Ao analisar a situação do Philadelphia Eagles nesta intertemporada, particularmente quanto à posição de quarterback, é fácil perceber que a incerteza ainda domina. O investimento alto em três quarterbacks, seja financeiro ou em número de escolhas no draft, gera dúvidas sobre qual o planejamento da equipe em sua posição mais importante. Sam Bradford teve seu contrato renovado com valores de quarterback titular, o que sugeria que os Eagles tinham um plano bem traçado para 2016 – por mais que seja um contrato-ponte de dois anos, ainda tem valores anuais de titular.
Os questionamentos já começaram quando a equipe contratou Chase Daniel por um valor mais elevado do que se imaginaria para um reserva (vale lembrar que Daniel tem um histórico de trabalho em Kansas City com Doug Pederson, novo técnico dos Eagles). Finalmente, a confusão tomou conta quando a equipe resolveu fazer um investimento pesado para subir no draft e selecionar Carson Wentz. E agora? Qual será o plano do Philadelphia Eagles para seus quarterbacks em 2016? Mais do que isso, os jogadores vão aceitar esse plano?
Sam Bradford já está demonstrando sua insatisfação. Hoje tentaremos decifrar os próximos passos da franquia e de seus quarterbacks. Para isso, vamos iniciar lembrando um pouco o histórico recente da equipe, principalmente no que tange às mudanças administrativas e de direcionamento esportivo.
Antes do futuro, lembremos do que fez as coisas chegarem até aqui
Depois de três anos de desempenho oscilante, o técnico Chip Kelly foi demitido ao final da última temporada. Isto pôs fim, também, a um período de conflito entre o técnico e o executivo principal da equipe, Howie Roseman. Roseman e Kelly travaram grandes disputas com relação ao controle do elenco e às escolhas do draft. A saída de Chip Kelly determinou a vitória definitiva de Roseman neste conflito.
Durante o período de Chip Kelly como técnico, a posição de quarterback titular foi ocupada por Michael Vick e Nick Foles, em 2013, e Foles e Mark Sanchez, em 2014. Particularmente em 2013, Nick Foles alcançou números extraordinários, com 27 touchdowns e 2 interceptações. Apesar disso, ao final da temporada 2014, Foles foi trocado com o St. Louis Rams pelo quarterback Sam Bradford. É importante ressaltar que, naquele momento, Chip Kelly havia conseguido tomar de Howie Roseman o controle do elenco, sendo ele então o responsável por esta troca, assim como pelas saídas de LeSean McCoy e Evan Mathis, entre outros. Desta forma, Sam Bradford (escolhido por Kelly) foi o titular em 2015.
Com a demissão de Chip Kelly ao término da temporada 2015, Howie Roseman voltou a ter controle total sobre as decisões do draft e da montagem do elenco e da comissão técnica dos Eagles. Doug Pederson foi contratado como técnico principal, e as decisões supracitadas compuseram o elenco de quarterbacks do Philadelphia Eagles com Sam Bradford, Chase Daniel e Carson Wentz. Vamos analisar a situação de cada um dos quarterbacks, começando pelo titular na última temporada, Sam Bradford
Os quarterbacks
Sam Bradford:
Após uma bem sucedida carreira na Universidade de Oklahoma, onde inclusive ganhou o troféu Heisman, Sam Bradford foi selecionado pelo St. Louis Rams com a primeira escolha geral no draft de 2010. Foi calouro ofensivo do ano, mas teve muita dificuldade de repetir sua performance devido a inúmeras contusões, especialmente lesões de joelho. Após a temporada 2014, foi trocado pelo quarterback Nick Foles, chegando ao Philadelphia Eagles.
Bradford teve um começo de temporada 2015 muito irregular, com baixa porcentagem de passes completos e número elevado de interceptações. Apesar disso, foi progressivamente se adaptando ao sistema ofensivo de Chip Kelly, com melhora do seu nível de jogo e de seus números. Terminou a temporada com 65% de passes completos, 19 touchdowns e 14 interceptações, e com um rating de 86,4. Segundo o site Pro Football Focus, que analisa os jogadores, dando um nota para seu desempenho na temporada, Sam Bradford foi o 11o melhor quarterback de 2015. Nesse índice, ficou a frente de nomes como Aaron Rodgers, Teddy Bridgewater, Philip Rivers e Jay Cutler.
O bom final de temporada de Sam Bradford certamente contribuiu para que os Eagles o trouxessem de volta em 2016, com um contrato de 2 anos e US$ 36 milhões – quase 20 deles, garantidos. Mesmo após a contratação de Chase Daniel, Howie Roseman afirmou que Bradford seria o titular da equipe, e reforçou esta declaração mesmo após a escolha de Carson Wentz na primeira rodada do draft. Apesar disso, com a seleção de Wentz, Bradford se mostrou insatisfeito, solicitando ser trocado para outra equipe e se recusando a participar das atividades de treinamento de intertemporada dos Eagles. Com a aparente falta de interesse de outras equipe na troca por Bradford, o futuro do quarterback parece permanecer ligado aos Eagles.
