Um gosto amargo permeia a boca do torcedor do Houston Texans – e do fã da NFL em geral. Poucas vezes se viu um desperdício de talento tão grande quanto a franquia faz com seu ataque nos últimos dois anos. O resultado não poderia ser diferente: ano passado, eliminação decepcionante; em 2025, início 0-3 e alerta vermelho soando.
Nas primeiras três semanas da temporada, Houston tem o pior ataque da liga. Provavelmente, o dado mais assustador do ano até aqui: são 38 pontos marcados (pior marca), 802 jardas totais (quarta pior marca), cinco turnovers (sexta pior marca). C. J. Stroud não reencontra o nível de seu ano de calouro, as peças ofensivas são subutilizadas, a linha ofensiva é um desastre e Nick Caley tem um início que poderia lhe render a guilhotina.
Em meio ao caos completo, há salvação?
Culpa compartilhada
Antes do início da análise, é válido ressaltar algo tremendamente importante. Em uma situação desse porte, no qual a catástrofe é generalizada, a culpa nunca é isolada e todos têm sua parcelada de culpa no resultado pífio apresentado nas três primeiras semanas. Não espere, portanto, análises simplórias querendo culpar apenas o quarterback ou o treinador ofensivo, pois é preciso analisar o panorama geral para entender como Houston se afundou no buraco (e se é possível sair dele).
Linha ofensiva
O plantio é opcional, mas a colheita é obrigatória. Na última temporada, Nick Caserio e DeMeco Ryans optaram por agir de forma pouco proativa em relação à linha ofensiva de Houston, uma das piores da NFL em 2024. Na free agency, não foram agressivos nos principais nomes disponíveis – como fez o Minnesota Vikings, por exemplo -; no Draft, saíram da primeira rodada e selecionaram apenas um prospecto para o setor (Aireontae Ersery).
É inegável que o front office da equipe acreditou que poderia melhorar a estrutura de proteção de dentro para fora; do contrário, jamais trocariam Laremy Tunsil e investiriam valores tão baixos em seu principal buraco de elenco. Alto risco, alta recompensa falha. Pode não ser uma linha ofensiva tão ruim quanto a do ano passado, mas o entrosamento e as leituras de pressão seguem péssimos.
Do lado direito, a chegada de Jake Andrews como center e a inserção de Ed Ingram como right guard foram positivas, tal qual Tytus Howard, que não vem mal. O problema reside do lado esquerdo: Ersery está sofrendo em seu início da NFL e a posição de left guard é um buraco. É ainda mais grave quando dois dos (baixos) investimentos na free agency se deram em Cam Robinson – hoje, reserva do calouro – e Laken Tomlinson, o qual faz pífio trabalho até aqui.
Stroud está sendo pressionado em 37,4% de seus recuos de passe, sendo que apenas 5% das pressões são por sua própria culpa, segundo o PFF. No restante, 75% são culpa da linha ofensiva e 20% culpa de “outros” (maior marca da liga, mais a seguir). É uma situação insustentável para um quarterback que gosta de jogar lendo defesas, navegando o pocket e que não possui mobilidade como seu maior forte. Se C. J. não soubesse improvisar e não fosse bom em jogadas fora de estrutura, a situação de Houston seria ainda mais calamitosa.
Velhos hábitos
O maior mal dos esportes. Não há nada pior que perceber, como torcedor, que algo vai dar errado – e o inevitável acontece diante de seus olhos. Nas primeiras três semanas, em três derrotas por uma posse, Houston atirou nos próprios pés. Faltas, jogadores que não deveriam estar em campo, chamadas sem o mínimo de sentido. Foi um show de hábitos ruins.
A NFL é um jogo coletivo no qual cada atleta importa. Em cada descida.
Na semana 1, contra o Los Angeles Rams, Houston estava na linha de 25 jardas do ataque, perdendo por 5 pontos e com 1:40 no relógio com seus três timeouts. Situação ideal para rodar o relógio e se colocar em posição de vitória. Dare Ogunbowale estava em campo, sofre um fumble infantil e a derrota vem.
RAMS RECOVER THE FUMBLE
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— NFL (@NFL) September 7, 2025
Na segunda semana, na derrota para o Tampa Bay Buccaneers, o mesmo Ogunbowale, que custou o jogo da semana 1 estava em campo. Seu highlight do jogo? Ser demolido em um sack de terceira descida crucial.
