Você que está me lendo pode ser médico, engenheiro, lenhador, seja a profissão que for, não tenho ideia. Mas provavelmente você vai para o trabalho e, bem, trabalha. A NFL, porém, tem uma dura realidade: o quarterback é a posição em que apenas um trabalha “de verdade”. Claro, que todos vão aos treinos e etc, mas ir ao campo? Apenas um. Running backs costumam dividir carregadas – a menos que você se chame Derrick Henry – e os wide receivers são três, às vezes quatro entrando com frequência em campo. Quarterback? Apenas um.
Esse quê de Highlander à profissão (claramente entreguei a idade agora) mostra como ela tem uma faceta bastante cruel. Ser quarterback reserva deve ser a maior ansiedade que existe no mundo. Poucas precisam que o lado emocional esteja tão equilibrado como essa. Primeiro porque a tendência é que você seja um figurante de novela na sideline. De vez em quando, você segura uma prancheta e coloca um headset para mostrar-se mais útil. Mas no fundo todos sabemos: o quarterback reserva é a apólice de seguro que ninguém lembra que existe e que no fundo ninguém quer usar.
A posição tem um quê ainda mais sádico: muitas vezes, o quarterback reserva já foi titular antes. Imagine você, no seu trabalho, não ir bem o suficiente e ficar fadado pelo resto da carreira a assistir os outros fazendo aquilo que você ama. Por isso tudo, Gardner Minshew e todo seu carisma são meu personagem da semana. Eu sei o que você já está pronto para dizer: eram os Jets, Curti. Eu sei. Mas vale lembrar que os Jets já fizeram bons times tropeçaremos últimos dois anos. Poderia ser o caso com Philadelphia aqui. Minshew, porém, fez o que lhe foi pedido: o jogo terrestre fluiu, ele teve eficiência e não entregou a bola para o adversário. Foi – consideravelmente – melhor do que a encomenda.
A cena de Minshew abraçando o pai depois da vitória resume os primeiros parágrafos desta crônica. A vitória não coloca necessariamente uma controvérsia de quarterbacks na Philadelphia, mas é uma vitória que mostra o valor de Minshew para a NFL. Vitória essa que lhe dá um respiro, talvez alguns anos a mais de carreira, quem sabe. Você não vai jogar hoje, não serve para ser titular, não consegue conduzir um time à vitória, não consegue proteger a bola. O jogo de ontem, acima de tudo, foi uma vitória de Minshew sobre a palavra que resume o quarterback reserva: um grande Não.
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