Façam suas apostas: até quando vai a paciência com Blake Bortles?

[dropcap size=small]P[/dropcap]ara os corajosos que se aventuraram em assistir o “clássico” da Flórida entre Jaguars e Buccaneers, uma coisa ficou bastante nítida: Blake Bortles parece não ter condições de ser titular na NFL.

Na partida de abertura da segunda semana da pré-temporada, o quarterback teve uma performance totalmente esquecível, levantando vários questionamentos sobre sua titularidade durante a temporada. Tanto é que o reserva, Chad Henne, foi para o jogo enquanto o restante dos titulares ainda estavam em campo, no final do segundo quarto.

Na sexta, o Dudu Miceli fez uma excelente análise sobre a mecânica de passe do Bortles, o que explica uma boa parte do problema. Apesar das dificuldades em jogar de maneira consistente, muitos analistas colocavam uma parcela da culpa na fraca linha ofensiva – o que aparentemente servia de justificativa para a franquia manter o quarterback como titular ao longo dos últimos três anos. Só que Doug Marrone, técnico que vem para a primeira temporada em Jacksonville, já deixou claro que o posto de titular está em aberto.

Por que Blake Bortles?

O Curti já explorou um pouco o tópico sobre a escolha do quarterback no Draft de 2014. A princípio ele nem era o principal jogador da posição, mas praticamente garantiu o status de escolha top 10 durante o combine. Para se ter ideia, seu físico e capacidade atlética fizeram com que ele fosse comparado com Big Ben Roethlisberger[note]http://www.nfl.com/draft/2014/profiles/blake-bortles?id=2543477 Acesso em 18/8/2017[/note].

De fato, suas medidas e resultados nos testes físicos impressionaram. Com 1,96m de altura e 105kg, correu o tiro de 40 jardas abaixo de 5 segundos – marca considerada boa para qualquer quarterback e acima da média se consideramos seu tamanho e peso. Em fevereiro de 2014, Blake foi o líder  (dentre os quarterbacks) nos testes de impulsões vertical e horizontal entre os prospectos da posição.

Blake Bortles não parece ter condições de ser titular na NFL

A boa capacidade atlética foi uma espécie de cereja do bolo no combine, visto que ele apresentou boa precisão e força no braço nos lançamentos – algo que ele já havia mostrado jogando por Central Florida. A propósito, Bortles teve uma boa produção durante o tempo no college, quando liderou um ataque semelhante àqueles da NFL por dois anos (sem muitos recebedores espalhados – Spread – ou corridas do quarterback). Quando foi titular, conquistou respeitáveis 22 vitórias e apenas 5 derrotas, chamando a atenção do país para suas performances. Contextualizando, são números ótimos para UCF – um programa sem muita tradição.



O desespero dos Jaguars

Na intertemporada de 2013, os Jaguars trocaram general manager e o head coach: David Caldwell e Gus Bradley chegaram, respectivamente. À época, o time vinha de um pífio 2-14, recebendo a segunda escolha geral do Draft. O quarterback? Um rapaz chamado Blaine Gabbert. Ao redor dele, um elenco bastante fraco, praticamente sem wide receivers e uma linha ofensiva que oscilava entre ruim e péssimo.

A dupla Caldwell e Bradley promoveu uma grande renovação, fez trocas, e escolheu o left tackle Luke Joeckel na primeira rodada de (um fraco) Draft em 2013. Ou seja, seja quem fosse o quarterback, teoricamente o pilar na proteção estava garantido. A temporada veio, Gabbert foi muito mal e sofreu uma lesão no ombro, deixando a vaga para Chad Henne.

Não tinha jeito: O Projeto Gabbert seria abortado. Assim, Blaine foi trocado para os 49ers por uma escolha de sexta rodada. Com várias dispensas e contratações, faltava o quarterback. E aí entra o brilho de Blake Bortles durante o combine. Não bastasse, a Universidade de Central Florida fica em Orlando – pouco mais de 2 horas de Jacksonville. Ou seja, era o casamento perfeito: um quarterback “ídolo” durante o college em uma universidade local indo para uma franquia que vinha com grandes dificuldades. Não era como se Jacksonville tivesse como desculpa que Bortles estava longe demais para que os olheiros pudessem conhecê-lo.

