Se o Super Bowl é com certeza absoluta o ponto mais alto da temporada da NFL, podemos dizer sem medo que o Draft tem um peso equivalente na intertemporada. Meses e mais meses de preparação das franquias, com direito a estudos detalhados de inúmeros prospectos, centenas de vídeos e jogos assistidos, entrevistas, testes físicos e mentais, colocados à prova em um evento de três dias no qual técnicos, dirigentes e olheiros têm a difícil de missão de selecionar novos talentos para suas equipes.
Conforme já dissemos, o Draft ainda não se tornou uma febre entre os brasileiros, apesar da crescente popularidade do futebol americano no país. Nos Estados Unidos, entretanto, vem assumindo ao longo das últimas décadas um caráter cada vez maior de grande espetáculo, sobretudo a partir dos anos 1980, sendo amplamente coberto pela mídia e aguardado pelos fãs da NFL.
Como, além de informar e dar opiniões, aqui no ProFootball também temos o objetivo de contribuir para o crescimento do futebol americano no Brasil, não podemos deixar isso de lado. Deste modo, preparamos uma espécie de guia teórico do Draft em que explicaremos seu funcionamento e tentaremos tirar algumas das dúvidas mais recorrentes. Tudo para ajudar a estimular um pouco mais o interesse por este evento tão importante na vida das franquias.
Caso estas informações não sejam nenhuma novidade para você, mostre para um amigo ou alguém que esteja começando agora a acompanhar a NFL. Poderá ser útil na hora de convertê-lo definitivamente para o Lado Bola Oval da Força.
O que é o Draft?
A maneira mais simples de defini-lo é utilizando uma expressão de origem militar. O Draft nada mais é do que o recrutamento de novos talentos pelas franquias, sendo a principal porta de entrada para a NFL.
Ele foi instituído em 1936, após sugestão de Bert Bell, proprietário do Philadelphia Eagles, com o objetivo de manter a liga o mais equilibrada e competitiva possível, evitando, desta maneira, que times com maior poder financeiro detivessem o monopólio dos melhores jogadores dispostos a se profissionalizar.
Basicamente, foi criado um evento no qual as equipes selecionariam os talentos oriundos do College Football para reforçar seus elencos. Estes, por sua vez, não poderiam ignorar o recrutamento e decidir eles mesmos um lugar para atuar. Tal é o princípio básico das coisas até os dias de hoje.
Ao longo da história, tivemos alguns casos de jogadores que bateram o pé contra as equipes que os escolheram. Os mais famosos são John Elway (1983) e Eli Manning ( 2004). No final das contas, ambos não ficaram onde foram draftados, mas só conseguiram fazer isso de uma maneira indireta, forçando uma situação de troca – no papel, Elway foi selecionado pelos Colts e Manning pelos Chargers.
Estrutura e funcionamento
O funcionamento do Draft é orientado de modo a ajudar o máximo possível quem mais precisa de ajuda, afinal a razão da sua existência é manter a liga nivelada. Por isso, por exemplo, que os times com piores campanhas, em teoria os mais fracos da NFL, escolhem primeiro.
A estrutura é bem simples de ser compreendida. Atualmente, o Draft totaliza 253 escolhas divididas em sete rodadas. A menos no caso de alguma punição disciplinar imposta pela NFL, cada franquia recebe obrigatoriamente uma pick em cada rodada, podendo negociá-la como bem quiser, trocando-a por outras escolhas ou jogadores de outros times. Tais acordos podem ser firmados em qualquer momento antes ou durante o Draft.
Ao todo, o evento dura três dias. No primeiro, ocorre exclusivamente a primeira rodada. Depois, a segunda e terceira. Já no último, estão condensadas as rodadas 4 a 7. A sede é eleita pela NFL. Durante muito tempo as festividades aconteceram em Nova York, porém, recentemente, a liga tem adotado um sistema de rodízio de cidades. A edição 2017 terá lugar no Philadelphia Museum of Art.
Definição da ordem dos times
A ordem das seleções é determinada de maneira inversa ao retrospecto das equipes na temporada anterior. Ou seja, quanto mais baixo o número de vitórias, mais alta a posição que um time escolhe. Exemplo: em 2016, os Browns terminaram com o record 1-15, por isso, em 2017, escolherão primeiro. Os 49ers terminaram 2-14 e estão em segundo – e por aí vai.
Se duas franquias somarem o mesmo record, o primeiro critério de desempate é a força do calendário (porcentagem de vitória dos adversários da última temporada). Quem tiver a força de calendário mais fraca leva vantagem. Em caso de novo empate, será levado em conta o retrospecto diante dos oponentes de divisão e conferência.
Por último, se a igualdade ainda persistir, a ordem será definida no cara ou coroa. Curiosamente, isso aconteceu há poucos meses. Colts e Eagles terminaram iguais em todos os critérios de desempate, então o dono da 14ª escolha no Draft 2017 precisou ser definido na base da moeda. A cerimônia ocorreu durante o Combine e Philadelphia saiu vencedor.
