Como Daniel Jones pode dar certo

Os Giants não quiseram correr o risco de perder o QB que queriam e apostaram na #6 – mesmo Daniel Jones estando bem mais abaixo nos boards de todos. Agora que o Draft passou, resta saber: tem jeito de dar certo?

Gostem os torcedores ou não, Daniel Jones é a aposta do New York Giants para o futuro. Passadas algumas semanas desde o polêmico Draft, tudo o que tinha a ser dito sobre a decisão em si de escolhê-lo já foi falado. Agora, é hora de tentar compreender um pouco melhor o que o quarterback traz à franquia que o selecionou e, sobretudo, como ele se encaixa na filosofia ofensiva de Pat Shurmur.

Talvez seja um exercício inútil, afinal, não sabemos em que momento Jones se tornará titular e nem quanto tempo Shurmur será o head coach. Por exemplo, Dave Gettleman, em uma de suas loucas entrevistas pós-Draft, disse que os Giants talvez tentem reproduzir o modelo de transição dos Packers, quando a equipe deixou Aaron Rodgers três anos no banco de reservas antes de alçá-lo à condição de titular. Caso o plano do general manager seja posto em prática, será que Shurmur sobreviveria no cargo por mais três temporadas? As perspectivas não são de muitas vitórias em um futuro próximo, independente de quem esteja under center.

Enfim, Jones possui um conjunto de atributos bastante compatível com o que Pat Shurmur costuma exigir dos signal callers nos seus ataques. Além disso, por mais que muitas pessoas usem tal comparação para desmerecer alguém duas vezes campeão e MVP do Super Bowl, não é totalmente sem sentido chamar o calouro de o “novo Eli Manning”: Jones tem várias características parecidas com o veterano, o que mostra uma continuidade da franquia na maneira de enxergar seus quarterbacks.

O básico do ataque de Shurmur

Shurmur é um fruto da coaching tree de Andy Reid, haja vista ter trabalhado com o atual treinador dos Chiefs por vários anos em Philadelphia. Isso significa que ele bebeu muito da fonte do seu antigo chefe e se apropriou de diversos conceitos típicos da filosofia ofensiva de Reid, definida sempre como uma versão moderna da West Coast Offense.

Por exemplo, Pat é bastante adepto de estabelecer o ritmo do ataque com passes curtos e seguros. Recebedores correndo rotas curtas e se cruzando no meio do campo para confundir os defensores, vide Adam Thielen e Stefon Diggs nos Vikings em 2017, são uma de suas marcas registradas. Não por acaso, Sam Bradford (71,6%), Case Keenum (67,6%) e Eli Manning (66%) tiveram a maior porcentagem de passes completos da carreira com Shurmur comandando o ataque.

Ao invés de ver os quarterbacks de Shurmur soltando o braço com frequência, você verá os wide receivers agarrando passes curtos e tentando transformá-los em grandes avanços, seja quebrando tackles, seja confundindo a marcação e aparecendo livre graças às combinações de rotas. Isso exige bastante mentalmente dos signal callers, pois eles precisam fazer boas leituras e encontrar os recebedores em condições favoráveis, caso contrário as jogadas rapidamente estarão condenadas.

O técnico também mostra ser bem comprometido com o jogo terrestre, o que indiretamente facilita a vida dos quarterbacks. Em Nova York, isso fica óbvio ao pensarmos na escolha de Saquon Barkley e no imenso investimento feita na linha ofensiva nos últimos meses. Em Minnesota, por sua vez, basta lembrarmos que os Vikings foram o segundo time que mais correu com a bola em 2017, embora não possuíssem corredores e nem bloqueadores de elite.

Em suma, o ataque de Shurmur funciona melhor quando existe a ameaça da corrida. O boom ofensivo dos Giants na temporada passada, quando a franquia embalou quatro vitórias em cinco partidas na segunda metade do ano, veio acompanhado por um grande aumento na efetividade do play action. Nos primeiros oito compromissos de 2018, New York tinha uma média de quatro play actions saindo em formação under center por jogo. Nos oito compromissos finais, a média passou para nove. Em dado momento, Manning tinha um rating de 140 pontos, 69% de passes completos, 380 jardas, cinco touchdowns e nenhuma interceptações em situações assim.