Desse modo, os Jaguars surpreenderam a todos e escolheram Bortles com a terceira escolha geral do Draft de 2014. Lembrando que nomes como Khalil Mack, Mike Evans, Odell Beckham Jr., Aaron Donald e Sammy Watkins estavam disponíveis.

Blake Bortles teve um carrossel de emoções em Jacksonville. Depois de tanto tempo, as desculpas (como a linha ofensiva fraca) não colam mais

Só que…

As boas estatísticas e carreira vitoriosa ao longo da graduação podem ser facilmente questionadas – e até foram na época do Draft. Se a quantidade de vitórias impressiona, não se pode dizer o mesmo da “qualidade” delas. UCF joga na AAC (ou American, como eles preferem ser chamados) – uma conferência menor e, consequentemente, com times mais fracos. Assim, a maior parte das vitórias vieram contra times sem talento se comparado àqueles que os quarterbacks de programas fortes enfrentam. Dos 27 jogos com Bortles under center, apenas quatro foram contra adversários ranqueados entre os 25 melhores times do país. O retrospecto? 2 vitórias e 2 derrotas.

Além do nível de jogo mais baixo, já havia um alerta aceso sobre a capacidade do quarterback jogar no contra defesas da NFL, mais rápidas e físicas. Ele mostrou bastante dificuldade quando enfrentou defesas mais fortes no college – por exemplo, no jogo contra Ohio State em 2012. Mais do que isso, ele nunca se mostrou muito confortável lançando passes mais longos e tomando decisões complicadas.

O sistema ofensivo usado em Central Florida baseava-se em muitos passes curtos e screens, com Bortles soltando a bola bem rápido para um recebedor pré determinado. Com efeito, ele acabava acertando a maioria dos passes que tentava e quase não ficava sob pressão. Ainda, Bortles não precisava fazer progressão e tomar decisões rapidamente – ou seja, ele quase só lançava para o primeiro recebedor que ele olhava. Quando se via em situação complicada, acabava usando sua vantagem física e resolvia facilmente com as pernas.

Resumindo, os bons números vieram contra adversários de nível mais baixo, sob um sistema simples que facilitava a vida do quarterback, o que inflou suas estatísticas. Em adição, as mais de 500 jardas e 15 touchdowns terrestres mostram que quando a jogada exigia uma decisão, a solução era correr.


Por que acreditaram em Blake Bortles até aqui?

A temporada de estreia de Bortles foi muito fraca: 11 touchdowns e 17 interceptações[note]https://www.pro-football-reference.com/players/B/BortBl00.htm Acesso em 18/8/2017[/note]. Todavia, não dá para condenar o jogador por uma temporada fraca assim; ninguém acreditava que um calouro conseguiria fazer muita coisa com um elenco recheado de jogadores fracos ou ainda inexperientes ao redor.

Veio a temporada de 2015 e mais contratações e escolhas no Draft já davam indícios de melhora. Em campo, o time até mostrou evolução: foram 5 vitórias, algo que não acontecia desde 2011. O mais animador, porém, foi a evolução que Bortles mostrou em seu jogo. Com um time nitidamente melhor (e mais experiente), ele lançou 35 touchdowns e 18 interceptações. Um ponto ainda questionável foi o baixo número de passes completados: apenas 58.6%.

Aí chegou 2016 e a gente embarcou no bonde do Jaguars sem Freio. Fomos enganados. O que se viu em campo foi uma queda drástica no desempenho do quarterback, com um número bem menor de touchdowns lançados. Ficou nítida a dificuldade para tomar decisões e fazer o ataque progredir.



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O time que alguns acreditavam ter condições de ir aos Playoffs terminou com 3 vitórias e a demissão do técnico durante a temporada regular. Toda expectativa criada ao redor de Bortles se tornou uma enorme decepção. Seu jogo decaiu, mesmo com uma linha ofensiva atuando melhor: nas duas temporadas anteriores o time foi o que mais cedeu sacks. Em 2016, foi 15º.


