A primeira demissão de treinador na temporada de 2024 aconteceu nesta terça-feira – e quebrou muita aposta por aí. O New York Jets, com uma campanha 2-3 e vindo de (mais) uma derrota com plano de jogo questionável, decidiu que era a hora de encerrar a parceria com Robert Saleh, que venceu 20 dos 56 jogos em que foi o treinador principal.
O timing da demissão surpreende, acontecendo no meio de uma temporada de muita expectativa e com o retorno de Aaron Rodgers aos gramados fazendo dos Jets um forte candidato aos playoffs. Só que passa longe de ser injustificável, seja por motivos de anos anteriores ou até pela forma que 2024 começou. E até o interino escolhido faz sentido.
Robert Saleh, O Treinador Hipotético
Faz bastante tempo que a demissão de Adam Gase (antecessor de Saleh) aconteceu, porém, talvez os leitores mais antigos do site se recordem que o apelido de Gase ao longo da temporada de 2020 acabou por se tornar Brilhante Mente Ofensiva™. Em resumo, ele se tornou head coach na NFL por ser considerado um ótimo treinador de ataques, o que se devia especialmente ao seu trabalho com Peyton Manning. A questão é que seu trabalho individual foi muito ruim e ele não durou muito.
Na superfície, Saleh foi uma melhora considerável em relação a Adam Gase. A questão é que aqui é algo meio Carolina Panthers: sabe como Andy Dalton foi uma melhora considerável em relação a Bryce Young? Pois bem, isso não faz de Dalton um grande quarterback. O mesmo se aplica aos Jets, cuja paciência acabou após mais um jogo mal treinado na Semana 5 – e a diferença sutil que esse é um ano cheio de expectativa.
Desde o primeiro ano do ex-coordenador defensivo do San Francisco 49ers, alertávamos que os planos de jogo desenvolvidos por Saleh e as péssimas exibições do time não podiam ser justificadas apenas com lesões ou por falta de talento. A falta de desenvolvimento de Zach Wilson é uma coisa; a insistência com ele e as declarações malucas defendo seu quarterback em 2023 é outra. Uma defesa bem treinada é sempre bom, porém a função dele era comandar o time todo. E isso ele fez bem mal durante sua passagem em New York.
Produto da árvore de Kyle Shanahan, existia um foco também no estabelecimento do jogo terrestre como modelo ofensivo. Quando seu quarterback é Zach Wilson isso faz mais sentido, bem menos quando seu passador é Aaron Rodgers – que não escondeu sua insatisfação com o plano de jogo ofensivo da equipe em exibições recentes.
Embora tenha se provado um ótimo coordenador defensivo, e embora a defesa do New York Jets passasse longe de ser um problema, o escopo da função desempenhada por Robert Saleh é muito maior. Uma função que, em três temporadas e meia, ele nunca se mostrou capaz de desempenhar em bom nível. Saleh conseguiu a proeza de ser demitido no meio da temporada quando nem mesmo Adam Gase o fez. Isso lhe diz o quanto Woody Johnson está ansioso para ver seu time nos playoffs novamente e o quanto ele desejava uma mudança.
Interino nem sempre é ruim
É claro que demitir um treinador no meio de um ano de muita expectativa não é o que se espera, no entanto o caso dos Jets tem algumas peculiaridades. Isso porque quem assume a função de forma interina é Jeff Ulbrich, o coordenador defensivo da franquia – em outras palavras, não se espera uma mudança na filosofia defensiva, que vinha sendo o ponto forte da franquia até então.
Com um novo treinador, um novo ambiente e novas idéias, Aaron Rodgers pode ser mais ouvido. Novos planos de jogo podem ser desenhados e, consequentemente, novas fórmulas podem mostrar mais sucesso. Associamos demissão de treinadores com times ruins por razões óbvias, no entanto, existem exemplos de trocas (nem sempre intencionais) que não resultaram num fim de temporada para equipes, como Bruce Arians em 2012 ou Rich Bisaccia em 2021.
Por mais chocante que seja, não é injustificável o movimento do New York Jets.
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