Sobre VAR, a imprensa brasileira e a pressa por resultados
Na última semana, uma discussão sobre o uso do VAR e suas consequências para o futebol tomou conta da internet e dos canais esportivos. Como um paradoxo, a imprensa que em todo pós-jogo discutia as polêmicas de arbitragem, agora era majoritariamente contra a tecnologia. Porém, isso não é nenhuma novidade,
Tratando especificamente da imprensa “futebolística” brasileira, características que sempre estiveram presentes foram a ansiedade e a pressão por respostas no curto prazo. O que agora vemos com o VAR já acontece há anos com treinadores, duramente condenados por resultados rápidos tanto pelos times como pela imprensa, e jogadores.
Uso do exemplo brasileiro pois é provável que isso ocorra com o San Francisco 49ers nessa temporada. Quando Kyle Shanahan deixou o posto de coordenador ofensivo dos Falcons em 2017 – logo após comandar o melhor ataque da temporada e levar Matt Ryan a vencer o prêmio de MVP – para assumir o time da Califórnia, era esperado que a franquia largasse os anos de marasmo por uma nova e vencedora safra.
O primeiro ano foi de transição e, quando Shanahan conseguiu seu franchise quarterback em Jimmy Garoppolo, a franquia embalou cinco vitórias consecutivas e os ventos de bonança pareciam reencontrar o rumo da Baía de São Francisco. Porém, todos sabemos o que ocorreu na trágica temporada de 2018: Garoppolo se machucou no terceiro jogo da temporada e todo o planejamento do ano foi por água abaixo, amargando uma campanha 4-12 que levou San Francisco a garantir a segunda escolha geral do Draft de 2019 (a 4ª vez desde 1970 que a franquia tem uma escolha no top 3).
A NFL não se assemelha nem de perto ao futebol brasileiro em termos de resultados de curtíssimo prazo, contudo, Shanahan chega ao seu terceiro ano no comando com um leve incômodo em enfim conseguir uma temporada positiva e Garoppolo quer provar ser um quarterback de primeira prateleira.
Grande parte disso passa pelo Draft e pela necessidade dos 49ers de capitalizar bem 6 escolhas que tem (picks 2, 36, 67, 104, 176 e 212). Quais pontos devem ser focalizados e quais prospectos devem ser buscados? É o que veremos em sequência.
O ataque dos 49ers e quais pontos devem ser priorizados
O ataque de San Francisco não possui grandes nomes, mas possui um gênio esquematizando todos eles. Shanahan pode ser considerado, discutivelmente, a melhor mente ofensiva da liga e consegue tirar leite de pedra com seus maravilhosos desenhos de rotas que sempre deixam algum recebedor livre. Porém, o reforço é essencial para que o treinador não tenha que tirar leite de pedra e seu ataque possa ser potencializado.
Comecemos pela linha ofensiva. A unidade está longe de ser o principal problema da franquia, mas também não é capaz de trazer solidez. Assistindo o condensado das partidas dos 49ers em 2018, algo é nítido ao primeiro olhar: os offensive tackles conseguem fazer bem seu trabalho, mas no miolo da linha ofensiva há uma clara inconsistência. De acordo com o Football Outsiders, a franquia fica em 22º lugar na proteção ao passe e o estilo de corrida de maior sucesso é a outside zone (ou seja, por fora dos offensive tackles) devido as habilidades de Joe Staley e Mike McGlinchey em serem razoavelmente consistentes.
Os 49ers precisam de reforço no interior do setor, mas não creio que farão isso nas duas primeiras rodadas e, como sabemos, da terceira rodada para baixo encontrar potenciais talentos é muito mais difícil. Porém, é possível extrair algum valor no início da terceira rodada com prospectos como Chris Lindstrom ou Michael Deiter – não tem a mínima ideia de quem seja? Compre o guia do On The Clock e saiba tudo sobre os dois prospectos –. Enfrentando Aaron Donald, as boas linhas defensivas de Saints e Browns e uma unidade renovada dos Packers nesse ano, consistência na unidade é a palavra chave para encontrar o rumo da vitória.
Mudando para os running backs, esse é um comitê forte em San Francisco e que não deve ser focado no Draft. Além do excelente Matt Breida, os 49ers contam com a volta de Jerick McKinnon – que perdeu a última temporada inteira por uma lesão no joelho – e a chegada de Tevin Coleman pela free agency, o qual trabalhou com Shanahan em sua passagem por Atlanta.
Agora, nos deparamos com o principal problema do ataque: o grupo de recebedores. Com tight ends a franquia não precisa se preocupar, pois possui em George Kittle um dos três melhores da posição na NFL. Porém, o grupo de wide receivers necessita de uma atenção especial e deve ser olhado com carinho no próximo Draft. Sim, Jordan Matthews chegou como agente livre e é um bom acréscimo ao setor, mas um grupo formado por ele, Marquise Goodwin e Dante Pettis – draftado no ano passado – não pode ser considerado especificamente uma ameaça. Os 49ers precisam estar olhando com carinho alguns nomes como Riley Ridley ou Marquise Brown para o topo do dia 2, que possam chegar trazendo impacto imediato, mas há um “porém” que deve estar atormentando a cabeça de John Lynch general manager da franquia e que falarei sobre no fim do texto.