Acabou a paciência ou é tentativa de estimular a competição?

[dropcap size=small]A[/dropcap]inda durante os treinamentos nas últimas semanas, o quarterback mostrou deficiências passando a bola. Nos últimos dias de treinamento, o técnico Doug Marrone reduziu drasticamente a participação do jogador com o time titular. A justificativa? Bortles estaria com o braço cansado, pois estava com uma carga de treinamento alta[note]http://profootballtalk.nbcsports.com/2017/08/15/doug-marrone-says-blake-bortles-has-a-tired-arm/ Acesso em 19/8/2017[/note].

De fato, o signal caller teve uma intensidade de treinamento acima da média. Contudo, não faz sentido algum o técnico limitar a participação do seu quarterback titular nos treinamentos – até porque isso aconteceu contra a vontade de Bortles. Essa redução no número de repetições foi depois de um dia com duas interceptações de Bortles. Três dias depois, um jogo fraquíssimo e a declaração de que a vaga de quarterback titular está em aberto.

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Os Jaguars tomaram uma decisão muito importante no último mês de maio. A franquia optou por exercer a opção do quinto ano do contrato de calouro do quarterback[note]https://www.bigcatcountry.com/2017/5/1/15502092/jacksonville-jaguars-pick-up-blake-bortles-fifth-year-option[/note]. Assim, ele tem contrato até o final de 2018. Só que o valor para o ano que vem é bastante alto: são 19 milhões de dólares garantidos[note]http://www.spotrac.com/nfl/jacksonville-jaguars/blake-bortles-14412/ Acesso em 19/8/2017[/note].

A opção pelo quinto ano deixou claro que o time acredita(va) em Bortles para ser seu quarterback titular em 2017. O trabalho extra nos treinamentos seria uma forma de melhorar seu nível de jogo e corrigir problemas, como aqueles que o Miceli pontuou. O problema é que na prática as coisas estão estão longe de mostrar progresso.

Os treinadores esperavam uma evolução constante – que não aconteceu.

Qual o sentido de dar um contrato de 19 milhões para um jogador e três meses depois o técnico declarar que não sabe se este será titular? Certamente os treinadores esperavam uma evolução constante – apesar de Bortles já ter trabalhado com três coordenadores ofensivos diferentes ao longo dessas três temporada. De qualquer forma, parece que paciência está reduzida.

Ruim com Bortles, pior sem? 

Essa seria uma justificativa para manutenção do quarterback como titular: não há ninguém que possa fazer algo muito diferente. Chad Henne é limitadíssimo, como o Curti também comentou no outro texto. Já Brandon Allen é um jovem segundanista, escolhido na sexta rodada do Draft de 2016.

Ou seja, não há nada animador no banco de reservas. Henne já mostrou não ter as mínimas condições de ser nada além de um tapa buraco, enquanto Allen é totalmente inexperiente. Este poderia até ser um jogador para o futuro, mas até aqui não demonstrou nada de especial. Enfim, aparentemente ninguém conseguirá mudar muita coisa para a temporada que está para começar, e talvez a melhor opção técnica acabe sendo Bortles.

Se o time sem Bortles é pior do que com ele, digamos que não há muito o que piorar: nas últimas três temporadas foram 10 vitórias TOTAIS quando Blake foi titular. A grande questão é que a não-evolução de Bortles vai na contramão do que os Jaguars estavam pensando na vida. Após seguidas free agenciesdrafts, a franquia montou um time muito bom no papel – a chegada de veteranos como Malik Jackson, Tashaun Gipson, A. J. Bouye, Chris Ivory e Calais Campbell ilustra bem isso.

Dá pra dizer facilmente que essa defesa de Jacksonville tem nível para chegar aos Playoffs, então as coisas dependem do ataque funcionar. Para isso, há bons recebedores e um dos melhores prospectos de running back nos últimos anos foi selecionado no último Draft (Leonard Fournette). Também chegaram reforços para a linha ofensiva, apesar dessa não ser exatamente confiável.

