[dropcap size=big]P[/dropcap]ara Denver, provavelmente não teria mudado muita coisa. Para Osweiler, tudo seria diferente.
Tinha uma professora na sétima série que queimava meus sonhos curiosos ao dizer que “não existe “se” em História”. Bom, aqui para mim, existe. “As Aventuras de Brock Osweiler” é, facilmente, uma das histórias mais interessantes da NFL neste momento e nos últimos anos como um todo. Não entenda errado: eu amo fantasy football, amo história da liga, amo os aspectos táticos do jogo. Mas o aspecto humano da coisa é fascinante e as “indas e vindas” de Brock são um exemplo interessante nesse sentido.
Para quem não se lembra o que aconteceu, alguns refrescos.
Ao mesmo tempo que Peyton Manning chegava no Colorado – após ser cortejado por Seattle, Miami, Arizona, Tennessee e outros – o Denver Broncos se preparava para o futuro ao escolher um quarterback na segunda rodada do Draft de 2012. Seu nome? Brock Osweiler.
Manning de fato foi para Denver e, lá, comandou uma das unidades ofensivas mais impressionantes da NFL. Em 2012 ela bateu na trave e na pós-temporada possuída de Joe Flacco. No ano seguinte, quebrou recordes ofensivos e bateu na defesa campeã do Seattle Seahawks. 2015 apresentou uma partida de pós-temporada um tanto quanto apagada – não para mim, comi uma pizza muito boa naquele dia – contra os Colts e uma eliminação precoce em casa. John Fox foi mandado embora e Gary Kubiak chegou.
Caso você tenha perdido as contas, outro refresco: em 2015, Brock Osweiler estaria chegando ao quarto e último ano de contrato como calouro. Logo, seria free agent na temporada seguinte. Para dificultar as coisas, a idade bateu forte em Peyton Manning e parecia tudo menos o camisa 18 de outrora. Manning, com problema no pé, foi para o banco e Osweiler comandou os Broncos como titular em 7 partidas. Nada de muito absurdo em termos estatísticos: 10 touchdowns e 6 interceptações com passer rating de 86,4. A defesa de Denver era um absurdo, o jogo terrestre estava saudável… O que ficou na cabeça? Aquela vitória contra o New England Patriots, em casa, na Semana 12.
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Era quase impossível que aquela vitória não ficasse na cabeça mesmo. Teve prorrogação e os cacetes, teve neve cobrindo o campo. O que fica? A vitória – mesmo que tal estatística, para quarterbacks, não possa ser tão valiosa como é para o público. Osweiler não jogou bem naquela partida: apenas 54% de passes completos, um touchdown e uma interceptação. C.J. Anderson passou das 100 jardas terrestres. A defesa de Denver sackou Brady em três oportunidades.
Mas o que ficou foi isso: a tal da vitória no currículo de Osweiler. “Saudável”, Peyton Manning voltou à titularidade nos playoffs e, na medida do possível, comandou o ataque dos Broncos até o título no Super Bowl 50 (muito ajudado pela defesa, mas considerando a quantidade monumental de vezes que defesas deixaram o camisa 18 na mão, foi um carma justo). Osweiler, então, deu de ombros e rumou para a free agency.
Como o mercado de quarterbacks está longe de ser justo nessa época do ano, talentos medianos – olá Mike Glennon, estou falando com você – conseguem embolsar boas quantias de dindin em março. Seria o caso de Osweiler. Ninguém lembrava que Anderson e a defesa dos Broncos ganharam dos Patriots na temporada regular. O que ficou foi… O quarterback que herdou o time de Peyton Manning naquela semana e que venceu Bill Belichick.
Denver até tentou segurar o cara. 3 anos, 45 milhões. Depois desse primeiro contrato, provavelmente outro poderia vir – afinal, ele teria 28 anos. Nah. Osweiler, por orgulho e por dinheiro, resolveu achar que seria um messias nos Texans. Foi para lá como potencial líder que colocaria Houston em posição de chegar ao Super Bowl. O time de fato foi longe – chegou na pós-temporada. Lá, Brock dinamitou tudo com interceptações e todo o mais. Foi o melhor jogo defensivo contra Tom Brady e Osweiler nem de perto ajudou sua defesa (que foi a que menos cedeu jardas ano passado, lembremos).

