Como Tim Tebow estabeleceu o precedente para que Colin Kaepernick esteja desempregado

Fazia tempo que eu não falava ou escrevia o nome de Tim Tebow. Digamos que agora ele não é mais meu problema, mas sim daqueles que cobrem o beisebol, vide a (tentativa) de carreira do ex-Florida Gators nas minor leagues. Seja como for, Tebow estabeleceu um precedente importante para a NFL e seus quarterbacks reservas. Em resumo, como explicarei abaixo, pouca bola para muita dor de cabeça.

Vestiários da NFL são complexos e difíceis de lidar. São 53 jogadores com salários-base de no mínimo 500 mil dólares. São carreiras curtas para a maior parte deles, então eles querem ser tratados como profissionais que o são. Quanto menor o número de problemas ou motivos de distração, melhor. É assim que Bill Belichick comanda, a pulso de ferro, o vestiário patriota. Jogadores outrora problemáticos, como Randy Moss e Chad Johnson, se comportaram em Foxborough. O primeiro rendeu, o segundo, não – mas isso é pauta para outro dia.

Fato é que distrações, especialmente no training camp, não são bem-vindas na NFL. A offseason é extremamente longa e o livro de jogadas, demasiadamente complexo para aqueles que estão chegando a um novo time ou para aqueles calouros que chegam cada vez mais crus do college football. Sendo assim, quanto menor a dor de cabeça, mais foco para se preparar rumo a temporada regular.

Como praticamente não existem notícias nesta época do ano, tudo é potencializado. Sejamos francos: Colin Kaepernick provavelmente não é mais titular na NFL. E, mesmo assim, notícias a seu respeito tomam a capa de nosso site e de todos os outros sites americanos. O motivo? Não temos nada melhor para escrever. Se Tom Brady declarasse que quer ser trocado, certamente ele seria o foco. Como nenhum nome mais conhecido do que o de Colin é notícia, aquelas a seu respeito são potencializadas.

Seja como for, Colin é um nome famoso e existe demanda do público a seu respeito. Afinal de contas, que outro quarterback chegou ao Super Bowl e anos depois estava desempregado, com seu estilo de jogo anulado pelos coordenadores defensivos adversários e com uma única – e, ao que tudo indica, infrutífera – visita marcada na intertemporada? Apenas ele.

O grande ponto é que não existe mais espaço, em muitos times, para toda a bagagem que Colin traz consigo. Não julgo suas atitudes fora de campo: ele tem todo o direito do mundo de protestar e se engajar em causas sociais. O problema da violência da polícia americana para com minorias é notório – se você assistir o premiado documentário O.J: Made in America, provavelmente irá concordar comigo e até com ele. Mesmo que Kaepernick tenha dito que, caso em um time neste ano, estará de pé durante o hino americano, o “dano” para algumas franquias já foi feito. Ele é notícia e não joga tão bem para que os times ignorem o circo midiático que virá junto dele.

Concordo com isso? Não, mas as coisas são como são. Tim Tebow estabeleceu esse precedente. Por ser um cara extremamente carismático e discutivelmente um dos melhores jogadores da história do college football, Tebow era centro das atenções. Toda sua carreira foi potencializada pela mídia: a incongruência de seu talento para o college e para a NFL, o Combine ruim, a troca desnecessária de Josh McDaniels para escolhê-lo na primeira rodada, a saga como reserva, John Fox e John Elway relutando para colocá-lo em campo, o tebowing, as vitórias milagrosas (cujo crédito defensivo de Von Miller e cia foi ignorado porque defesa não é tão sexy), ele ser virgem, ele ser trocado pelos Broncos para o maior mercado consumidor (Nova York), ele ter uma chance no melhor time da década (Patriots)… Poderia continuar até amanhã. Fato é que em praticamente todos esses momentos, a mídia fez um carnaval em cima de Tebow.

E, não fazendo mea culpa, mas fez porque o público pediu isso. Porque deu click, porque deu ibope, porque houve demanda.

O precedente de circo midiático estabelecido por Tebow – pouca bola para muita distração – é determinante no fato de Colin Kaepernick ainda estar desempregado. Não nos enganemos: caso Colin fosse um pocket passer preciso, muitos times ignorariam o fato dele ser ativista social. Ora, muitos até achariam bonito e dariam declarações disso!

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Fato é que o nível de jogo de Kaepernick, após a queda da read option, não justifica sua contratação quando sopesado o ônus – isto é, a potencial distração e a “bagagem” que ele traz consigo. O lugar no qual Colin faria mais sentido era em Seattle, de fato: vestiário repleto de jogadores que lhe apoiaram, uma cidade com viés bastante liberal e sistema moldado para um quarterback móvel. Mas, também, os Seahawks já estão passando por uma distração: a eterna especulação de que Richard Sherman não estaria contente e até hoje não teria esquecido a interceptação de Russell Wilson no Super Bowl XLIX. Mais um circo montado pela imprensa, no caso da contratação de Colin, é tudo o que Pete Carroll não quer.

Fora Seattle, os lugares óbvios seriam aqueles dependentes de quarterbacks, como Cleveland ou o New York Jets. No caso do primeiro, já há uma aposta a longo prazo (Cody Kessler), um diamante a ser lapidado (DeShone Kizer) e um veterano querendo se provar (Brock Osweiler). No caso do segundo, a franquia pretende usar Josh McCown como quarterback-ponte para seja lá quem vier na talentosa classe de quarterbacks do Draft 2018.

Seja como for, a janela para Colin se fechou bastante com “nada feito” em Seattle. Caso nenhuma franquia lhe ofereça uma chance até o início dos training camps (que é o que acredito que acontecerá), Kaepernick teria uma chance na NFL com um titular se machucando e um time “a um quarterback dos playoffs“, como hipoteticamente o Minnesota Vikings era na temporada passada quando Teddy Bridgewater se machucou e o time trocou por Sam Bradford. Mesmo assim, não duvido que esse “Vikings 2.0” ligaria para Jay Cutler ou Tony Romo para ver se eles não querem voltar – e isso antes de contactar Colin.

Nosso podcast sobre este assunto: 

A causa de Kaepernick, na minha opinião, é justa. Eu inclusive disse que, ao menos como reserva, ele merecia uma chance. O problema é que eu digo isso aqui, sentado, no meu ar condicionado e sem teto salarial para gerenciar. Não é justo que ele esteja desempregado por conta disso ou do precedente de distração estabelecido pela saga tebowniana. O problema é que seja como for – violência doméstica, doping ou circo midiático – a segunda chance na NFL é sempre em função do quanto o cara pode acrescentar ao time. Se for bom jogador e capaz de levar a equipe aos playoffs, o “senão” de extra-campo é esquecido.

Não é o caso de Colin.

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