Ezekiel Elliott e Melvin Gordon, dois dos melhores e mais produtivos running backs da NFL, apostaram alto ao resolverem entrar em greve durante o training camp. Insatisfeitos com seus atuais contratos, ambos decidiram boicotar os treinamentos de suas equipes, ameaçando, inclusive, estender a paralisação até a temporada regular caso novos e ricos acordos não sejam assinados. Elliott avisou aos Cowboys que não pretende jogar em 2019 sem um novo contrato, enquanto Gordon, por sua vez, já teria pedido permissão aos Chargers para procurar algum time interessado em fazer uma troca.
É óbvio que a postura agressiva dos dois nas negociações está diretamente ligada ao caso Le’Veon Bell. Em 2018, após receber a franchise tag pelo segundo ano consecutivo, o ex-running back dos Steelers cumpriu suas ameaças e fez greve durante toda a temporada, não atuando em nenhuma partida. Bem ou mal, Bell conseguiu atingir o seu objetivo: saiu de Pittsburgh e assinou com outra equipe, embora financeiramente a decisão de bancar a greve até o fim tenha sido um tiro que saiu pela culatra. Seja como for, ele é o exemplo que Elliott e Gordon estão tentando seguir para pressionar seus respectivos times.
Contudo, ao contrário de Bell, os grevistas de 2019 simplesmente não estão em condição de levar suas paralisações às últimas consequências – ou seja, parar pelo ano todo. Uma greve anual de qualquer um dos dois seria um tiro pela culatra ainda maior, pois basicamente os manteria na mesma situação de hoje em 2020 – além de significar jogar alguns milhões de dólares pela janela. Enfim, Gordon e Elliott têm pouquíssimo poder de barganha para submeter Dallas e Los Angeles às suas vontades e nós vamos explicar o porquê.
Bell não é um bom precedente a ser seguido
Há uma diferença enorme entre o caso de Bell e os casos de Gordon e Elliott: ao receber a franchise tag e não a assinar, Bell não tinha nenhum vínculo contratual com Steelers, logo não poderia receber multas, sanções ou estar sujeito a cláusulas que o prendessem à franquia. Ele abriu mão dos 14.5 milhões de salário referentes à tag, mas, em compensação, tornou-se agente livre na temporada seguinte, a menos que Pittsburgh aplicasse a franchise tag pela terceira vez, algo impossível de acontecer devido ao valor.
Se foi uma decisão boa ou ruim é outra história. Segundo algumas especulações, os Steelers chegaram a oferecer um contrato de cinco anos e 70 milhões (média de 14 milhões por temporada). Bell não aceitou e fechou com os Jets por quatro anos e 52.5 milhões (média de 13.2 milhões). Talvez a quantia garantida de 27 milhões oferecida por New York tenha feito a cabeça do running back por ser bem maior do que o montante garantido ofertado por Pittsburgh, mas não temos como ter certeza. Ademais, os 14.5 milhões deixados na mesa pelo jogador em 2018 dificilmente serão recuperados algum dia. Em suma, financeiramente a greve não parece ter sido um grande negócio, porém não estamos aqui para discutir isso.
Voltando ao assunto: Elliott e Gordon, diferente de Bell, possuem vínculos contratuais com suas franquias, o que limita muita a liberdade de ação dos dois. Em primeiro lugar, eles estão sujeitos a pesadas multas por faltarem a treinos e jogos, além de não receberem os cheques equivalentes aos seus salários semanais durante a temporada regular.
Em segundo e mais importante, eles são proibidos de boicotar as 16 partidas da temporada regular. Caso o façam, seus contratos serão automaticamente estendidos por mais um ano sob os mesmos termos de hoje. Por exemplo, o acordo de um ano e 5.6 milhões de dólares de Gordon válido em 2019 pulará para 2020, deixando-o no ano que vem na mesma situação de agora. Esse é mais um mecanismo criado para proteger as franquias.