Por último, o principal: Jimmy Garoppolo. Obviamente os 49ers nem pensarão em quarterback nesse Draft, mas se querem ir longe na temporada, é necessário que sue principal astro mostre consistência e um nível de atuação semelhante a sua chegada, no fim de 2017. Para isso, é necessário um bom Draft, para que Garoppolo fique a mercê de um dia bom de seus recebedores e de sua linha ofensiva. Do contrário, uma nova temporada mediana pode estar a caminho.
Porém, será que San Francisco focará na parte ofensiva no recrutamento, já que sua defesa também está cheia de buracos?
A defesa: o que há além da escolha de Nick Bosa?
Sim, os 49ers vão escolher Nick Bosa e nem a própria franquia tentou esconder isso fazendo algum tipo de cortina de fumaça em torno da segunda pick. Será a terceira vez desde 2015 que San Francisco seleciona um jogador de linha defesa na primeira rodada. As outras escolhas? DeForest Buckner, Arik Armstead e Solomon Thomas.
Buckner é um jogador excepcional e atingiu a marca de 12 sacks no ano passado; Armstead é um jogador consistente que faz muito bem o “trabalho sujo”, pois segura bem o jogo terrestre e atrapalha a linha ofensiva para que jogadores como Buckner consigam os grandes números; Thomas é a decepção até aqui, mas melhorou após ser movido para o interior da linha, jogando mais como 3-tech e não como EDGE, porém, necessita provar seu valor em 2019.
Além disso, a adição de Dee Ford pela free agency – vindo de sua melhor temporada na carreira, com 13 sacks – deve tornar a chegada de Nick Bosa mais disruptiva do que seria normalmente, afinal, as linhas ofensivas adversárias terão muitas armas para confrontar. A escolha de Bosa deve ter um grande impacto desde o primeiro jogo e ajudará a revitalizar um dos problemas da franquia: o pass rush, que foi o 24º da liga em 2018. Nick Bosa, DeForest Buckner, Dee Ford e uma rotação entre Armstead e Thomas: é por essa bela linha defensiva que os 49ers devem começar sua revitalização defensiva.
Outro setor que não deve ser focado no Draft, assim como os running backs, é o grupo de linebackers da equipe. Fred Warner se mostrou confiável e Kwon Alexander chegou para reforçar a posição – em um dos grandes contratos da free agency. Nada de especial por aqui.
Se por um lado o principal problema do ataque é o grupo de wide receivers, por outro o principal problema da defesa é a secundária. Na última temporada, o setor permitiu 35 touchdowns aéreos e obteve apenas 2 interceptações; a pior relação touchdown/interceptação da história da NFL.
O departamento de cornerbacks possui, basicamente, Richard Sherman (e estamos em 2019, não em 2013) e torce para que Jason Verrett – contratado na free agency – fique saudável. O grupo de safeties sofre ainda mais, sem nenhum jogador que traga impacto a posição após a saída de Eric Reid. Isso poderia ser minimizado em outra época, mas com a dominância do jogo aéreo e estando em uma divisão em que se encara os Rams de Sean McVay, os Seahawks de Russell Wilson e os Cardinals com a chegada de Kingsbury, duas vezes por ano, a importância de uma secundária eficiente cresce.
O ideal seria, então, escolher um jogador da posição no topo do dia 2, correto? Porém, tomar essa atitude equivale a negligenciar o ataque e deixar de gastar uma escolha em um wide receiver para ajudar Garoppolo. O dilema de John Lynch, mencionado antes, vem à tona. O que é o melhor a ser feito para que San Francisco cumpra a promessa e se torne uma ameça na NFC?
A chave para ser uma ameaça: a escolha 36
Como diria Thanos: “We’re in the endgame now“. O ultimato dos 49ers é o que fazer com a escolha de topo de segunda rodada para ter impacto na conferência nacional: aumentar sua ameaça no jogo aéreo ou impedir a ameaça adversária reforçando sua defesa contra o passe.
Duas hipóteses podem ser colocadas: trocar para baixo com algum time desesperado para subir (usando a tabela de trocas, podendo acumular duas escolhas de segunda rodada e usá-las com as posições carentes) ou usar no principal problema – a secundária – e apostar na genialidade de Shanahan e na habilidade de Garoppolo.
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O alto risco existe em ambas. Se trocar para baixo, pode-se adicionar um wide receiver (Stanley Morgan Jr. ou Hakeem Butler, por exemplo) e um jogador de secundária (Kris Boyd, Taylor Rapp) que estejam disponíveis no meio/fim da segunda rodada, mas é difícil esperar que bons jogadores estejam disponíveis. Os jogadores que mencionei seriam boas adições ao time, mas caso sejam escolhidos antes, San Francisco pode cometer um reach em um momento de despreparo.
Por outro lado, a franquia pode focar em recompor a secundária no topo da segunda rodada e deixar uma potencial adição ao grupo de wide receivers para depois, apostando que Shanahan extrairá o máximo de seus recebedores e que Garoppolo terá um ano de MVP. Porém, se qualquer lesão ocorrer e os recebedores não conseguirem ser consistentes, essa aposta vai por água abaixo e os cartazes de “intervention” serão a moda no CT de San Francisco.
A chave para se tornar ameaça na NFC passa por um excelente Draft. Se Nick Bosa é uma certeza na segunda escolha geral, a pick de segunda rodada deve ser a real diferença para a temporada de San Francisco – e saberemos isso quando o primeiro snap for realizado em setembro.
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