Como o Carolina Panthers saiu de campeão da NFC para a última posição de sua divisão?

De 2012 para cá, a vida dos torcedores do Carolina Panthers tem sido uma verdadeira montanha-russa de emoções. Basicamente, a franquia alterna uma temporada boa com outra ruim. Em 2012, foram sete vitórias e nove derrotas (7-9). No ano seguinte, record de 12-4 e segunda melhor campanha da Conferência Nacional. Em 2014, mais um desempenho medíocre com sete vitórias, oito derrotas e um empate – só Deus sabe como Carolina venceu a divisão com este retrospecto. Já no ano passado o time foi quase perfeito, chegando ao Super Bowl após conseguir um 15-1 na temporada regular.

Em 2016, para manter a tradição que deixa os torcedores malucos e cardíacos, os Panthers novamente estão indo mal e no momento são os lanternas da NFC South com o record de 3-6 – eles também são a terceira pior equipe da NFC. O revés mais recente ocorreu no último domingo, quando Carolina perdeu em casa para os Chiefs depois de começar o último quarto vencendo por 17 a 3. Além disso, a franquia está sendo dominada pelos seus rivais diretos, tendo perdido os três confrontos divisionais realizados até agora.

Resumindo, a vida não está fácil. Fora explicações como maldição do vice ou conspiração do universo, existem algumas razões bastante claras para o atual insucesso dos Panthers, tanto do lado ofensivo quanto defensivo da bola. Não é por acaso que o vice-campeão do último Super Bowl está enfrentando um risco gigante de ficar fora dos Playoffs.

Veja quais são os principais problemas e o que Carolina vem fazendo de errado em 2016.

Secundária jovem e inexperiente

Ao longo dos últimos anos, Carolina se notabilizou por possuir defesas sólidas e consistentes, embora, claro, a secundária nunca fosse o setor mais forte da unidade – o destaque sempre foi o front seven, ou seja, o grupo de defensive linemen e linebackers. Em 2015, a situação mudou um pouco graças à ascensão de Josh Norman. O jogador mostrou-se um verdadeiro cornerback de elite, anulando quarterbacks e wide receivers que ousassem tentar a sorte contra ele. A presença de Norman “apagava” um lado do campo e diminuía a pressão sobre os safeties do time – os quais não são lá essas coisas.

O problema é que nesta temporada Josh pegou suas malas e mudou-se para Washington, onde vai poder protagonizar cenas lamentáveis com Odell Beckham Jr. duas vezes por ano. Os Panthers decidiram que não valia a pena dar um contrato gigantesco ao cornerback e o deixaram partir na Free Agency – isto é: tiraram sua franchise tag e ele se tornou FA. Para o seu lugar, investiram pesado no Draft, gastando três das suas cinco escolhas na posição. Os selecionados foram: James Bradberry, Daryl Worley e Zack Sanchez.

Passado mais da metade do ano, já ficou evidente que por enquanto a estratégia não deu certo. Com exceção de Bradberry, que vem tendo um desempenho pelo menos razoável, a secundária da equipe é um desastre completo. Atuando em uma divisão com ataques aéreos ultraprodutivos como os de Saints e Falcons, confiar majoritariamente em cornerbacks calouros parece ser no mínimo um erro de cálculo, até porque safeties como Kurt Coleman e Tre Boston não são talentosos o suficiente para compensar as falhas dos jovens. Diante de Atlanta, Carolina cedeu 300 jardas aéreas somente para Julio Jones. A performance foi tão vergonhosa que Bené Benwikere, um dos poucos cornerbacks veteranos do time, foi cortado do elenco alguns dias depois. Outro exemplo: contra New Orleans, Zack Sanchez permitiu 183 jardas e dois touchdowns nas nove vezes em que foi alvo de Drew Brees.

Para piorar a vida da secundária, o pass rush começou a temporada em marcha lenta. E era justamente esse pass rush, como duas engrenagens na qual a segunda se move junto da primeira, que ajudava pacas ano passado. Neste ano o início de temporada foi longe de ser assim.

O defensive tackle Kawann Short não vinha conseguindo ser tão dominante quanto em 2015 e, deste modo, a equipe não estava pressionando o quarterback como deveria. Entretanto, verdade seja dita, houve mudança a partir da bye week. Desde então, Short teve suas melhores apresentações do ano e os Panthers somaram 16 sacks em três partidas – por coincidência ou, provavelmente não somente, venceram duas.