E como Daniel Jones se encaixa em tudo isso?

A principal qualidade de Jones, além da mecânica e outros atributos como pocket passer tradicional, é a sua precisão em passes curtos e intermediários, sobretudo em situações nas quais não está pressionando. Em um ataque pautado pela segurança e pelo ritmo como o de Shurmur, muito mais amigável para os quarterbacks do que o sistema de outras equipes, pode dar certo. Seria um game manager aos moldes de Keenum ou Alex Smith, encarregado de fazer leituras simples na maior parte do tempo e só explorar o fundo do campo esporadicamente – ele é inconsistente nos lançamentos longos e, ademais, não tem um braço de elite.

Em situações de 2ª ou 3ª descidas para seis jardas ou menos, o calouro soma 63% de passes completos e uma proporção de 20 touchdowns e 5 interceptações. Para mais de seis jardas, os números caem para 56% e 13-10. Ou seja, pelo menos no College Football, Daniel não foi o cara que tirava coelhos da cartola e resolvia as coisas no braço. Ele também era bem mais eficiente lançando bolas para o meio do campo, entre os números, do que para as laterais.

As comparações com Eli Manning, sobretudo o Manning dos anos finais de carreira, decorrem disso. Os indícios são que Jones é um pocket passer natural, inteligente e capaz de fazer boas leituras pré-snap, mas que, vez por outra, errará passes longos fáceis e tomará decisões ruins que acabarão em turnovers. O quanto essas decisões ruins castigarão o seu próprio time é o ponto chave da questão.

Jones, contudo, tem uma vantagem em relação a Eli: o atleticismo. Daniel não é veloz como Kyler Murray ou Lamar Jackson, mas é móvel e capaz de estender as jogadas ou ganhar jardas com as pernas – Alex Smith, de novo, é uma boa comparação. Isso traz uma dimensão nova ao ataque de New York, a qual Manning, no alto dos seus 38 anos, é incapaz de oferecer.

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Shurmur gostava de colocar Case Keenum em movimento nos Vikings, saindo do pocket para lançar em play actions e bootlegs ou às vezes até mesmo correndo. Jones adicionará tal elemento ao ataque. Além disso, se o head coach decidir adotar de vez a run pass option, recurso bastante utilizado pelo calouro em Duke e por franquias da NFL com signal callers medianos (Eagles com Nick Foles é o grande exemplo), o ataque se tornará ainda mais perigoso, pois Daniel, correndo com a bola, seria a terceira ameaça além do passe e do handoff ao running back.

É preciso moderar as expectativas em relação ao “pode dar certo”

Ao escrevermos no título que o casamento entre Shurmur e Jones pode dar certo, não mudamos de opinião em relação à escolha do signal caller com a 6ª pick geral: ele ainda tem o teto mais baixo do que um quarterback selecionado no top 10 deveria ter. Todavia, atributos pessoais como precisão nos passes curtos, eficiência em lançamentos no meio do campo, capacidade de fazer boas leituras pré-snap e atleticismo fazem de Daniel um bom encaixe para o ataque de Shurmur, famoso por ser bastante amigável e proporcionar estatísticas inflacionadas a quarterbacks que não são de elite.

Jones provavelmente não vai ser futuro membro do Hall da Fama, mas pode ter temporadas eficientes under center aos moldes de Case Keenum nos Vikings ou Nick Foles nos Eagles – Doug Pederson, por sinal, é outro discípulo de Andy Reid -, desde que, claro, tudo esteja em perfeito funcionamento no resto da equipe. À primeira vista, este é o “pode dar certo” a que estamos nos referindo. Agora, dependendo do seu desenvolvimento e do quanto estávamos errados sobre ele, Jones pode acabar se tornando mais do que apenas um game manager.

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