Chase Daniel:
Chase Daniel não foi “draftado” após terminar sua carreira universitária em Missouri, após a temporada 2009. Assinou um contrato com Washington, onde permaneceu na equipe de treinamento durante todo o ano. Nas temporadas subsequentes se estabeleceu como quarterback reserva no New Orleans Saints e no Kansas City Chiefs. No início deste ano assinou um contrato de 3 anos e US$ 21 milhões com o Philadelphia Eagles.
Durante seu período em Kansas City, Daniel estabeleceu contato com o sistema ofensivo de Doug Pederson – o qual tem elementos de West Coast Offense, diferentes da Spread Offense na qual Bradford foi “lapidado” em Oklahoma. O atual técnico dos Eagles foi o coordenador ofensivo dos Chiefs nas últimas temporadas. Assim, quando foi anunciada a contratação de Chase Daniel, muito se especulou quanto à possibilidade de Pederson pretender fazer dele seu quarterback titular. Apesar disso, conforme dissemos acima, a expectativa é que Daniel se mantenha como reserva, além de talvez contribuir para o aprendizado do calouro Carson Wentz no sistema de Doug Pederson. /
Até porque, apesar de estar entrando em sua oitava temporada na NFL, Daniel tem muito pouca experiência de jogo em temporada regular, e deve se manter como um “segurador de prancheta” (termo utilizado para descrever quarterbacks reservas) no Philadelphia Eagles.
Carson Wentz:
Para obter a segunda escolha no draft de 2016 e selecionar Carson Wentz, o Philadelphia Eagles cedeu ao Cleveland Browns suas escolhas de primeira, terceira e quarta rodadas em 2016, além escolhas de primeira e segunda rodada em anos subsequentes (os Eagles também receberam uma escolha de quarta rodada dos Browns – em 2017). É um preço alto a pagar por qualquer jogador, mas em geral, quando acredita-se estar diante de um franchise quarterback, jogador capaz de liderar uma equipe por muitos anos, é uma aposta que vale ser feita. Resta saber se, como o Philadelphia Eagles parece acreditar, Carson Wentz é de fato o quarterback do futuro da equipe.
Wentz é um quarterback com alta capacidade atlética e braço potente, mas com pouca experiência como titular. Além disso, jogou na equipe mais forte da segunda divisão universitária (FCS). Sua universidade, North Dakota State, é a atual pentacampeã da FCS. A fragilidade de seus adversários contribuiu para que algumas das falhas de Wentz fossem “disfarçadas”. Entre estas falhas, podemos citar a baixa precisão nos passes intermediários e a dificuldade de lidar com pressão no pocket. Considera-se que Carson Wentz levará algum tempo para se adaptar ao jogo profissional, provavelmente se beneficiando de um ou até dois anos como reserva.
Este parece (ou parecia) ser o objetivo dos Eagles, principalmente considerando as declarações de Howie Roseman e do técnico Doug Pederson sobre a titularidade de Sam Bradford. Apesar disso, sabemos que frequentemente existe uma pressão para que o quarterback calouro, principalmente um escolhido em uma posição tão alta no draft, entre logo em campo. Resta saber se a comissão técnica dos Eagles cederá a esta pressão, ou se seguirá em seu objetivo de preparar Carson Wentz para que ele, no futuro, assuma sua posição como franchise quarterback.
Quem leva?
Resta saber, depois de todos os fatores discutidos acima, quem será o quarterback titular do Philadelphia Eagles na semana 1 da temporada 2016. Fica claro que o plano da franquia era que Sam Bradford fosse o titular durante a temporada 2016, enquanto Carson Wentz se adapta ao jogo profissional. Seria provável, inclusive, que Chase Daniel fosse o reserva imediato de Bradford, com Wentz inativo durante a temporada. Um verdadeiro ano redshirt, como no futebol universitário (ano de “molho” e adaptação no qual o jogador, ao não entrar em campo, preserva sua elegibilidade, lhe dando 5 ao invés de 4 anos no College).
Com a revolta de Bradford pela seleção de Wentz, o futuro da posição de quarterback dos Eagles fica nebuloso. O “chilique” do quarterback, mesmo sem ter a sua posição de titular questionada, mostra imaturidade, além de, provavelmente, indicar pouca (ou nenhuma) disposição de contribuir para o aprendizado de Wentz. É preciso saber se Sam Bradford estará disposto a manter sua postura de não se apresentar aos Eagles até o início da temporada, quando começará a perder parte do seu milionário salário. Caso isso aconteça, é provável que os Eagles escolham Chase Daniel como titular. Assim, Carson Wentz estaria mais próximo de entrar em campo, e a pressão para que isso acontecesse seria ainda maior.
A melhor opção para os Eagles é que Bradford entenda que jogar normalmente é a única alternativa viável que tem no momento. Assim, a equipe pode seguir seu plano, e dar tempo para que Carson Wentz se desenvolva como o quarterback do futuro da equipe. Se o potencial para esse desenvolvimento existe é outra questão bem diferente. E para você, torcedor dos Eagles? Qual o cenário ideal para a posição de quarterback em 2016?






