Existe um Russell Wilson perdido no meio do Draft de 2016?

E com a septuagésima quinta escolha (escolha número 12 da terceira rodada) do Draft da NFL de 2012, o Seattle Seahawks seleciona Russell Wilson, quarterback, Wisconsin.”

Há três anos, 10 meses e 28 dias, um oficial das forças militares norte americanas anunciava a escolha que fez muita diferença no futuro de Seattle e de toda a NFL. No mesmo momento que aconteceu a escolha, Mike Mayock falou na transmissão da NFL Network: “eu gosto dessa escolha, eu gosto dessa escolha“. Alguns falavam que era um reach, porém muitos lamentavam a escolha – sabiam o jogador que tinham perdido para Seattle. O Philadelphia Eagles, como já foi reportado, estava preparado para escolher Wilson 13 escolhas abaixo – e o front office ficou surpreso com a escolha dos Seahawks. Aliás, o Draft de 2012 foi recheado de signal callers promissores escolhidos a partir do segundo dia (Brock Osweiler, Wilson, Nick Foles e Kirk Cousins) e o Draft de 2016 parece que pode seguir o mesmo caminho.

Com um Draft cheio de possíveis quarterbacks escolhas de segunda, terceira e quarta rodadas, a pergunta que fica no ar é: existe um outro Russell Wilson este ano? Isto é, existe algum jogador com tanto potencial quanto Wilson? Braço forte, leitura de jogo, atleticismo e uma dedicação considerável ao jogo. Havia dúvidas quanto a precisão e a altura do quarterback na época, porém isso foi superado rapidamente. Ter todas estas características juntas e mesmo assim ser desvalorizado em seu draft stock é muito difícil, ainda mais depois de 2012. Não há nenhum jogador como ele em 2016, conquanto isso não significa que não haja potencial nas escolhas da metade do Draft.

Connor Cook pode ser um titular, mas o seu comportamento extra-campo é muito preocupante.

Dezoito quarterbacks participaram do NFL Combine e a expectativa é que entre 12 – 16 atletas da posição sejam escolhidos – para base de comparação, em 2012 foram 11. São muitos possíveis talentos, mas realmente, fora dos três que serão escolhidos na primeira rodada (Carson Wentz, Jared Goff e Paxton Lynch), mais algum pode vir a tornar-se um titular?

O primeiro nome que vem a cabeça é o de Connor Cook. Cotado para ser o quarto escolhido da classe, Cook muito possivelmente deve sair na primeira metade da segunda rodada para alguém que quer um projeto para desenvolver durante o tempo. O produto de Michigan State tem as ferramentas necessárias para disputar a posição de titular no futuro, porém existem muitas dúvidas com relação ao seu jogo – e, principalmente, sobre o seu comportamento. Com relação à dentro de campo, muita se duvida se Cook tem o braço ideal para entregar todos os passes necessários no nível profissional. Ele tem footwork, trabalhou em um ataque mais parecido com os da NFL, sabe ler defesas, tem uma mecânica sólida e uma sólida presença de pocket. O problema é a força no braço. Só que o que realmente põe em dúvida o seu futuro é o seu comportamento fora de campo. Ele não foi escolhido capitão pela equipe nem mesmo no seu senior year, o que dá força aos boatos que realmente não era uma presença agradável no vestiário – para quem não sabe, são os jogadores que votam em quem deve ser o capitão. Além disso, o episódio lamentável de desrespeito com a lenda Archie Griffin é inesquecível – mesmo depois de suas desculpas. Independente de seu futuro, Cook vai sair na segunda rodada e não responde a nossa pergunta inicial – se tem alguém que vale a pena no meio do Draft.

Braços fracos acabam com bons prospectos.

Na NFL as janelas de passe são muito menores que no college. Neste nível não basta só ser preciso; é necessário entregar passes rápidos. Por causa disso, muitas franquias toleram escolher (com o intuito de desenvolver) quarterbacks um pouco inconsistentes com a precisão dos passes ou footwork deficiente, porém prospectos com um braço fraco acabam sendo muito mais desvalorizados. E isso é uma péssima notícia para Brandon Allen, de Arkansas, Kevin Hogan, de Stanford, e Vernon Adams, de Oregon.

