seu período como running back da Universidade do Alabama, sendo considerado um dos melhores jogadores do draft em 2012. Seu único ponto “negativo” destacado por especialistas da o fato de jogar em uma equipe muito boa, com uma excelente linha ofensiva. O mesmo questionamento foi feito sobre outros running backs de Alabama em anos anteriores e posteriores (como Mark Ingram, Eddie Lacy e T.J. Yeldon). Fato é que Richardson nunca se mostrou um corredor eficaz, capaz de escapar ou quebrar tackles. Durante sua segunda temporada foi trocado para Indianapolis, sem melhora na sua produção. Hoje Richardson é mais um que está sem lugar na NFL.
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Estes são apenas alguns exemplos de jogadores selecionados nas primeiras posições do draft e que fracassaram na NFL. Em alguns desses casos, é possível perceber quais foram os erros de avaliação das equipes. Entre eles, podemos citar a excessiva valorização dos testes de força e velocidade realizados fora do ambiente de jogo; a exigência de patamares físicos mínimos para uma determinada posição; a não consideração de aspectos como maturidade e caráter do jogador. Em alguns casos, mesmo quando o jogador preenche todos os critérios “à prova de erros”, acaba não alcançando o sucesso na liga (como Trent Richardson). Isto contribui pra confirmar o fato de que não há método 100% seguro na escolha de jogadores.
É importante que a principal “fonte” de avaliação para jogadores seja a produção deles no College – e não simplesmente os testes do Combine, pura e simplesmente falando. Tentar prever a transição de um jogador do nível universitário para o profissional é essencial também e foi algo que não aconteceu em alguns dos exemplos acima. O jogo na NFL é mais rápido e muitas vezes mais complexo. Alguns jogadores que não se encaixam nesse profissionalismo, infelizmente. Como detectar um eventual bust? Bom, isso vai ser assunto para outro post.