O termômetro do ataque será quem estiver lançando a bola. E as declarações de Doug Marrone deixam bem claro uma coisa: Blake Bortles não tem condições de vencer. Um quarterback titular totalmente inconsistente (como o Miceli já bem detalhou em seu post) e sem confiança não consegue vencer de moco consistente na NFL. Com um elenco recheado de talento, aquele que conseguir vencer jogos – mesmo sem brilho algum, mas só por não prejudicar – será o titular.

E se você vê seu quarterback lançando passes horrorosos na pré-temporada, você fica preocupado. E ele é cotado para ser o líder da NFL em interceptações em 2017[note]https://www.betlabssports.com/blog/oddsmakers-say-blake-bortles-will-lead-nfl-interceptions/[/note]. Então você olha para os nomes que estarão disponíveis no mercado na próxima free agency, você vê que há um nome que pode ser um franchise quarterback por alguns (Kirk Cousins). E se olha a classe para o Draft, é uma das melhores da última década. Não tenho dúvidas de que os dirigentes de Jacksonville devem estar arrependidos por terem dado 19 milhões por Bortles.

Para piorar mais ainda a situação, a opção do quinto ano no contrato de Bortles tem um ponto importantíssimo aqui: se ele for cortado até março, não recebe nada e os Jaguars não perdem espaço no teto salarial. O único cenário em que ele não pode ser cortado (e pesará contra o teto salarial) é se, no caso de uma lesão séria, o quarterback não estiver apto a jogar março[note]http://profootballtalk.nbcsports.com/2017/08/18/blake-bortles-contract-may-force-jaguars-to-go-with-chad-henne/ Acesso em 19/8/2017[/note]. Isso muda totalmente a situação.

Chegou a hora de Chad Henne (meu deus…)

Além de não conseguir piorar muito mais do que já está, o time indo mal com Henne não será a maior tragédia do mundo. Mais uma escolha alta no Draft pode resultar na escolha de um franchise quarterback (já que a classe é promissora), ou até mesmo outro bom jogador. Também, bastante espaço na folha salarial permite que a franquia ofereça um bom contrato para assinar com Kirk Cousins, ainda mais tendo um elenco forte.

Ano passado ficou evidente como o ataque dos Jaguars era apático em campo. Para os defensores de estatísticas, a produção de Bortles nas duas últimas temporadas ocorreu quando o jogo já estava praticamente perdido. Na verdade, ele é o rei do Garbage Time – os últimos cinco minutos de jogo com o time perdendo por mais de duas posses de bola. E não é brincadeira: ele tem um quarterback rating semelhante ao de Tom Brady nessa situação, produzindo mais de 20% de seus touchdowns[note]https://fivethirtyeight.com/features/blake-bortles-is-the-tom-brady-of-nfl-garbage-time/ Acesso em 19/8/2017[/note].

Resumindo, no atual momento, colocar Bortles em campo não vale o risco de não poder cortá-lo ao final da temporada. É muito dinheiro em risco. Imagine você com 50 milhões de reais com duas opções para investir. Uma lhe renderá 5 mil reais em um ano, mas retorna 100 mil por ano nos cinco anos seguintes, com possibilidade de render até mais. A outra renderá 20 mil reais em um ano, perde 5 mil por outro, e depois não tem previsão de ganhos. Fácil escolher, não?

Seja com Chad Henne ou Brandon Allen em campo, Doug Marrone e os Jaguars não tem nada a perder. Tentar algo diferente pode ser uma solução no curtíssimo prazo, considerando que as opções são limitadas. Não custa nada sonha com Allen jogando bem e tendo uma temporada a la Dak Prescott 2016. Por outro lado, cada vez que Bortles entra em campo há um risco de arcar com um salário de 19 milhões de dólares para um jogador que nada produz. A escolha fica um pouco mais fácil e, ao menos a princípio, dá para apostar que Chad Henne deve ser o titular em 2017 (podendo até Brandon Allen virar titular ao longo da temporada).

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