Derrick Henry, Saquon Barkley e a nova discussão sobre pagar running backs na free agency

Os contratos mais "baratos" dos free agents de 2024 reacenderam a discussão sobre contratos para jogadores da posição no mercado, mas a verdade é que eles não mudam nada nos princípios de pagar running back

running backs

Ao longo dos vários anos de história do Pro Football, ficou clara a posição editorial com relação aos contratos dos running backs. O avanço das estatísticas analíticas e o modo de ver o jogo dos integrantes convergiam com a teoria de que os jogadores da posição eram substituíveis e que o dinheiro do salary cap deveria ser alocado em outras áreas do elenco. Contratos como o de Ezekiel Elliott (2019), Le’Veon Bell (2019), Todd Gurley (2018), Devonta Freeman (2017) e David Johnson (2019) serviam como bons exemplos.

A posição editorial nunca foi forçada. Era apenas um consenso de toda a equipe em relação aos resultados que tais renovações grandes de contrato traziam. Mas também não era uma filosofia absoluta: renovações como a de Derrick Henry em 2020, com média de 12,5 milhões de dólares, eram muito mais aceitáveis do que algumas das citadas acima. Cada caso é um caso e merecia sua própria análise.

São justamente esses casos que estão reacendendo a discussão em 2024. Saquon Barkley e Derrick Henry, os melhores running backs de 2024 por praticamente toda métrica que você olhar, foram contratados na free agency e estão tendo papéis importantíssimos junto de Philadelphia Eagles e Baltimore Ravens. No frigir dos ovos, os dois contratos nos ensinam que… pagar caro num running back continua sendo ruim. O que muda é a definição de caro.

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Pouco antes do início da temporada, fizemos um texto fazendo uma comparação de teto salarial entre 2011 e 2024 usando contratos de quarterbacks como base. Além de apresentar números que contavam apenas a variação da inflação do cap, também serviu para mostrar que os jogadores da posição viram os principais contratos subirem bastante de valor. Isso aconteceu também em outras posições porque a NFL começou a dar cada vez mais valor para as superestrelas de seus elencos, especialmente porque, ao longo desses 13 anos, ficou cada vez mais clara a importância de ter jogadores no contrato de calouro produzindo bem no time.

Quarterbacks são os principais expoentes desse ponto. Mas não os únicos: na grande maioria das posições, a % alocada ao cap do jogador mais bem pago cresceu bastante; em cornerback, rolou uma leve subida; em safety, ficou estável. Porém, na posição de running back, a queda foi sensível: Adrian Peterson era o mais bem pago da liga (11,95%) e nesse ano, Christian McCaffrey ocupa o posto com apenas 7,44%. Outro fator notável é que, em 2024, só dois corredores (McCaffrey, Jonathan Taylor) ocupam mais de 5% da folha salarial, enquanto um grupo de oito jogadores o fazia em 2024.

A NFL está pagando menos em running backs e investindo mais em posições premium. O conceito por trás é o mais simples e óbvio possível: valor. É o mesmo conceito do porque se coloca tanta ênfase em contratos de calouro: o valor é muito baixo dadas as condições do último CBA, e se ele se torna um grande jogador nos seus primeiros anos na liga, então o valor de produção dele certamente é maior que o valor de custo.

Dito tudo isso, vamos aos contratos assinados por Barkley e Henry durante a free agency de 2024. A título de informação, todos os dados referentes a contrato e salary cap desse texto são provenientes do Spotrac:

Saquon Barkley: 3 anos, 37,75 milhões de dólares. 11,62 milhões em bônus de assinatura, 26 milhões garantidos na assinatura, média salarial de 12,58 milhões por temporada. 4,93% do cap em 2024.
Derrick Henry: 2 anos, 16 milhões de dólares. 7,79 milhões em bônus de assinatura, 9 milhões garantidos na assinatura, média salarial de 8 milhões por temporada. 3,13% do cap em 2024.

Na tabela seguinte, estão listados os cinco running backs que, em 2019, possuíam contratos com porcentagem maior do que Barkley possui em 2024, além de suas respectivas produções naquele ano. Por coincidência do destino, os cinco são justamente as renovações que foram citadas no texto acima

Não é preciso ser nenhum gênio para ver que os números dos cinco contratos acima não resultaram em boas produções. A exceção estatística é Ezekiel Elliott, no entanto, foi em 2019 que ele começou a dar sinais mais claros de declínio. E talvez mais notável, nenhum dos times dos cinco contratos acima esteve nos playoffs em 2019.

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Se Barkley e Henry estão em contratos menores que esse e estão com números maiores, é justo pensar que esses contratos são bons, então? A resposta pode diferir nos dois casos. Isso porque os valores de ambos os contratos são diferentes, e a média salarial tem uma diferença de mais de quatro milhões de dólares. Pode não parecer muito, mas acredite que é.

Para essa matéria, pedi a opinião de dois amigos que são dos mais gabaritados colegas de profissão sobre os dois contratos.