O resto da história se desenvolve, em Denver, com Trevor Siemian herdando a bomba e Osweiler sendo trocado pelos Texans, que queriam abrir espaço no teto para contratar um Tony Romo que acabou se aposentando. Em Cleveland, destino da troca com Houston, a equipe ainda tentou algo – mas Osweiler sequer conseguiu vencer a briga de titularidade com um calouro que tem inúmeros problemas de mecânica e etc (mas, que no final das contas, jogou melhor e deu mais energia ao ataque dos Browns).
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Agora, Osweiler foi cortado pelos Browns e assinou com os Broncos. Denver pagará cerca de 800 mil dólares – os Browns, o restante do salário original com Houston (15,2 milhões). Esses 800 mil são, praticamente, o salário mínimo da posição. É 5% do que os Broncos originalmente ofereceram como salário garantido por ano.
Brock não vem para ser titular, que fique claro – outrora escolha de sétima rodada, Trevor Siemian fez por merecer. A questão é que Paxton Lynch machucou o ombro e deve perder cinco semanas por isso. Trazer Osweiler faz sentido caso Siemian machuque – coisa que aconteceu ano passado. Claro: o torcedor não vai gostar nada disso, porque Brock traiu os Broncos e foi “mercenário”.
E aí, fica a pergunta: e se ele tivesse ficado em Denver? O que teria sido diferente?
Para começo de conversa, eu não acho que, com Osweiler, a equipe teria ido para os playoffs no ano passado. Siemian foi o menor dos problemas dessa unidade ofensiva, que perdeu CJ Anderson no meio do ano e cuja linha não bloqueava ninguém. Os números de Osweiler com uma linha ligeiramente melhor, com uma defesa melhor contra a corrida e com um backfield saudável não foram tão melhores quanto os de Siemian em 2016.
Osweiler 2015, Denver: 61,8% de passes completos, 7,15 jardas por tentativa, 1,66 touchdown a cada interceptação (10 touchdowns, 6 interceptações em 8 jogos)
Siemian 2016, Denver: 59,5% de passes completos, 7 jardas por tentativa, 1,8 touchdown a cada interceptação (18 touchdowns, 10 interceptações em 14 jogos).
Como você pode ver acima, usei estatísticas “a em função de b” para que o número de jogos não atrapalhasse a conta. Com um time pior e menos experiência, Siemian chegou a postar números melhores do que Brock em 2015. Ou seja: fora o impacto salarial, nada teria mudado em Denver. Arrisco dizer que a saída de Osweiler, justamente por conta desse aspecto salarial, foi melhor – Siemian tem impacto de apenas 615 mil dólares neste ano, dado que está num contrato de calouro que é quase que tabelado em função de onde o cara saiu no Draft (e ele foi escolhido na sétima rodada, daí o contrato baixo).

Com um time pior e menos experiência, Siemian chegou a postar números melhores do que Brock em 2015.
O que seria diferente, de fato, é a situação de Osweiler. Caso tivesse postado números semelhantes aos de Siemian no ano passado, ele não estaria sem emprego ou como reserva – ainda pesaria o fato de que Trevor é escolha de sétima rodada e, nesta realidade, não teria visto a cor do campo. Paxton Lynch provavelmente não teria sido escolhido. Osweiler estaria no segundo ano do contrato de três e haveria, naturalmente, mais pressão em cima de seus ombros.
Os Broncos estariam contando com uma sensível melhora de produção do camisa 17. Provavelmente não teriam essa melhora – a gente conhece Brock Osweiler muito melhor do que conhecia em 2015 e, na nossa realidade, é claro que ele é limitado. Com Siemian, a chance de playoff é maior. Com Brock na realidade paralela, seria apenas uma possibilidade.
Quem foi o maior prejudicado com a saída dele de Denver? O próprio Brock Osweiler. Se tivesse ficado em Denver, ainda estaria enganando uns e outros e, embora questionado como titular, não estaria em risco de perder a titularidade. Ego, decisão ruim, orgulho e a materialização do lado negro da Força (mais sedutor, mais rápido…) acabaram fazendo com que a carreira de Brock chegasse a este ponto. Na teoria, rico com os 16 milhões de dólares que ganhará neste ano. Na prática, jogando por salário mínimo. O mundo dá voltas.
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