Cam Newton: os riscos para o futuro de tê-lo em campo no presente

[dropcap size=big]Q[/dropcap]uando olhamos a temporada de 2018 do Carolina Panthers, vemos uma queda vertiginosa. Víamos uma equipe encontrando seu ritmo ofensivo sob Norv Turner, com 6 vitórias e 2 derrotas. Hoje, estamos diante de um time que ruiu: são 6 derrotas consecutivas e as chances de pós-temporada, antes palpáveis, estão esfaceladas após essa melancólica sequência.

O que mais chama a atenção nesse contexto, e é até previsível que o seja, é Cam Newton. Não por qualquer análise de tape, ou por uma questão do esquema ser de qualquer forma inadequado – confesso, inclusive, que apontar, lance a lance, o que dá ou não dá certo seria um exercício mais instrutivo e prazeroso. Todavia, não é o foco do presente texto.

Cam Newton está visivelmente machucado. Podemos rebobinar até o momento que dividiu a temporada do camisa 1 do Carolina Panthers, lá na semana 10, a primeira derrota da série de insucessos que o time ainda carrega. Contra o Pittsburgh Steelers, o ombro direito de Cam Newton tomou uma baita traulitada do capacete de T.J. Watt. Desde então, há uma visível queda de potencial ofensivo. O time, que entre as semanas 1 e 9 anotara mais de 20 pontos em seis das oito partidas disputadas, só atingiu a marca uma vez desde o duelo contra o Pittsburgh Steelers. O desconforto do camisa 1 é visível: seu comportamento em campo e seu repertório estão limitados por esse incômodo.

E, ainda assim, vemos Cam Newton colocar os pads e seu uniforme e marchar para dentro de campo. O jogador, eleito MVP há três temporadas, em nada remete o elétrico quarterback que nos acostumamos a ver em Charlotte.

As dores e a frustração

Com duas partidas a serem jogadas, ainda não há certeza se Cam Newton será ou não poupado. O jogador já se mostrou frustrado e preocupado pelas dificuldades que tal lesão colocam na frente de alguém que busca apenas estar saudável para ajudar o Carolina Panthers. Nas palavras do próprio signal caller, “não importa quanto gelo você coloque, quantos anti-inflamatórios você tome… acredite em mim, eu fiz isso. Acupuntura, massagens, não houve uma noite que passou sem que eu tivesse tentado fazer algo no meu braço.”

Entre as temporadas de 2016 e 2017, o camisa 1 foi submetido a uma cirurgia para reparar o manguito rotador, um conjunto de músculos cujo propósito principal é dar estabilidade ao ombro. Não é o primeiro episódio de Cam Newton com problemas no ombro, e a frustração é sentida claramente a cada passe descalibrado em campo.

Não precisa ir muito longe: é fácil reparar nos lançamentos do quarterback como ele parece tentar empurrar a bola ao invés de fazer um movimento fluido com seu ombro. Os passes tem saído fracos, sem a famigerada tight spiral que nos acostumamos a ver com Newton. Quantas vezes não falamos de passes errados passando por cima dos recebedores dos Panthers? Com o ombro baleado, temos visto o oposto: passes curtos, aquém do que estamos acostumados do MVP da temporada de 2015 – basta ver a interceptação de Eli Apple no último Monday Night Football.

O dilema entre a janela para vencer e o futuro da franquia

Mais do que uma simples questão técnica, a condição de Cam Newton suscita um debate: o quanto você deve sacrificar para tentar aproveitar uma oportunidade de pós-temporada?

Da forma que o camisa 1 vem jogando, ou seja, visivelmente incomodado e muito longe de alcançar seu pleno potencial, não parece razoável enxergar um mês de janeiro proveitoso. Ainda assim, as chances de uma eventual classificação ainda existem – e, por conseguinte, existiam nas últimas semanas. Dessa forma, vimos Cam Newton, no sacrifício tentando em vão colocar essa unidade ofensiva no ritmo pré-semana 10. E, semana após semana, vimos que isso não é possível.

Ao colocar Cam Newton em campo, você está correndo o risco de agravar a já preocupante lesão. E esse potencial agravamento deveria ser o suficiente para puxar as rédeas da comissão técnica e ponderar: não há nada mais valioso para o Carolina Panthers do que seu franchise quarterback.

Agora, estamos também acostumados a ouvir aos quatro ventos que se você tem uma oportunidade de ir até o final na NFL, você deve agarrá-la com unhas e dentes. Afinal, numa liga tão equilibrada e com uma paridade incomparável aos demais esportes americanos, numa offseason tudo se desfaz. Por exemplo, em 2019, é possível que dois marcantes nomes defensivos dos Panthers, Thomas Davis e Julius Peppers, não façam mais parte do elenco, afinal, os defensores somam 73 anos de idade.

