Uma coisa pouco falada é como um time de futebol americano é parecido com uma novela ou filme: por mais que o elenco tenha suas estrelas, elas não funcionarão sem bons coadjuvantes lhe dando suporte. Afinal de contas, toda obra cinematográfica tem um orçamento que não pode ser excedido, sob a pena de não conseguir concluir o processo. Na NFL não é diferente: não dá para ter Patrick Mahomes, Trent Williams, Aaron Donald e Khalil Mack no mesmo elenco ou estourará o limite salarial da liga.
E é aí que entram as peças que dão sustentáculo aos astros: os operários do campo e das telas tem a função de fazer o trabalho sujo para que os outros brilhem. Na NFL, grande parte destes chegam a liga via dia 3 do Draft. Segundo informação do analista Field Yates, da ESPN americana, 68% dos atletas que estiveram em campo em 2020 foram draftados da quarta rodada em diante ou mesmo nem selecionados. Seguindo nossa analogia com cinema, dá para dizer aqui que Oscar Wilde estava certo ao afirmar que a vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida.
Acertar no dia 3 é fundamental
Não existem dúvidas que acertar nas escolhas de dia 3 do Draft é muito mais complexo. Segundo Bill Pollian, general manager campeão do Super Bowl XLI pelo Indianapolis Colts e integrante do Hall da Fama, “… as escolhas de dia 1 e 2 são fáceis de fazer. As do terceiro dia é que lhe dão o Super Bowl”. Isso é evidente: o talento está explícito em rounds mais altos, onde estão aqueles em que é fácil encontrar valor. Já nas rodadas inferiores, o nível de todos parece muito próximo, sendo necessário peneirar e diferenciar quem pode realmente ser útil na NFL ou apenas um nome para carregar equipamentos de treino.
Até por isso alguns time traçam algumas estratégias para as rodadas derradeiras. Uma das mais comuns é apostar em jogadores atléticos, que tiveram resultados altos após os testes no Combine e Pro Days. A métrica mais usual é o RAS: através da combinação de medições de peso, altura, testes de velocidade, explosão e agilidade é dado um coeficiente, que indica o nível de atleticismo do jogador. Com base nisso, as franquias que adotam este critério usam a seguinte lógica: é possível desenvolver tecnicamente um bom atleta e lhe tornar um jogador de valor, mas não é possível tornar um cara mediano num bom atleta. Atleticismo não se ensina.
Algumas posições são mais fáceis de se ter êxito
Costuma-se dizer que posições premium são as mais dificeís de se encontrar valores no último dia do Draft, até pela escassez: quarterbacks, offensive tackles, EDGEs e cornerbacks de primeira prateleira tem desempenho notoriamente superior aos dos escolhidos no dia 3. Entretanto, em algumas outras funções essa discrepância é menor e mais famosa delas é na de running back, onde nomes como Aaron Jones e Chris Carson são exemplos de escolhas tardias que deram bons resultados. Outra posição cujos talentos sempre sobram para o final do recrutamento são tight ends (vide George Kittle e Darren Waller) e jogadores dos miolos de linha ofensiva e defensiva.
Outra coisa muito observada pelos treinadores e general managers antes das escolhas é a capacidade de contribuição nos times de especialistas. Não tem nada mais frustrante que uma equipe que vá bem dos dois lados da bola e entregue pontos nos special teams. Um exemplo clássico disso é o San Diego Chargers de 2010: terminou a temporada com o melhor ataque e a melhor defesa, mas NÃO foi aos playoffs por conta dos erros nos times de especialistas, que teve 4 punts bloqueados e 3 kickoffs retornados para touchdown, além de erros que cederam inúmeras jardas. Quem consegue se destacar cobrindo e bloqueando nos times de chutes tem mais chance de conseguir uma vaga.
Então fica claro que apesar de ser nos primeiros dois dias que sairão a maioria dos jogadores que terão seus rostos nas campanhas publicitárias, assinarão mega contratos e baterão o recorde de vendas de camisetas, o Draft não acaba por ali. Nas últimas rodadas é onde será construído o alicerce de uma franquia campeã, então vale muito prestar atenção naqueles nomes que estão lá na parte final das picks de seu time: sem eles, os astros não produzem e não são mais que desperdício de dinheiro.
Para saber mais:
8 coisas que você precisa saber sobre o 2º e 3º dia do Draft
Envoltos em rumores sobre Rodgers, Packers fazem Draft mediano
Curti: 32 escolhas, 32 notas para a 1ª rodada