Allen e Hogan são dois projetos muito parecidos. Jogadores com uma ética de trabalho considerável (o que é essencial para ser um jogador bem sucedido), sabem ler defesas, relativamente precisos, tem um footwork mais refinado e boa presença de pocket. Jogaram contra defesas complexas e marcaram os programas em que passaram. Inteligentes, que parecem estar dispostos a trabalhar muito. Só que os dois têm um problema bem preocupante: não possuem o braço necessário para a liga. E isso é extremamente importante, dificultando e limitando o desenvolvimento – não dá para esperar que sejam muito mais do que bons reservas. Allen ainda é um prospecto pior que Hogan devido à ser mais baixo e ter menos músculos – ele aguenta a intensidade da liga? Além disso, o produto de Arkansas tem as mãos menores que o limite inferior aceito – nove polegadas. Lembre-se, quarterbacks com mãos pequenas são mais propensos a fumbles, ainda mais jogando em condições climáticas adversas. Os dois foram ótimos jogadores no futebol americano universitário, mas não devem repetir o mesmo na NFL – só que podem ser valorosos reservas.

Vernon Adams destacou-se por diferentes motivos, mas tem o mesmo limitador. Muito mais atlético que Allen e Hogan, Adams teve a difícil tarefa de substituir Marcus Mariota e não decepcionou. Após três anos em Eastern Washington, ele entrou na Spread Offense de Oregon e não demorou a se adaptar. Adams também demonstrou, durante o Senior Bowl, que tem os elementos para comandar um ataque mais tradicional, conquanto o braço nada confiável deve limitar a sua carreira na liga. Além disso, Adams tem o físico ideal… para ser um injury prone. Atlético, mas muito leve e com um histórico de lesões consideráveis.

Já que não tem nenhum Russell Wilson, tem alguém que, pelo menos, pode tentar imitar a carreira do astro do Seattle Seahawks? Talvez. Embora os próximos três sejam os mais promissores, eles têm problemas preocupantes.

Talento existe, mas falta o pacote completo.

Braço forte, porte atlético considerável, altura ideal e uma experiência sólida no nível universitário. Cardale Jones, Dak Prescott e Christian Hackenberg compartilham tais características e poderiam ser apontados (apesar de serem maiores que Wilson) possíveis gemas do meio do Draft. Enquanto Jones e Hack devem ser escolhidos entre a terceira e a quarta rodada, Prescott deve despencar para a quinta ou sexta devido à sua prisão nesta intertemporada.

Dak Prescott elevou o programa de Mississippi State a um outro nível. Antes saco de pancada na SEC, os Bulldogs voltaram a ser relevantes enquanto o signal caller esteve no programa. Apesar de ser conhecido pela sua capacidade atlética (foram 41 touchdowns terrestres na carreira!), ele evoluiu muito o seu repertório aéreo ao longo dos anos – teve uma incrível marca de 29 touchdowns e cinco interceptações em seu senior year. Prescott aprendeu a fazer leituras mais demoradas, a sentir a pressão e não se desesperar. Suas jardas terrestres caíram ao longo dos anos, o que mostra a sua melhora dentro do pocket. Mesmo com uma precisão duvidosa (em seu video tape é comum ver passes um pouco fora do alcance dos recebedores), o signal caller vinha se consolidando como uma possível gema das rodadas intermediárias – podendo ser escolhido na terceira rodada. Só que um problema aconteceu: ele conseguiu ser preso por dirigir embriagado.

Tudo bem que alguns atletas também cometem esse erro e continuam a sua carreira normalmente, porém Prescott está na intertemporada da vida! Ele não poderia, em hipótese nenhuma, cometer erros de comportamento – o que vai afetar muito o seu draft stock. É no período depois da temporada do College Football e antes do Draft que as franquias buscam saber quem não vai ter a preparação mental necessária para aguentar à pressão no nível profissional. Ser preso prestes a ser escolhido no Draft demonstra a falta de comprometimento e coloca em sérias dúvidas a sua ética e vontade de ser um grande jogador. Ainda mais sendo um quarterback, que é uma posição de destaque. O garoto vai precisar impressionar muito nas entrevistas para ser considerado na quarta ou quinta rodada. Prescott enterrou o seu valor com tal ato e não vejo nenhuma franquia arriscando mais do que uma escolha de sexta rodada nele. Ele era para ser o prospecto mais interessante entre todos, conquanto ser preso foi um baita tiro no pé.

