As aposentadorias mais inesperadas da história da NFL

Andrew Luck chocou o mundo ao anunciar sua aposentadoria aos 29 anos de idade, mas ele não é única estrela da NFL a ter uma carreira mais curta do que todo mundo imaginava

Todo mundo ficou atônito quando, no sábado à noite, Adam Schefter deu em primeira mão no Twitter uma das maiores notícias da história do futebol americano: Andrew Luck estava se aposentando aos 29 anos de idade. Após batalhar contra muitas lesões e se frustrar com dores e recuperações que muitas vezes não davam resultado, o agora ex-quarterback de Indianapolis decidiu colocar um ponto final em sua breve e excelente carreira profissional de sete anos, alegando que as sucessivas reabilitações tiraram sua alegria e vontade de seguir no esporte.

Luck, entretanto, está longe de ser o único jogador da NFL a ter uma aposentadoria prematura. Seja por conta de lesões ou por outros motivos de força maior, seja por pura opção, várias outras estrelas da liga também já se despediram dos gramados muito mais cedo do que o previsto. Separamos sete outros casos muitos emblemáticos que valem a pena ser lembrados.

Jim Brown, RB, Cleveland Browns (1957-1965)

Ninguém foi mais dominante ao longo da carreira do que Jim Brown. Ninguém. Entre 1957 e 1965, o running back foi eleito para nove Pro Bowls e nove All-Pro Teams (ou seja, foi eleito em todos os anos como profissional), venceu três prêmios de MVP, liderou a liga em jardas terrestres oito vezes e conquistou um título da NFL com os Browns.

Foi então que, após uma temporada de 1,544 jardas terrestres e 21 touchdowns totais, Brown decidiu que estava cansado do futebol americano e pendurou as chuteiras ainda no auge, aos 30 anos de idade. O running back anunciou sua aposentadoria em Londres, enquanto gravava o filme “ Os Doze Condenados”, ignorando o seu último ano de contrato com Cleveland e 60.000 mil dólares de salário. Art Modell, o dono da franquia, obviamente não gostou e exigiu que a sua maior estrela se apresentasse para participar do training camp, mas Brown já tinha tomado a sua decisão e não voltou atrás, abandonando o esporte em 1966 para se dedicar a uma longa carreira no cinema.

Barry Sanders, RB, Detroit Lions (1989-1998)

Outro que também decidiu parar no auge foi Barry Sanders. Verdadeira lenda em Detroit e um dos jogadores mais populares da sua época – talvez até o mais popular de todos, sem exageros -, o running back subitamente anunciou que estava deixando o futebol americano aos 31 anos de idade, às vésperas do início do training camp de 1999. Sanders decidiu tornar pública sua decisão de maneira curiosa: colocando um anúncio no jornal da sua cidade natal, Wichita. Em uma época em que não havia Twitter ou outras mídias sociais para dar furos de reportagem em um sábado à noite, imagine o susto de quem abriu o jornal na manhã do dia 27 de julho de 1999 e deu de cara com essa notícia.

O motivo especulado para a aposentadoria precoce foi que Sanders estava cansado de perder com os Lions. Embora tenha acumulado muitos recordes e glórias individuais, ele nunca teve um time à altura do seu talento em Detroit e nunca nem chegou perto de vencer um Super Bowl. Na verdade, Barry conseguiu uma mísera vitória em playoffs, conquistada em 1991 diante dos Cowboys – esse, por sinal, é até hoje o último triunfo da franquia em pós-temporada.

Bo Jackson, RB, Los Angeles Raiders (1987-1990)

O maior atleta de todos os tempos, o único homem a ser eleito para o jogo das estrelas de dois esportes diferentes, ironicamente sucumbiu por causa de uma lesão. Se a vida de Bo Jackson fosse um filme, as pessoas diriam que o roteiro é forçado demais. Selecionado pelos Buccaneers com a 1ª escolha geral do Draft de 1986, ele não se acertou com a franquia e decidiu jogar beisebol pelo Kansas City Royals. Um ano mais tarde, a NFL permitiu que Jackson assinasse com o Los Angeles Raiders e dividisse seu tempo entre o futebol americano e o beisebol, alternando partidas com os Raiders e os Royals entre 1987 e 1990, quando acabou eleito para o All-Star Game da MLB em 1989 e para o Pro Bowl um ano depois.

A carreira na NFL, porém, chegou ao fim nos playoffs de 1990. Durante o confronto contra os Bengals, válido pelo Divisional Round daquela temporada, Jackson sofreu uma séria lesão no quadril, agravada por uma condição chamada necrose avascular, a qual prejudica a irrigação sanguínea nos ossos. Aos 28 anos de idade, o running back foi obrigado a abandonar o futebol americano após 515 carregadas, 2.782 jardas e 16 touchdowns – uma excepcional média de 5,4 jardas por tentativa de corrida. Jackson, entretanto, ainda continuou no beisebol por mais quatro anos, atuando por Chicago White Sox e California Angels – os Royals o dispensaram porque não acreditaram que ele voltaria a jogar depois da lesão.