Deivis Chiodini: “Sobre Derrick Henry, acho um contrato super tranquilo, com média boa e pouco garantido. Mesmo que ele não renda em 2025, não serão os 10M no cap que vão mudar o mundo. Agora, sobre Barkley, não gosto do dinheiro garantido. Basicamente, os Eagles só podem cortá-lo em 2026 e ainda assim ficando com 15 milhões pendurados na folha para aquele ano e o seguinte. Saquon já teve anos com muitos toques na bola como 2024, e a temporada seguinte foi bem abaixo. Se o time vencer o Super Bowl esse ano, o risco terá valido a pena, mas é de se convir que as odds jogam contra a continuidade nesse nível. 28 jogadores tiveram 300 ou mais toques na bola de 2018 até 2022, e 86% deles perderam carga e jardas no ano seguinte de forma significativa”

Antony Curti: “Saquon Barkley e Derrick Henry são duas vitórias na Guerra dos Running Backs. Mas, tal qual a Guerra de Independência dos EUA teve uma belíssima ajuda francesa, todo contexto é importante: será que o desempenho seria o mesmo se Phiadelphia e Baltimore tivessem quarterbacks abaixo da média? É mais do que óbvio que não. Barkley enfrentou 10% a mais de box pesado em Nova York no ano passado. Natural: as defesas muitas vezes se concentravam nele e deixavam a natureza marcar Daniel Jones. Estamos, sim, diante de um novo paradigma: com o aumento do teto salarial, tendo um quarterback competente e uma linha acima da média é até incentivado gastar uns 13, 15 M num bom running back – haverá impacto. Mas não nos enganemos: segue sendo um luxo que nem todos os times podem ter. Se você não tem dinheiro para pagar o aluguel, de nada adiantará ter uma bela cervejeira com tela touchscreen.”

Ninguém tira o mérito da produção de Derrick Henry (1.407 jardas, 13 touchdowns, 5.9 de média) nesta temporada. Após deixar o Tennessee Titans, casa onde fez história na liga e que não deve competir no curto prazo, Henry encontrou um novo time cuja contratação casa perfeitamente com a filosofia ofensiva e abre espaço para o que gostam de fazer, combinando-o perfeitamente com Lamar Jackson. É o tipo de jogador que vale ter no elenco por 3,13% do cap? Sem dúvida. Mas os Ravens não estão mais fortes esse ano por sua adição: a queda defensiva é notável, e vale notar que esse ano o time chegou na Semana 15 com uma campanha inferior (8-5) do que tinham em 2023 (10-3).

Henry começou a temporada com atuações mais chamativas, porém é Barkley quem mais atrai a atenção nesse momento, chegando até a receber menções para o prêmio de MVP há mais ou menos um mês. Quando me diziam isso (pré-Semana 14, frise-se), era difícil não achar curioso: no último ano, Philadelphia iniciou a temporada com 10-1 antes do conhecido colapso em dezembro. Se o running back é assim tão valioso para o time, então como eles tinham uma campanha ainda melhor em 2023?

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Note que a discussão não está, de forma nenhuma, na qualidade dos jogadores. A dominância deles é inegável, e a cada corrida, a chance de explodirem para uma big play é grande. Mas um running back produz melhor quando existe a ameaça aérea, que esvazia o box e abre espaços. Ele também produz melhor quando a linha ofensiva é dominante e abre espaços para o jogo terrestre. Barkley e Henry são estrelas, só que, no olhar mais geral, eles não são as peças mais importantes de suas respectivas equipes.

As críticas antigas eram para contratos muito piores. Acordos como os de Ezekiel Elliott, Todd Gurley e Le’Veon Bell foram mais danosos em relação ao cap; isso não necessariamente que Barkley e Henry assinaram bons contratos, por mais baratos que tenham sido em relação ao que se costumava pagar. E isso não quer dizer que não sejam divertidos! O escritor desse texto, por exemplo, é torcedor do Philadelphia Eagles. É possível criticar a assinatura e os valores do contrato (como o fiz em março) e também ficar feliz vendo Barkley em campo (como o faço desde que a temporada se iniciou).

Em 2022, vimos Saquon ter uma queda considerável de produção na segunda metade da temporada, quando o New York Giants usava e abusava de sua qualidade. Sabemos que a durabilidade da posição de running back é baixíssima: quem garante que ele vai conseguir manter sempre esse nível? Mesmo que a queda não venha durante essa temporada, o time pode vê-lo despencar (ou se machucar) em 2025 e ainda ter 16,6 milhões de dólares de dead money em 2026. É muito dinheiro.

Talvez os dois contratos não tenham o mesmo risco atrelado, principalmente pelo corredor dos Ravens ser mais barato e ter menos duração em seu vínculo. O que não muda, entretanto, é que investir muito num running back continua sendo um movimento ruim e bastante passível de questionamentos, não importa quem seja ele. Mesmo que terminem a temporada explodindo estatísticas, sabemos bem a razão pela qual a lista de favoritos sempre inclui o Kansas City Chiefs, o Buffalo Bills e, em 2024, o Detroit Lions. E não estamos falando de running backs.

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