Hackenberg não sofre do mesmo mal que Prescott: sua ética e vontade de trabalho são inquestionáveis. Muito talentoso, uma temporada de freshman acima da média e a esperança que ele deslanchasse no college – e virasse uma possível escolha de primeira rodada. Só que Hack não conseguiu se desenvolver. Quarterbacks com uma porcentagem de passes completos menor que 65% assustam – é o limite inferior da precisão. O produto de Penn State não conseguiu alcançar tal marca em nenhum dos seus anos no college. Ele é extremamente impreciso, até mesmo em bubble screens.

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Seu video tape é horrível. Footwork deficiente e mal trabalhado, falta de precisão e incapacidade de manipular as defesas com os olhos. O que faz com que ele esteja nessa lista? Apenas talento. A sua primeira temporada, sob o comando do, agora, técnico do Houston Texans Bill O’Brien, foi extremamente promissora e era possível ver todo o seu potencial. Além disso, Hackenberg não tinha suporte nenhum no time: péssima linha ofensiva e falta de playmakers. Algum treinador poderia achar que pode consertar seu footwork, o que faria com que fosse mais preciso e aumentaria a sua confiança. Todos os elementos estão lá (braço muito bom, ética e talento), mas falta trabalho. Talvez nunca venha a entrar em campo, mas vale citá-lo por causa do potencial que mostra.

Entre tantos jogadores problemáticos existe um que é o prospecto mais interessante: Cardale Jones. Desde que Jones surgiu em Ohio State, durante a loucura que foi a primeira temporada com Playoffs no College Football, era visível que ele tinha todas os elementos para ser um quarterback de sucesso. Atlético, alto, forte, braço forte, liderança e um espírito competitivo alto. Só que há dois problemas: ele é muito cru, mas muito cru mesmo, e há dúvidas se ele teria o necessário fora de campo para ter sucesso.

O ataque do programa comandado por Urban Meyer é extremamente explosivo e muito talentoso, porém é baseado completamente na Spread Offense (com elementos de No Huddle), o que atrasa o desenvolvimento de seus quarterbacks que querem jogar no profissional. Jones não se desenvolveu no college como deveria, tanto é que a maioria das suas jogadas no video tape são produtos de seu talento inquestionável. Sendo tão cru assim, é preciso trabalhar muito para desenvolver o footwork, leitura de campo, mecânica do passe e tantos outros aspectos técnicos para sobreviver na liga. Se Jones fosse dedicado com o trabalho e estivesse disposto a aprender muito, sem sombras de dúvidas valeria arriscar uma escolha alta nele.

O principal problema é: não parece que Jones é um cara que gosta tanto de se dedicar. No início da carreira, o quarterback escreveu em seu Twitter:

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“Por que nós deveríamos ir às aulas se nós viemos aqui para jogar futebol americano? Nós não viemos para jogar ESCOLA (sic), aulas são SEM SENTIDO.”

Apesar de seus pedidos de desculpas, é muito preocupante que tenha passado em sua cabeça tal pensamento. A NFL exige que você estude muito, que você estude bastante – seja o adversário, as jogadas no playbook, as situações de jogos e muito mais. Sem se dedicar aos estudos no nível profissional, não há como ser bem sucedido. Randall Cunningham era muito talentoso, mas não trabalhava tão duro quanto deveria – e nunca conseguiu desenvolver todo o seu talento. Johnny Manziel nem deve ter uma carreira devido a não conseguir ter um foco no futebol americano – falta ética de trabalho. Vale lembrar que Jones foi para o banco no meio da temporada, com J.T. Barrett assumindo a titularidade. Sua atitude é problemática demais para afirmar que ele pode ser o próximo Russell Wilson.

Em 2016 são muitos quarterbacks que são verdadeiros projetos, mas falta alguém que seja como Russell Wilson: tenha as ferramentas e esteja disposto a aprender ainda mais. Apesar disso, não há como negar que a classe tem talento e pode ser que alguém bem trabalhado possa vir a ser um titular. Desde 2012 não há tantos signal callers que podem sair no meio do Draft. Mesmo com tantas dúvidas, há bons alvos que valem a pena o risco. Se algum vai ter tanto sucesso como Wilson? Aparentemente não, mas só o tempo pode responder.

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