Mais do que isso: ninguém pode ficar de pernas para o alto na NFL. Mike Lombardi, ex-general manager, sempre que perguntado sobre tanking – basicamente, perder de propósito para ter escolhas melhores no Draft – diz que isso é virtualmente impossível. O trabalho da comissão técnica, desde o head coach até os assistentes, exige uma entrega, um resultado semanal. Ninguém goza da estabilidade para poder esquecer o ano vigente e só pensar no futuro.

É justamente nessa sinuca de bico que encontramos Ron Rivera. No cargo desde 2011, o head coach está sob pressão pela instabilidade da equipe: o Carolina Panthers nunca conseguiu duas temporadas vitoriosas consecutivas sob seu comando; as más performances defensivas do meio de 2018, que fizeram com que Rivera tomasse para si as chamadas defensivas e que culminou nas demissões dos técnicos Brady Hoke e Jeff Imamura; e, além disso, a cereja no bolo, que toma forma chegada do novo dono David Tepper.

Essa mudança de gestão exige que Ron Rivera e sua comissão técnica estejam, mais do que nunca, na ponta dos cascos, dando ainda maior importância para que algo positivo seja entregue a cada domingo. O próprio David Tepper demonstrou um interesse gigantesco em modernizar a cultura da equipe, abraçando os números e as analytics. Rivera, por sua vez, já declarou que seu emprego está nas mãos de Tepper.

A corda precisa estourar: Cam Newton deve ser poupado

De um lado, temos a importância de Cam Newton como rosto, presente e futuro do Carolina Panthers; do outro, a corda bamba na qual tenta Ron Rivera se equilibrar. Essa confluência de circunstâncias contribuem com a insistência do head coach em colocar o camisa 1 dentro de campo. Pela continuidade do seu trabalho em Charlotte, Rivera precisa mostrar que esse time ainda é capaz de lutar, de disputar uma vaga até que a matemática os elimine.

Só que há um limite para esse sacrifício. Sinceramente, eu acreditava que a administração da lesão de Andrew Luck feita pelo Indianapolis Colts serviria como cautionary tale (“conto preventivo”, em tradução livre) para as demais franquias nunca colocarem seu mais valioso nome em risco. Vimos o camisa 12 do Indianapolis Colts, já machucado em 2016, ser utilizado à exaustão naquela temporada, agravando sua lesão. Em 2017, várias idas e vindas no recondicionamento físico do quarterback, apenas para que ele não tomasse um snap sequer, sem estar plenamente recuperado e sem ter força no ombro.

Nos meses que antecederam a temporada de 2018, uma das narrativas que pairavam no ar era o quão saudável estaria Andrew Luck quando setembro chegasse. E digo mais: quando Jacoby Brissett entrou em campo para lançar um hail mary na semana 3, havia ainda perguntas sobre as implicações das capacidades físicas de Luck. Felizmente, o signal caller se mostrou plenamente capaz, está no ritmo para 637 tentativas aéreas e com as air yards perfeitamente alinhadas com o que vemos dos demais quarterbacks na NFL.

Um caso tal qual o de Andrew Luck é exatamente o que o Carolina Panthers precisa evitar com Cam Newton. O rosto da franquia, a mais importante força motriz ofensiva precisa estar o mais saudável possível para que o time tente disputar a temporada em 2019, custe o que custar. Ron Rivera, que ainda não se pronunciou em definitivo sobre poupar ou não Newton, precisa descansar a estrela do seu time. Ninguém ganha com uma novela sobre a saúde de Cam Newton na próxima intertemporada: nem Newton, nem Rivera, nem Tepper, nem o Carolina Panthers.

A temporada da NFL é uma das mais difíceis de qualquer esporte profissional. A temporada é curta, as oportunidades para vencer são limitadas; as janelas se fecham mais rapidamente do que podemos antecipar. É absolutamente compreensível você tentar agarrar as oportunidades enquanto elas aparecem na sua frente; é um esporte de resultados, no qual a vitrine de um trabalho bem desenvolvido fica exposta apenas entre setembro e dezembro.

E, ainda que um milagre nas derradeiras semanas da temporada colocasse os Panthers como wild card, não é possível visualizar que essa versão debilitada do Cam Newton consiga viajar para Dallas, Chicago, Los Angeles ou New Orleans e bater os Cowboys, Bears, Rams ou Saints.

O preço para tentar ser bem sucedido em 2018 é daqueles impossíveis de pagar pelo Carolina Panthers caso algo dê, de forma definitiva, errado. Um franchise quarterback, estamos cansados de saber, não é fácil de encontrar. Cam Newton é infungível; ele é o passado recente da franquia, o presente e o futuro. A mera hipótese de ficar sem o camisa 1, por um jogo sequer, em 2019 deveria ser o suficiente para que o MVP da temporada de 2015 não entrasse em campo contra o Atlanta Falcons e o New Orleans Saints.

Comentários? Dúvidas? Me procure no Twitter em @MiceliFF para conversarmos sobre essa difícil situação do Carolina Panthers!

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