A maneira de um atleta da NFL ter a sua temporada validada, sem contar casos de lesões ou outros motivos de força maior, é se ele estiver ativo em pelo menos seis jogos. Por isso, as greves de Elliott e Gordon podem se estender no máximo até por volta da semana 10 ou 11. Ao blefarem sobre parar o ano todo, eles estão fazendo uma ameaça vazia, pois não faria o menor sentido seguir por esse caminho se eles mesmos seriam os maiores prejudicados.
Dinheiro é outro fator na equação
Fazer greve por um contrato melhor e mais segurança financeira no futuro implica, quase sempre, em abrir mão de dinheiro em curto prazo – Le’Veon Bell que o diga. Por isso, todo jogador precisa pensar bem antes de tomar uma decisão tão drástica, avaliando se a conta vai fechar e se realmente vale a pena.
Elliott está pagando uma multa de 40 mil dólares por dia de treino perdido e, caso resolva levar a greve até a temporada regular, não receberá os cheques referentes ao salário das semanas em que estiver de braços cruzados. Se, por exemplo, ficar parado até a semana 10, o running back perderá cerca de 2.3 dos 3.8 milhões do seu salário base de 2019.
Gordon, por sua vez, enfrentará regras ainda mais rígidas por estar vivendo o 5º ano do seu contrato de calouro – aquela opção de ano extra que as franquias escolhem ou não exercer. Sua multa diária por ausência nos treinos é um pouco menor: 30 mil dólares, entretanto cada partida de pré-temporada perdida significa uma multa extra no valor de um cheque da temporada regular. Se o salário base do corredor em 2019 é de 5.6 milhões, colocando na ponta do lápis temos: quatro duelos de pré-temporada + 10 confrontos de temporada regular = 4.6 milhões de prejuízo na carteira (fora o valor das multas diárias). É bastante dinheiro.
Enfim, trata-se de uma grande aposta por parte dos atletas, afinal não há como eles saberem se as perdas serão compensadas futuramente nos novos contratos. Bell literalmente pagou para ver e quebrou a cara. Gordon, dada a especificidade da sua situação, é quem mais tem que fazer contas para avaliar se a paralisação vale a pena.
Não existe opção a não ser se apresentar e jogar a temporada regular
Gordon e Elliott infelizmente compraram uma briga que eles não podem ganhar. O único poder de barganha de ambos é apostar que eles são tão fundamentais para seus times que estes se desesperarão e oferecerão um contrato novo. Isso até pode ser um pouco de verdade se tratando do running back dos Cowboys, mas, no caso de Gordon, existem reservas capazes, como Austin Ekeler, o que atrapalha ainda mais a vida do jogador.
Fazer greve o ano inteiro ao estilo Le’Veon Bell está fora de questão, seja do ponto de vista financeiro, seja do ponto de vista contratual. Assim, mesmo que as equipes não cedam à pressão, é provável que os vejamos em campo em 2019, nem que, no pior dos cenários, por apenas seis partidas. Gordon precisa estar ativo em seis jogos para cumprir seu último ano de contrato e se tornar agente livre em 2020 – ou receber a franchise tag. Elliott, por sua vez, tem mais dois anos do seu vínculo de calouro com Dallas pela frente.
Se estivéssemos apostando, diríamos que Elliott está mais perto de ter o seu desejo atendido. Embora os Cowboys tenham que renovar com muitos atletas importantes no futuro próximo, Jerry Jones adora o running back selecionado na 4ª posição geral do Draft 2016 e nunca escondeu que montou o ataque ao seu redor. Zeke certamente espera um acordo similar ao de Todd Gurley nos Rams (quatro anos, 57.5 milhões e 45 milhões garantidos) e, conhecendo o dono dos Cowboys, tem boas chances de receber algo do tipo, ainda que demore um pouco mais de tempo.
Já Gordon dificilmente ganhará o dinheiro que deseja dos Chargers. Sua melhor possibilidade de quebrar a banca provavelmente é ser trocado para algum lugar, contudo hoje é difícil apontar candidatos a um negócio assim. As chances de uma novela nos próximos meses e mesmo em 2020 são grandes, sobretudo se Los Angeles decidir aplicar a franchise tag no jogador.
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