Equilíbrio deverá ser a tônica de Saints e Rams

Repetição do duelo da temporada regular tem novos ingredientes

Os dois melhores times da NFC chegam a final de conferência após serem irregulares na parte final da temporada regular, mas terem bom desempenho na semifinal de conferência. Os Saints recebem os Rams na repetição do elétrico jogo da semana 9 – na ocasião, os Saints levaram a melhor, numa partida em que chegaram a ter vantagem de 21 pontos, mas que faltando pouco mais de cinco minutos para o fim se encontrava empatada.

Se do lado do time de New Orleans quem carrega as esperanças é Drew Brees, com sua capacidade de lançamentos precisos e de vencer jogos difíceis, pelos Rams a maior esperança se encontra no banco: o head coach Sean McVay é considerado um dos mais inovadores da NFL, e seu ataque consegue potencializar o máximo de cada atleta, sempre sendo imprevisível. Promessa de muito equilíbrio, num jogo que deve ter altas doses de emoção e ser decidido nas últimas posses de bola.

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Los Angeles Rams (13-3) @ New Orleans Saints (13-3)
Local: Mercedes-Benz Superdome, New Orleans, Lousiana
Horário: Domingo, 20 de janeiro, 18:05 (horário de Brasília). TV: ESPN
Linha da Odds Shark: Saints favoritos por 3 pontos.

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O interior da linha ofensiva dos Saints terá uma tarefa hercúlea

Quando se enfrenta o melhor defensor da NFL, uma tensão extra se gera naturalmente. É isso que a linha ofensiva – e toda comissão técnica, torcedores e qualquer simpatizante – sente no momento que lembra que Aaron Donald estará alinhado em sua frente no próximo domingo.




Dono de capacidade impressionante de romper o pocket, Donald bateu o recorde de sacks em um ano por um jogador de interior de linha defensiva, tendo 20,5 na temporada regular. O detalhe é que ele não vem sozinho: Ndamukong Suh pode não ter a habilidade atlética de Donald, mas é um jogador de elite na posição, especialmente conseguindo penetração e controlando gaps. Michael Brockers não vem jogando com a regularidade que lhe era característica, embora seja um jogador que tem flashes de brilhantismo e não pode ser desprezado.

Dito isso, vale lembrar que o interior da linha ofensiva dos Saints tem problemas. O guard Andrus Peat é um bom jogador, mas sofreu em demasiado contra a boa linha defensiva dos Eagles na partida que valeu a classificação para a final. Descobriu-se depois que ele passou por uma cirurgia na mão na semana anterior ao jogo, tendo dificuldade para parar Fletcher Cox.

Claro que ter mais sete dias ajudará sua condição clínica a evoluir, mas com certeza ele não estará 100% saudável, algo que só deve acontecer com a recuperação após a temporada. Peat cometeu seis holdings durante o temporada, e isso o coloca em segundo – empatado com outros jogadores – no ranking dos que mais cometeram a penalidade que tanto atrasa a vida de qualquer ataque.

Max Unger e Larry Warford são jogadores um pouco mais consistentes na proteção ao passe, mas não estão no topo da posição. Não há dúvidas que Sean Payton terá de pensar numa forma de minimizar isso, e eu não me surpreenderia em ver Alvin Kamara e Mark Ingram preocupados em ajudar na proteção mais no meio que nas laterais para dar o tempo extra para Brees.

Caso não consigam parar Donald e companhia, os Saints terão grandes problemas. Brees será obrigado a se mover e soltar a bola ainda mais rápido, o que deve diminuir a chance de grandes jogadas em profundidade. Com Kamara tendo de ser usado em alguns momentos na proteção, o número de alvos de bom nível cai ainda mais. Por mais que Tre’Quan Smith e Ted Ginn Jr sejam bons jogadores, num jogo de alto nível ter apenas Michael Thomas como alvo de grande escala pode tornar a vida dos Saints ainda mais complicada.

O jogo corrido também pode ser prejudicado pois, com a dificuldade em conter a primeira linha dos Rams, os Saints poderão ter problemas para alcançar o segundo nível defensivo; com isso, os running backs terão árdua tarefa correndo dentre os tackles, e precisarão conseguir jardas após o contato para manter o time em situações não-óbvias de passe. Caso não consigam, Wade Phillips deve ter um pacote de blitzes especialmente para esse jogo, e terá prazer em tornar a vida de Brees bem dura.

Michael Thomas e Aqib Talib é um duelo de alto nível

É incrível como Michael Thomas é um jogador extremamente produtivo, com capacidade de fazer grandes jogadas em situações críticas. Com mais de 1400 jardas na temporada, é alvo constante de Drew Brees em situações cruciais; seu talento para criar separação com ótimos movimentos nas rotas o coloca em janelas amplas, além de fisicamente subjugar seus oponentes por conta de seu tamanho, especialmente em situações de bolas divididas no alto.

No primeiro jogo entre as duas equipes na temporada regular, Thomas teve 12 recepções para incríveis 211 jardas –  sua melhor marca em jardas na temporada -, e foi dele o touchdown derradeiro que consolidou a vitória dos Saints: Thomas queimou Marcus Peters logo na linha de scrimmage, evitando o contato, e ganhou separação em rota vertical, recebendo e correndo para um touchdown de 72 jardas que colocaria números finais no jogo.



