O quanto alguém pode desenvolver seu potencial se estiver no ambiente perfeito? É a resposta que Marv Marinovich procurou responder na criação de Todd, seu filho mais velho. Todd foi treinado desde o primeiro mês de sua vida – literalmente – para ser o melhor quarterback da história, só que o plano deu terrivelmente errado. O mesmo ambiente intenso e totalmente focado em desenvolvimento criado por seu pai fez com que o medo e a ansiedade dominassem a mente de Marinovich, o que lhe impediu de amadurecer e, posteriormente, lhe fez entrar no caminho das drogas, resultando no fracasso da sua carreira profissional.
A criação do atleta perfeito
Imagine uma criança que não podia comer um Big Mac, tomar Coca-Cola, comer biscoito e que tinha de levar seus próprios alimentos para festas pra evitar açúcar em excesso. Era esse o ambiente que permeava a vida de Todd, que só consumia esses alimentos de forma escondida para escapar da fúria de Marv, seu pai. Desde o primeiro mês de vida, o filho já era forçado a fazer alongamentos para sua coxa; quando tinha quatro anos, ele já conseguia correr quilômetros em apenas meia hora. A alimentação de Todd era totalmente baseada em frutas, vegetais frescos e leite.
Marv havia sido um guard por USC nos anos 1960, no entanto, sua própria carreira foi encurtada por problemas causados pelo excesso de treino, especialmente físico. Ele era tão obcecado com isso que, depois de estudar métodos soviéticos, ele tornou-se o primeiro preparador físico da história da NFL ao ser contratado por Al Davis para o Oakland Raiders. Com esses mesmos métodos, e também estudando química e biomecânica, ele posteriormente abriu uma academia e resolveu aplicar todas as técnicas de desenvolvimento físico no seu filho.
O problema é que Marv era tão intenso nesses treinamentos, e o assédio mental sobre seu filho era tão grande, que Todd tinha medo de fazer qualquer coisa fora do programado para não criar qualquer problema com seu pai. Em campo, ele teve uma carreira fantástica durante o ensino médio, mas desde lá ele já consumia maconha para escapar da ansiedade que sentia por conta de seu pai.
Enquanto a carreira do filho decolava em USC, onde ele venceu 9 jogos ainda como calouro e criou grande expectativa numa das universidades mais midiáticas do país, seu caso começou a receber atenção nacional. Uma revista da Califórnia lançou uma capa com a manchete “Roboquarterback: a criação do atleta perfeito”, e posteriormente ele apareceu na capa da Sports Illustrated numa matéria intitulada “criado para ser uma estrela”.
Toda essa pressão começava a pesar cada vez mais no jogador que, livre das amarras do pai, se afundava cada vez mais nas bebidas e nas drogas. Ele tornou-se viciado em cocaína, seu desempenho em campo começou a cair, ele teve brigas com o treinador Larry Smith e chegou a ser preso. Mesmo assim, ele ainda foi escolhido na primeira noite do Draft de 1991, o segundo quarterback daquela classe – o terceiro seria Brett Favre, pelo Atlanta Falcons na segunda rodada.
O fracasso na carreira profissional
Marinovich até impressionou na sua primeira pré-temporada com a equipe, mas só foi entrar em campo na última semana da temporada regular, contra o Kansas City Chiefs, por conta da lesão sofrida por Jay Schroeder, que já tinha um título na sua carreira conquistado em Washington. Os Raiders perderam aquela partida, só que o bom desempenho do calouro fez com que ele mantivesse a titularidade para o confronto de wild card na semana seguinte, contra os mesmos Chiefs. No mata-mata, a história foi diferente: quatro interceptações de Marinovich e uma derrota por 10-6.
No ano seguinte, ele roubou a titularidade de Schroeder depois de duas derrotas para a abrir a temporada de 1992; porém, a inconsistência e o alto número de turnovers do segundanista fizeram com que Schroeder recuperasse a vaga, no que seria a última vez que Marinovich entraria em campo pela NFL. Ele usava cada vez mais drogas, incluindo LSD, já que essa não era detectada nos testes. Em 1993, após falhar mais um teste anti-doping por uso de maconha, ele foi suspenso por toda a temporada e posteriormente dispensado dos Raiders, nunca mais assinando com uma equipe da liga.
O problema é que o dano era muito grande e, mesmo fora do esporte, Todd continuou a ter sérios problemas com seu vício em drogas, sendo preso diversas vezes e tendo dificuldade de colocar sua vida no lugar pela forma que foi criado – como ele sempre foi muito protegido por seu pai, as responsabilidades regulares da vida adulta eram muito problemáticas para ele. Hoje, ele está sóbrio há cerca de 4 anos e possui uma galeria de arte online.
Seu pai, Marv, faleceu em dezembro de 2020 aos 81 anos vítima da Doença de Alzheimer.
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