Greg Cook, QB, Cincinnati Bengals (1969-1973)

Cook é um dos casos mais tristes de talento não aproveitado da história. Verdadeira estrela na Universidade de Cincinnati, acabou draftado pelos Bengals na 5ª posição geral do recrutamento de 1969. Logo de cara, assumiu a titularidade da equipe e teve um começo meteórico, vencendo suas três primeiras partidas como profissional.

Contudo, Cook fraturou o ombro no triunfo da semana 3 diante dos Chiefs, rompendo o manguito rotador, um conjunto de músculos e tendões na região do úmero. Infelizmente medicina desportiva não é nosso forte, então vai ser impossível explicar a lesão melhor do que isso, mas, só para você entender, foi algo parecido ao que aconteceu a Drew Brees quando ele jogava nos Chargers e quase foi obrigado a abandonar o futebol americano. A lesão de Cook, porém, não foi diagnosticada pelos médicos do time, que apenas receitaram anti-inflamatórios e o deixaram jogar com dor. O quarterback voltou a campo na semana 8 e atuou durante todo o restante da temporada, agravando o problema de um modo irreversível.

A condição clínica do ombro e do manguito rotador de Cook se deteriorou até o ponto dele não mais poder jogar futebol americano. Ele passou por cirurgia, fez vários tratamentos e até tentou voltar a jogar em 1973, mas não conseguiu. Aposentou-se com 1.865 jardas, 15 touchdowns, 11 interceptações e 9.4 jardas por tentativa de passe, até hoje um recorde dos Bengals. Muitos juram que ele teria sido um dos melhores de todos os tempos, opinião reforçada por Bill Walsh, lendário técnico de Joe Montana nos 49ers que trabalhava no ataque de Cincinnati na época de Greg Cook. Em uma entrevista concedida em 2001, Walsh comentou: “[Com Cook, a West Coast Offense] seria completamente diferente. Teria estabelecido recordes que nunca seriam quebrados. Greg Cook, que grande, grande talento. Que pena”.

Calvin Johnson, WR, Detroit Lions (2007 – 2015)

Johnson seguiu o exemplo de Barry Sanders e também decidiu, por conta própria, pendurar as chuteiras mais cedo do que todo mundo imaginava. Embora tenha sofrido algumas lesões nos anos anteriores, o motivo apontado para a aposentadoria é o mesmo de Sanders: ele estava cansado de perder com os Lions. Muita gente especulou que talvez só fosse um ano sabático ou uma forma de conseguir uma transferência para outra equipe mais forte (lembra daquela história de que ele iria para os Patriots?), mas Johnson manteve sua decisão e nunca voltou aos gramados.

“Megatron” deixou o futebol americano em março de 2016, pouco depois de completar 30 anos, levando na bagagem muitos recordes, como o maior número de jardas recebidas em uma única temporada (1.964 em 2012), e a certeza de ter sido um dos maiores recebedores de todos os tempos.

Gale Sayers, RB, Chicago Bears (1965 – 1971)

Considerado por muitos como o maior playmaker de todos, Gale Sayers foi outro que a carreira ser abreviada por sucessivas lesões no joelho. Para você ter uma ideia do quão incrível ele era, saiba que foram 22 touchdowns no ano de calouro entre corridas, passes recebidos e retornos (punts e kickoffs). Sayers é um personagem importantíssimo na história da NFL, pois era tão popular individualmente que ajudou a aumentar a popularidade do esporte como um todo.

Em novembro de 1968, rompeu vários ligamentos do joelho direito. Ainda assim, conseguiu voltar em tempo recorde e venceu o prêmio de Comeback Player of the Year na temporada seguinte, liderando a liga em jardas terrestres. Novos problemas no joelho, porém, infelizmente acabaram com a sua carreira em 1970 – dessa vez, a lesão foi no joelho esquerdo e ele passou por outra cirurgia. Sayers tentou um último retorno aos gramados em 1971, contudo, já sem a mesma força e explosão de antes e agora com uma lesão no tornozelo, viu-se obrigado a aceitar a aposentadoria. Gale, anos mais tarde, ainda sofreu com problemas neurológicos decorrentes de concussões e recentemente foi diagnosticado com demência.

Chris Borland, LB, San Francisco 49ers (2014)

Borland talvez seja um caso único. Após uma ótima e promissora temporada de calouro em 2014, o linebacker chocou o mundo ao anunciar que estava se aposentando do futebol americano aos 25 anos por ter medo dos efeitos de concussões: “Eu honestamente só quero o melhor para a minha saúde. Pelo que eu pesquisei e o que eu vivi, eu não acredito que valha o risco”.

Além de custar a ele imediatamente alguns milhares de dólares em dinheiro devolvido aos 49ers – e, em longo prazo, alguns milhões -, a decisão jogou gasolina no eterno debate a respeito dos riscos do futebol americano e da maneira como a liga encara as concussões.

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