Pegando emprestado a grande expressão de Seu Madruga pra começar este texto com seu título. Mas poderia também ser o caso para a expressão um pouco mais polida de Fernando Pessoa, dizendo que tankar “não vale à pena quando a alma é pequena”. Antes de mais nada… Tankar? Expressão usada nos Estados Unidos para “perder de propósito”. Claro que não é o caso de jogadores. Mas vez ou outra, nos esportes americanos, diretorias desmontam elencos para “perder” e ter uma posição alta no Draft.
Tanto é um fenômeno que acontece que a NBA tem a loteria do Draft para tentar coibi-lo um pouco. Mas, mesmo assim, ele acontece. Entendo quem defende? Entendo. Mas não concordo. Não existe absolutamente qualquer garantia que ao tankar para pegar um bom prospecto você vai 1) Conseguir o melhor ou 2) Que ele dê certo. Reestruturar com dignidade, especialmente em times localizados em grandes mercados consumidores, me parece uma ideia melhor.
O caso do San Francisco Giants é paradigmático na MLB. O time tinha (ainda tem) vários jogadores velhos e era um candidato ao tank. Resolveu se esforçar e o resultado foram mais de 100 vitórias na temporada passada, brigando de igual para igual com o rival todo-poderoso Los Angeles Dodgers. Depois da saída de Tom Brady, os Patriots podiam tankar ou qualquer coisa. Jogaram com o máximo de dignidade possível e conseguiram em Mac Jones – na 15ª escolha, frise-se – um bom ambiente para o futuro. “Ah, mas ele caiu no melhor time entre os calouros que foram titular!”. Justamente esse o ponto.
A diferença entre o remédio e o veneno muitas vezes é a dose. O perigo dos tank é esse. Deixar tanta terra arrasada que para voltar, por mais que você consiga um cara de topo de Draft, pode dar ainda mais trabalho. Ao importar o tank da NBA, a NFL precisa se atentar que não estamos falando num time em que 1 jogador tem um impacto bizarro a ponto de LeBron James transformar Cleveland em competidor ou em nada simplesmente com sua presença ou ausência. São cinco em quadra no basquete. No futebol americano são onze. Por mais que um quarterback tenha um impacto grande, com pouco elenco de apoio existe a possibilidade dele naufragar. Porque ele não vai poder toda hora pegar a bola, bater pra dentro e fazer a bandeja.
Veja o caso do Miami Dolphins e do Jacksonville Jaguars. “Tank for Tua” foi o slogan, ele veio e ainda não mostrou o que esperávamos. O Jacksonville Jaguars chegou à final da AFC em 2017, mandou a defesa inteira pra longe, teve a pior campanha e pah: conseguiu Trevor Lawrence, o prospecto iluminado que ia resolver tudo. Mas… “Por mais que um quarterback tenha um impacto grande, com pouco elenco de apoio existe a possibilidade dele naufragar. Porque ele não vai poder toda hora pegar a bola, bater pra dentro e fazer a bandeja”.
O problema do tank na NFL é deixar o terreno tão, mas tão infértil que por mais que você tenha um grande quarterback prospecto, ele pode ter chances menores de vingar. Por isso, prefiro algo mais saudável, a reconstrução digna. O exemplo do New York Giants é um bom caso para se falar. Jimmy Garoppolo não é um franchise quarterback. Mas é consideravelmente melhor que Daniel Jones em minha concepção. Com Brian Daboll chegando, Leonard Williams/Kayvon Thibodeaux/Azeez Ojulari/secundária e OL ok… Dá para imaginar que nessa NFC o time poderia brigar por pós-temporada. Com Daniel Jones? Não. Tyrod Taylor? Idem.
Ah mas com eles o time poderá pegar um quarterback top no próximo Draft. Sim, e pode desperdiçar um ano de Calouro Defensivo do Ano de Thibodeaux, um ano forte de Williams, o segundo ano (de quatro de contrato) de Ojulari e colocar mais pressão do que deveria num segundo ano de Daboll. Sem contar que não existe nenhuma garantia 100% de que qualquer quarterback no ano que vem vá dar certo na NFL ou que sobre para os Giants.
Ainda, vale lembrar: Kansas City não precisou tankar para pegar Patrick Mahomes. Buffalo não tankou para pegar Josh Allen. Nem mesmo Chicago o fez para pegar Justin Fields. Todos subiram no Draft e isso é plenamente possível e em minha opinião consideravelmente mais saudável, em termos de terra fértil, do que destruir tudo e dar a franquia na mão de um quarterback universitário de 23 anos sem ajuda nos arredores.
Atlanta e Houston são outro caso, porque a destruição já começou e está em estado avançado. No caso do New York Giants, dignidade seria bem-vinda. Estamos falando do maior mercado consumidor da liga, cuja última vitória em pós-temporada foi em fevereiro de 2012 no Super Bowl. São 10 anos de mediocridade. Tentar algo agora em vez de fazer o torcedor passar raiva com Daniel Jones me parece uma ideia melhor.
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