Como os Patriots conseguem ser tão dominantes na era do Salary Cap?

Ao longo das últimas décadas, a NFL viu a ascensão e queda de vários impérios. São as famosas dinastias, que já conhecemos bem: Green Bay nos anos 1960, Pittsburgh nos 1970, San Francisco nos 1980 e, por fim, Dallas na primeira metade dos anos 1990. Todos esses times ganharam títulos e tiveram várias temporadas vitoriosas em sequência. Contudo, encerrada a época de fartura, logo depois naturalmente enfrentaram um período sem muitas conquistas.




Tal ciclo foi algo constante na liga, pelo menos até o surgimento de Darth Belichick e seu Império da Nova Inglaterra. Nenhuma outra dinastia durou tanto tempo na NFL quanto a criada pelos Patriots nos anos 2000. De 2001 para cá, a franquia conquistou 14 títulos de divisão, chegou 11 vezes à Final da AFC, sete ao Super Bowl e ganhou quatro anéis. Ou seja, já são 16 temporadas brigando quase sempre lá no alto, dominando a AFC East e lutando anualmente pela vaga no Super Bowl.

E o mais impressionante é que toda essa superioridade de New England está ocorrendo em uma época em que isso, teoricamente, não era para acontecer. Em 1994, a NFL instituiu o salary cap, um mecanismo para controlar os gastos da equipes com salários e manter a liga sempre mais equilibrada possível. O raciocínio é simples: como todo mundo tem a mesma quantidade de dinheiro para investir, não haverão “super times”. Assim, a competitividade ficaria garantida e ninguém dominaria os outros por muito tempo.

Entretanto, os Patriots até agora vem desafiando essa lógica. Deste modo, a pergunta que não quer calar é: como eles conseguiram se sobressair por tanto tempo seguido em uma das ligas mais equilibradas do mundo? Bem, podemos apontar algumas das principais razões.

Preparação, treinamento e sistema de jogo

Há alguns meses, o USA Today perguntou para Bill Parcells e Tony Dungy, dois treinadores presentes no Hall da Fama, qual o segredo do sucesso de Bill Belichick. O primeiro trabalhou com Belichick nos Giants, enquanto que o segundo foi adversário direto dos Patriots por vários anos, pois comandou os Colts de 2002 a 2008.

Em suma, ambos deram respostas parecidas: Belichick prepara seu time minuciosamente para cada partida, tentando anular os pontos fortes dos adversários e buscando maneiras de explorar suas fraquezas. “Se você jogar contra eles [Patriots], ele não deixará que Marvin Harrison tenha um dia de 200 jardas. Você sabe disso – mas não sabe como “, afirmou Dungy.

“Nós sempre dissemos para nosso time, o mais difícil é sobreviver ao primeiro quarto. Você não sabe o que encontrará. Você não pode treinar para o que talvez encontre. Você apenas tem que ser capaz de se adaptar. Mas você não pode contar que as coisas serão exatamente iguais como na última vez que jogou contra eles, mesmo se eles tiveram sucesso”, continuou o head coach.

Esse tipo de preparação é o que torna New England uma máquina de vitórias. Não importa a situação, eles parecem estar prontos para qualquer coisa. Usando um exemplo recente: na semana 15, os Patriots visitaram a excepcional defesa aérea de Denver. Ao invés de jogar Tom Brady aos leões, a equipe utilizou um plano de jogo focado em correr com a bola. Dion Lewis brilhou, a linha ofensiva venceu nas trincheiras e New England ganhou fácil por 16 a 3. Belichick e cia. viram a fraqueza dos Broncos e a exploraram sem maiores problemas.

Claro, ter um quarterback como Tom Brady ajuda qualquer treinador, porém, não custa repetir, ter um plano de jogo eficiente é o mais importante. Um grande signal caller, sozinho, não faz milagre, vide exemplos como Dan Marino ou Drew Brees. Os Patriots possuem um sistema definido, o qual está acima de qualquer talento individual – mesmo o de Brady. Não por acaso, a franquia venceu 11 partidas com Matt Cassel under center em 2008.

Ademais, a comissão técnica de New England não é formada só por Belichick. Coordenadores como Josh McDaniel (ofensivo) e Matt Patricia (defensivo) estão entre os melhores da liga, sem contar outros bons nomes que vieram antes dos dois, o que também ajuda a explicar porque o time é tão bem treinado.




Montagem de elenco

Quase ninguém na NFL consegue montar e gerenciar um elenco tão bem quanto New England. Hoje, com exceção de Brady e Rob Gronkowski, não existem superestrelas no plantel, contudo a força do time reside justamente no conjunto de atletas sólidos. Não importa quem saia, o substituto parece ser sempre do mesmo nível – isso, aliás, também está ligado a questão do sistema de jogo definido que falamos acima.

Os Patriots são famosos por buscarem coadjuvantes em outras equipes e os transformarem em protagonistas. Exemplos não faltam, como Rob Ninkovich, Wes Welker, Dion Lewis etc. Este trabalho de olheiro é essencial para a obtenção de jogadores bons e baratos, os quais contribuem sem ocupar um espaço tão grande na folha salarial. Assim, a franquia mantém um elenco sempre numeroso, forte e competitivo.

Por falar em salários, New England também é mestre na arte de cuidar do salary cap, pois não costuma comprometer demais seu orçamento e ficar no vermelho, precisando se desfazer de vários nomes importantes na intertemporada para se adequar ao teto salarial. A franquia segue uma receita simples: quando o preço de alguém apresenta mais desvantagens do que vantagens, ele é mandado embora. Não importa quem seja.

O exemplo mais recente dessa política foi Jamie Collins. O linebacker era um dos principais defensores do time em 2016, mas estava chegando ao final do seu contrato de calouro. Na próxima offseason, exigiria um belo dinheiro para renovar, provavelmente mais do que ele vale. Os Patriots, então, o trocaram sem medo com os Browns por uma escolha de 3ª rodada, evitando perdê-lo de graça. Além disso, a equipe ganhou margem para assinar com outros atletas mais vantajosos.

O método de trabalho utilizado por New England devia servir de exemplo para qualquer time que dispute uma liga com teto salarial, não importa o esporte. Por isso, eles conseguiram manter sua supremacia por tantos anos sem sofrer com o salary cap imposto pela NFL.

E, por fim, uma pitadinha de sorte

Já comentamos aspectos dentro e fora de campo, porém existe um último ponto que merece ser levado em conta. O segredo do sucesso de New England é 99% trabalho duro, competência e planejamento, mas tem também aquele 1% de sorte (ou destino, ou o nome que for, não sabemos direito como chamar).

Quer uma prova? Ninguém escolhe um quarterback na sexta rodada do Draft com a expectativa de vê-lo tornar-se um dos melhores de todos os tempos. E não adianta apelar para a genialidade de Darth Belichick. Se ele tivesse alguma noção do que Tom Brady viraria, não o teria selecionado apenas com a 199ª escolha geral no Draft de 2000.

Obviamente a sorte de ter ficado com Brady não valeria de muita coisa sem tudo o que dissemos ao longo deste texto, mas ainda assim é interessante pensar em como, pelo menos nesse aspecto, o sucesso dos Patriots e a sua dinastia foram ajudados por uma obra do acaso. Mais uma prova de que o esporte é algo fantástico e difícil de explicar.




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