A gente nunca vai entender o que deve ser passar pelo quê ele passou. Ele está com dor. Ele lutou, semana a semana, para manter o nome da cidade de Indianapolis no topo do futebol americano depois de herdar essa missão do camisa 18. Cercado de expectativas e amplamente laureado como o melhor prospecto no Draft em anos, Andrew Luck materializou tudo o que um quarterback deveria ser: líder, exímio passador, fazia a progressão de passes.
Infelizmente, a habilidade que faltou por todos esses anos foi a disponibilidade. Hoje, é fácil acusar Luck de ser de vidro e coisas do gênero. O que poucos esquecem foi a quantidade de punição que ele teve por anos devido à negligência da diretoria dos Colts para com sua linha ofensiva – que só em 2018 se estabilizou. Durante a administração Ryan Grigson, Luck foi o quarterback mais pressionado e o que mais apanhou na NFL – a média foi de absurdas 16 pressões por jogo. Uma hora, o corpo pagaria a conta.
Pagou.
A gente nunca vai entender o que deve ser treinar com dor ou, em meio a salários milionários e todo o mais, não poder realizar o que ama – e, pior, deixar de se divertir ao se trabalhar com o quê ama – porque seu corpo não aguenta mais o fardo. Atletas profissionais ou não, eles não são nossa propriedade e tampouco dos times, como robôs cujos únicos propósitos na vida se resumem a realizar movimentos atléticos.
A foto que ilustra esta crônica é a de um homem que teve a coragem de desistir para que a dor não se arrastasse – tanto mentalmente quanto fisicamente. E não é fácil ter a capacidade e a humildade de saber quando se perdeu. De sua entrada na NFL até hoje, ele nos ensinou muita coisa.
Luck fez parte da primeira classe de Draft, a de 2012, que avaliei de maneira mais profissional para o site pela primeira vez – foi nossa primeira offseason com o então The Concussion. Ali as coisas ficaram um pouco mais profissionais e menos “hobby”.
Meu teste para entrar na ESPN também foi com ele – aquele Chiefs e Colts nos playoffs, com uma virada fantástica. Depois, eu tomei para mim, a missão de tentar mostrar às pessoas que ele era além daquele cara que, infelizmente, só se machucava. Após 86 jogos de carreira, apenas Aaron Rodgers e Dan Marino tiveram mais TDs do que ele.
Hoje, essa missão acabou.
De certa maneira, eu tenho um apego profissional a ele. Por isso a tristeza. Eu realmente não estava planejando me emocionar assim – o que de certa forma pode ser considerado exagero para alguns. Mas sou autêntico com vocês. Na crítica ou em qualquer outra emoção.
A gente nunca vai entender a coragem que ele teve que ter para seguir batalhando contra a dor. Só vai conseguir admirar o homem por baixo do capacete.