Tudo isso fez com que a outrora temida defesa de Carolina despencasse nas estatísticas. Se em 2015 o time era o sexto em média de jardas (322,9) e pontos (19,2) cedidos por jogo, hoje ele é respectivamente o 15º (351,6) e o 23º (25,1). A única coisa que continua igual é o domínio contra os ataques terrestres: média de 79 jardas por partida, segunda melhor marca da liga. Porém, com uma secundária tão frágil, é impossível chegar perto do 15-1 da temporada passada, ainda mais se Cam Newton precisar ficar sempre lançando passes igual um maluco para correr atrás do placar – você verá o porquê logo abaixo.

Linha ofensiva abaixo da média

Além de signal caller, Cam Newton arrumou uma outra ocupação em 2016: ele também é uma espécie de pinhata nas mãos dos pass rushers adversários. Sério, poucas linhas ofensivas estão fazendo um pior trabalho protegendo seu quarterback do que a dos Panthers. Newton sofreu pelo menos um sack em todos os jogos e no momento é o 11º signal caller mais derrubado da liga (23). O auge da sua punição física ocorreu na semana 3, quando ele foi sackado inacreditáveis oito vezes diante de Minnesota. Assistindo às partidas de Carolina contra Broncos, Falcons ou Rams, foi fácil constatar que Cam quase sempre não tem tempo nenhum para fazer as leituras corretas e lançar a bola.


“RODAPE"

A linha ofensiva já havia sido um grave obstáculo para os Panthers em 2014. No ano passado, a unidade se acertou e foi consistente até o Super Bowl, ou melhor, até cruzar com a defesa dos Broncos, mas em 2016 os problemas voltaram com tudo. A lesão do left tackle Michael Oher, o qual entrou no protocolo de concussão da liga há 50 dias e não saiu mais, só atrapalhou. Para piorar, o center Ryan Kalil perdeu as duas últimas partidas devido à uma contusão no ombro – ele deve retornar nesta quinta-feira contra os Saints.

A equipe carece de talento nas trincheiras ofensivas simplesmente porque não investe no setor durante o Draft. Nos últimos quatro anos, Carolina selecionou apenas três offensive linemen no recrutamento – o mais alto foi o guard Trai Turner, na terceira rodada de 2014. O último tackle escolhido na primeira rodada foi Jeff Otah, em 2008. Tudo bem, a franquia normalmente prefere priorizar a defesa com as picks mais valiosas, porém uma hora a conta pode chegar. Hoje, jogadores como right tackle Daryl Williams, o left tackle Mike Remmers e o left guard Andrew Norwell fazem da linha ofensiva dos Panthers uma das piores abrindo espaço para corridas e protegendo o quarterback.

Por fim, vale destacar uma última coisa. A combinação entre defesa que cede muitos pontos e linha ofensiva que não protege é extremamente perigosa. Vamos explicar. Se Carolina estiver sempre atrás do placar ou perdendo de muito, Cam Newton precisará lançar mais passes para tentar compensar o prejuízo. Para lançar a bola, ele precisa de proteção da linha ofensiva. Se a linha não o protege direito, Cam fica mais suscetível a cometer erros e turnovers. Mais turnovers costumam significar mais chances de fazer pontos para os adversários. Muitos pontos de desvantagem significam que Newton precisará lançar mais passes… Enfim, deu para entender o que queremos dizer. Tal combinação pode ocasionar um looping de desgraças e colocar o time em buracos difíceis de sair.

Existe salvação para Carolina em 2016?

É extremamente raro, porém há alguns exemplos de equipes 3-6 que arrancaram rumo aos Playoffs. Isso aconteceu apenas quatro vezes na história: Patriots (1994), Lions (1995), Jaguars (1996) e Redskins (2012).

No caso específico de Carolina teoricamente não é impossível. O time está 2,5 jogos atrás dos Falcons na NFC South – Atlanta tem seis vitórias, contudo possui uma partida a mais, pois ainda não teve sua bye week. O problema é que os Panthers terão uma sequência duríssima na parte final do calendário, por exemplo, enfrentando Raiders, Seahawks e Redskins fora de casa. Ademais, não parece que os Falcons irão tropeçar tanto ao ponto de permitir uma reação assim – sem contar que Saints e Buccaneers estão no meio do caminho.

No final das contas, este tipo de projeção não vale nada se Carolina não melhorar o desempenho dentro de campo. Com uma secundária ruim e uma linha ofensiva esburacada é complicado conseguir uma sequência de vitórias. E não é fácil ensinar um cornerback calouro a marcar de uma hora para a outra. Em todo o caso, não existe mais margem para erro. Se quiser chegar aos Playoffs, seja com o título de divisão ou via Wild Card, os Panthers deverão começar sua reação hoje, em casa, no Thursday Night Football diante do New Orleans Saints.

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