Tais regras, entretanto, sofrem uma pequena alteração quando falamos de times que foram aos playoffs. Aí o passa a valer também o quão longe eles foram na pós-temporada. Por exemplo, equipes eliminadas no wild card selecionam primeiro do que quem foi eliminado no Divisional Round, não importa o record. Assim, os Raiders, 12-4 em 2016, estão na frente dos Texans, os quais terminaram 9-7 no ano passado. O campeão e o vice do Super Bowl sempre escolhem respectivamente na 32ª e 31ª posição.

Tempo para realizar as escolhas
Existe um tempo limite pré-determinado pela NFL para que cada time efetue sua escolha no Draft e ele varia conforme o round em questão:
- 1ª rodada: 10 minutos
- 2ª rodada: 7 minutos
- 3-6ª rodada: 5 minutos
- 7ª rodada e escolhas compensatórias: 4 minutos
Se por qualquer motivo que seja a franquia não conseguir escolher a tempo, ela perde a vez, ou seja, é ultrapassada e cai uma posição – ela NÃO perde a pick. Um exemplo disso ocorreu em 2003, quando os Vikings caíram da 7ª posição geral para a 9ª por não conseguirem administrar o relógio. Jaguars e Panthers se aproveitaram do vacilo de Minnesota e pularam na frente.
Quem pode entrar Draft?
Para ser elegível e poder participar do Draft, um jogador precisa ter saído do Ensino Médio, ou high school, há pelo menos três anos e ter esgotado toda a sua elegibilidade universitária antes do início da próxima temporada do College Football.
Caso queria entrar na NFL antes de se graduar na faculdade ou antes da sua elegibilidade completa acabar, o jovem precisará pedir uma permissão especial da liga. Considerando o número cada vez maior de underclassmen que estão se tornando profissionais, conseguir tal autorização não deve ser uma missão das mais difíceis.
Agora, uma pergunta que muitas pessoas podem estar se fazendo: quer dizer então que o Draft é só para atletas do College Football? Na verdade, não necessariamente. Embora este seja o caso em 99,99% das vezes, já houve uma exceção. Em 2016, os Vikings draftaram Moritz Böhringer na sexta rodada, um alemão que nunca jogou futebol americano nos Estados Unidos – foi o primeiro exemplo assim em toda a história do recrutamento. Ou seja, afirmar que o Draft é só para ex-atletas universitários está tecnicamente incorreto.
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Escolhas compensatórias
Além das escolhas tradicionais (uma por rodada para todo mundo, como dissemos acima), a NFL também pode atribuir algumas picks extras para certos times, as chamadas escolhas compensatórias. Estas têm como objetivo “ressarcir” as equipes que perderam muito talento na Free Agency, funcionando como um mecanismo de compensação para tentar manter o equilíbrio da liga.
Através de um complexo cálculo matemático, a NFL determina quais franquias tiveram prejuízo técnico com as movimentações no mercado de agentes livres. Depois, concede as escolhas compensatórias para elas – naturalmente, quem perdeu mais recebe as mais altas. Um exemplo para tentar deixar mais claro: na Free Agency passada, os Dolphins deram adeus a Rishard Matthews, Lamar Miller e Olivier Vernon, três ex-titulares importantes. Deste modo, em 2017, receberam a escolha compensatória mais alta de todas, a 97ª pick geral.
A liga pode conceder no máximo um total de 32 escolhas compensatórias, começando no final da terceira rodada e indo até a sétima. Cada time pode receber no máximo quatro. Antigamente, era proibido trocá-las, mas essa regra mudou para 2017.
E o que acontece com quem não é draftado?
Os jovens que não são selecionados por ninguém – a imensa maioria dos elegíveis, diga-se de passagem – adquirem o status de agente livre logo após o término do recrutamento. São os chamados undrafted free agents, ou free agents não-draftados. No geral, eles são iguais aos free agents veteranos, podendo negociar e assinar com as equipes que quiserem – obviamente por valores de contrato bastante baixos.
O primeiro objetivo na vida de um não-draftado é fazer parte de um elenco na temporada regular. Até lá, ele tentará sobreviver aos diversos cortes no plantel que ocorrem durante a intertemporada. Muitos ficam pelo caminho, mas, todos os anos, vários conseguem atingir o objetivo, mostrando valor nos treinamentos e partidas de pré-temporada. Outros vão além e tornam-se superestrelas na NFL – como, por exemplo, Tony Romo e Kurt Warner.
Não ser escolhido pode ser um duro golpe emocional para qualquer jovem atleta, porém de maneira alguma significa que as portas estão fechadas para ele na NFL. A corrida das equipes pelos melhores undrafted free agents é acirrada nos dias seguintes ao Draft.
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