Quem adentrou a gelada Neo Química Arena na noite de sexta-feira sabia que, tal qual o NFL São Paulo Game de 2024, a expectativa era de um ótimo jogo. Los Angeles Chargers e Kansas City Chiefs não são apenas dois times que estiveram nos playoffs na última temporada: são, também, dois times em briga direta pela AFC West durante a temporada de 2025.
Venceu o “dono” da casa. Claro, a maior torcida era do Kansas City Chiefs, queridinho da NFL na atualidade e representante da conferência nos últimos três Super Bowls. Mas quem dominou o jogo do início ao fim, e obteve uma vitória madura, acabou por ser a equipe de Los Angeles, que quebrou uma sina importante: os Chargers não venciam seus rivais divisionais desde 2021.
Enquanto o 1-0 vai criar bastante confiança, do outro lado, não assusta a derrota dos Chiefs: assusta a falta de opções no jogo aéreo e a falta de profundidade defensiva, que podem complicar bastante a temporada daqui para frente.
O show da noite foi de… Quentin Johnston?
Parece piada, mas não é. Com uma exibição de alto nível na noite de sexta-feira, o wide receiver da equipe foi o grande destaque ofensivo. Johnston, conhecido por sua velocidade, anotou dois touchdowns e finalizou a partida com 5 recepções, 79 jardas e 2 touchdowns. Nenhum jogador foi tão impactante quanto o tão criticado recebedor dos Chargers.
Que, aliás, não é criticado sem méritos. No próprio jogo, ele acabou por dropar um touchdown durante o terceiro quarto, e por mais próxima que a cobertura estivesse, é o tipo de jogada que um recebedor de NFL precisa fazer. Johnston evoluiu consideravelmente em relação ao seu primeiro ano, especialmente em relação aos seus releases e as formas de criar separação de forma mais “técnica”, sem depender tanto de sua velocidade. Ainda assim, voltamos ao ponto principal de um wide receiver: é preciso agarrar a bola.
Vale notar, aliás, que o ataque aéreo dos Chargers foi o grande destaque da noite. A atuação de Justin Herbert foi magistral, no que certamente foi um dos melhores jogos de sua carreira. Brilhante e tomando ótimas decisões com a bola, foi com as pernas que ele completou a jogada decisiva do confronto e selou a primeira vitória da equipe sobre os rivais em quatro anos. Herbert, com três touchdowns e nenhuma interceptação, não foi conservador: ele passou a noite inteira dominando a defesa de Steve Spagnuolo, e salvo quando os Chiefs enviaram blitzes nos primeiros drives do terceiro quarto, ele sempre teve respostas—mesmo no cenário em questão, ele soube lidar bem com a pressão e passou a soltar a bola mais rápido.
Perder não é problema, a forma é que preocupa
“Eu nunca estou satisfeito”, disse Patrick Mahomes quando perguntado pelo Pro Football na coletiva sobre a quantidade de passes longos que ele tentou. Durante a offseason, o quarterback de Kansas City reforçou múltiplas vezes que gostaria de voltar a lançar a bola em profundidade mais vezes. Em geral, não foi um bom início.
Mahomes esteve impreciso em diversos momentos da partida, fato que não foi ajudado pela perda precoce de Xavier Worthy em lance de fogo amigo com Travis Kelce. Mas a questão é que os Chiefs tiveram pouca energia ofensiva no primeiro tempo e as bolas profundas também não conectaram com facilidade. A quarta descida no final do jogo foi mágica, como se espera de um jogador do nível dele. Só que o que ganha jogo é consistência, não flashes isolados.
Os Chiefs não impressionaram ofensivamente, tendem a ficar sem Xavier Worthy por algum tempo e já estão sem Rashee Rice. A linha ofensiva é suspeita, com um alto número de faltas contra os Chargers. A profundidade defensiva é algo preocupante. No geral, a campanha é um 0-1 com talvez um sinal mais amarelo do que vimos em outras épocas em Kansas City em inícios lentos de temporada.
A próxima missão não poderia ser mais difícil: os Chiefs já recebem os atuais campeões e o Philadelphia Eagles continua fortíssimo. O 0-2 é uma possibilidade real.
