Curti, Crônica: Nada é mais cruel do que o playoff da NFL

Um jogo de soma zero, embora o placar não mostre. A tristeza de um é a alegria de outro. Nada é mais divertido para uns e cruel para outros do que mata-mata. Ou melhor; Apenas mata. 

Sinceramente, não sei o que é pior para o coração de um torcedor. Uma série melhor de 7, como na NBA e no final da pós-temporada da MLB, ou o fim súbito nos playoffs da NFL. É um equívoco chamar a pós-temporada do futebol americano de mata-mata. É mata. Só isso.

Você passa a semana inteira sonhando, criando cenários na cabeça. A expectativa é a mãe da frustração. “E se passarmos pegamos quem? Será que dá para ganhar fora de casa duas vezes?”. “Será que nosso quarterback é páreo para o deles?”. Conjecturas, pensamentos, nervos à flor da pele. De repente, em mais ou menos três horas, o sonho acaba.

Ou antes. No sábado, o New England Patriots ruiu diante dos olhos de seu torcedor naquela que de longe foi a pior derrota de Bill Belichick na pós-temporada. De repente, os Bills abriram 14 a 0 e o fã patriota que bem conhece seu time sabia que era um caminho sem volta – New England não virou nenhuma partida em 2021 quando atrás por tantos pontos no placar. O ar foi expulso dos pulmões já no primeiro tempo. A noite mais longa de sono foi a opção para muitos em vez de um arrastado sofrimento.

E os Eagles? Melhor ataque terrestre da NFL, Philadelphia não teve muita chance contra Tampa Bay embora o duelo pudesse encrencar. Tampa terminou o ano como a 15ª defesa contra a corrida. Lesões atrapalharam, claro. Saudáveis, dão trabalho. Ou melhor: roubaram trabalho. Os Eagles nada puderam fazer pelo chão e Jalen Hurts foi totalmente exposto em descidas óbvias de passe. A crueldade aqui é justamente porque, bem, nem o que o torcedor de Philadelphia melhor esperava aconteceu. Um passeio bucaneiro.

Nenhuma crueldade deve ser maior, porém, do que a que aconteceu com o coração do torcedor de Dallas. A imagem que cristalizou na minha retina é a que ilustra este texto. Uma torcedora anônima do Dallas Cowboys que, no fundo, resume o estado da arte na franquia. Um choro que não parecia tão somente de tristeza, mas de desolação, de incredulidade. Um time que venceu a divisão com o pé nas costas, com um dos mais talentosos quarterbacks da atualidade, com o calouro defensivo do ano. Ruindo para uma equipe que classificou na prorrogação da semana passada. O torcedor do Dallas Cowboys fazia planos para ao menos voltar à final de Conferência, coisa que não vê desde 1995. Acabou fazendo planos de tentar entender mais um derretimento em playoffs. Quanto maior o sonho, maior a desilusão.

Nem tudo é tristeza, porém. O torcedor dos 49ers, que por vezes pediu a cabeça de Jimmy Garoppolo, agora pretende defendê-lo e faz sonhos de jogar uma final de Conferência tal como naquele mágico janeiro de 2020, quando as coisas pareciam mais simples e sem máscaras. O torcedor dos Bills, em meio a tanta oscilação, lavou a alma no sábado após 20 anos de patriotas engasgados na garganta. O fã de Tom Brady sonha em ver seu ídolo colocar um oitavo anel no dedo. O fã de Las Vegas sente um misto de tristeza e orgulho. O de Cincinnati, um sentimento puro de certeza do amor perfeito de ter encontrado um verdadeiro franchise quarterback.

Um jogo de soma zero, embora o placar não mostre. A tristeza de um é a alegria de outro. Nada é mais divertido do que mata-mata. Ou melhor; Apenas mata.

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