O detalhe é que nessa partida – bem em como todos os jogos entre as semanas 4 e 13 – os Rams atuaram desfalcados na defesa de Aqib Talib. O veterano de 11 temporadas e vencedor do Super Bowl 50 pelos Broncos se recuperava de uma cirurgia no tornozelo, e com certeza foi um dos desfalques mais sentidos na temporada.

Um dos cornerbacks mais físicos de toda liga, Talib é peça fundamental no esquema de Wade Phillips, que sempre gosta de contar com defensores deste estilo para o principal recebedor do time adversário. Com 1,85m, Talib é um jogador que gosta do contato logo na linha, e isso pode evitar a velocidade de Thomas. Sua impulsão é excelente, e as bolas contestadas não são um problema. Além disso, é um jogador experiente e acostumado a aparecer em momentos decisivos: no último jogo, ele forçou um fumble (não-recuperado, a bola saiu do campo) e limitou Amari Cooper a 65 jardas. Performance semelhante contra Thomas poderá ser de grande valia para os Rams saírem vitoriosos.

O fator Superdome

O elo entre os Saints e o Superdome supera o laço tradicional de “ser a casa da equipe”. Durante o período nebuloso dos efeitos do furacão Katrina em 2005, o Superdome foi abrigo de mais de 20 mil pessoas e ficou fechado durante toda temporada para servir a comunidade, com os Saints mandando seus jogos em outras cidades como Baton Rouge ou San Antonio.

Claro que não havia condições de mandar qualquer jogo com a cidade destruída e a situação humanitária sempre será prioridade mas, no fundo, era dolorido também para os torcedores da cidade verem seu time jogando em terras longínquas. O momento em que a equipe voltou a sua casa é um símbolo do ressurgimento da cidade, e o bloqueio de punt que virou touchdown contra os Falcons, a primeira pontuação do time em sua volta para casa, virou uma estátua na frente do estádio batizada de Rebirth (renascimento). Isso demonstra bem o elo entre tudo que envolve New Orleans e o Superdome.

Drew Brees é o ícone maior dos Saints em toda sua história e o pode ser considerado renascido também no Superdome. Ele chegou justamente para a temporada de 2006 após os Chargers trocarem-no para ficarem com Philip Rivers, e seu nome era visto com desconfiança em toda liga. Contudo, em New Orleans, deslanchou e se tornou o super astro que é hoje, com direito a ganhar um Super Bowl. Jogando em casa pelos playoffs, ele segue invicto: são seis vitórias em seis jogos, com 14 touchdowns lançados e apenas duas interceptações.

Jared Goff, quarterback dos Rams nunca jogou fora de casa nos playoffs e terá sua prova de fogo neste domingo: estaticamente, Goff teve seus piores momentos na temporada jogando fora de seus domínios, tendo lançado nove de suas 12 interceptações jogando fora de casa. Sempre bem relaxado e não demonstrando nervosismo antes e depois do jogos, saberemos no domingo se o estilo “cabeça fria” do quarterback do time de Los Angeles permanece ou ele será dominado pela mística do estádio dos Saints.



“STEELERS"

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Trata-se de um duelo com muitas variáveis e que tende ao equilíbrio. Se, jogador por jogador, os Rams tem uma leve vantagem em termos de profundidade em alguns grupos, os Saints tem um fator que jamais deve ser ignorado: Drew Brees. Ter um quarterback de nível de Hall of Fame e com experiência em playoffs é algo que tem de ser considerado em todos os duelos. Sean Payton também leva vantagem sobre Sean McVay no quesito rodagem, e em momentos cruciais essa experiência pode ser fundamental.

O fator casa também não pode ser ignorado como citado acima, e os Rams terão de ter resposta rápida caso fiquem atrás no placar ou o prejuízo pode se tornar grande, como no jogo da temporada regular. Se aproveitando da lesão do melhor jogador de linha defensiva dos Saints – Sheldon Rankins, que está fora por lesão -, os Rams podem tentar estabelecer seu forte jogo corrido e manter Brees o máximo de tempo fora do campo, com a defesa descansada. Não será uma tarefa fácil, haja vista que os Saints possuem a defesa que menos cedeu jardas por tentativa na temporada.

Levando todos os fatores citados, prevejo um jogo bem diferente do de novembro do ano passado. Se na época tivemos uma explosão de pontos, tenho a impressão que nesta partida as defesas farão um trabalho melhor e o placar não deverá ultrapassar 50 pontos somados. A paciência e resiliência serão fundamentais, pois a alternância de momentos bons e ruins deve acontecer, vide a capacidade de ambos os times. Por mais que não subestime jamais a capacidade dos Saints, especialmente em casa, a maior profundidade defensiva dos Rams lhe dá certa vantagem no meu prognóstico. Com Jared Goff cuidando bem da bola e evitando turnovers, vou apostar numa vitória dos Rams por 26 a 21, num jogo decidido somente na última posse de bola.

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