Houston, I’m begging you: More Woody Marks, less Dare Ogunbowale.
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— Sean (@SeanJ8) September 16, 2025
Não quero, com isso, culpá-lo pelas derrotas, mas, sim, realçar a dificuldade de Houston em se desfazer de hábitos passados que custam triunfos. A franquia selecionou Woody Marks no último Draft – running back excelente no jogo aéreo e na proteção ao passe – e precisou sofrer dois revezes para começar a inseri-lo mais em campo na partida contra Jacksonville. Gastou duas escolhas valiosas do recrutamento em wide receivers (Jayden Higgins e Jaylin Noel) e ambos não somam 10 alvos somados nas primeiras três partidas da temporada.
É um problema estrutural e, neste ano, vem custando caro. DeMeco valoriza suas lideranças e respeito isso, mas isso está custando seu ano como um todo. Ainda vou além e insiro o exemplo de Henry To’oTo’O, o qual assumiu a titularidade na posição de linebacker e foi responsável direto pela derrota para Tampa Bay, com um bizarro tackle perdido. Na semana seguinte, foi titular contra Jacksonville; virou “celebridade” perdendo tackle de pé contra Travis Hunter.
BAKER MAYFIELD KEEPS THE BUCS ALIVE WITH THIS GUTSY FOURTH DOWN SCRAMBLE pic.twitter.com/DPR0LJHtNm
— JPA (@jasrifootball) September 16, 2025

Caley, grande decepção
A saída de Bobby Slowik se deu por um motivo principal: a falta de conexão entre seu sistema e as qualidades de Stroud. Ao longo de todo processo seletivo e a intertemporada, foi dito sobre como o sistema de Nick Caley daria liberdade ao passador, evidenciando suas principais forças e trazendo ideias oriundas de seus anos de experiência com Sean McVay. Palavras ao vento.
O sistema ofensivo de Houston, hoje, assemelha-se mais ao New England Patriots da década passada do que ao dos Rams de McVay. As formações condensadas seguem em voga, as corridas óbvias e a falta de play-action e motions também. É um sistema ofensivo óbvio e mal desenhado, facilitando o trabalho das defesas adversárias.
Pode-se dizer que a única expectativa concretizada foi a maior liberdade de Stroud na linha e na leitura das defesas – algo inexistente em seus dois primeiros anos. No entanto, a demora do coordenador ofensivo em acelerar seu ataque prejudica o ritmo ofensivo e coloca a unidade em posição com menos de 10 segundos no cronômetro, o que impede leitura adequada das defesas/ajustes na linha.
Até aqui, Caley é uma grande “fake news” e não me assustaria em nada se ele perdesse o emprego antes do meio da temporada, caso a situação de Houston se torne ainda mais calamitosa.
Stroud: Ilusão?
Isso é um assunto que precisará ser tocado com maior delicadeza apenas ao final da temporada. Já cansei de queimar a língua com definições precipitadas e é um fato que quarterbacks são cada vez mais influenciados pelo que acontece ao seu redor. É preciso dizer que Stroud, todavia, precisa começar a crescer frente às adversidades.
Ele não vem jogando mal como as estatísticas dizem, mas isso também foi verdade na temporada passada e vimos que não é o suficiente para os objetivos da franquia. Ele não pode ser responsável pela falta de investimento na linha ofensiva, mas tampouco pode cometer interceptações como a primeira da partida contra Jacksonville. Há dois anos, nós veríamos C. J. completar esse passe com confiança e belo toque na bola; hoje, faltam-lhe os dois.
Em uma escala de problemas ofensivos, Stroud representa o menor deles, pois ainda é um quarterback extremamente talentoso que poderia ter liderado os drives da vitória nas primeiras semanas, não fossem tantos problemas ao seu redor. Entretanto, não podemos agir como se ele fosse um alecrim dourado poupado de críticas, ele tem culpa no cartório e precisa ser o capitão que comanda o barco em meio à tempestade. É uma das principais virtudes de um grande passador na NFL.
Há salvação?
Se tentarmos ser otimistas, podemos dizer que Houston perdeu seus três jogos por uma posse, colocando a mão na vitória em, ao menos, dois deles, com uma leve melhora ofensiva no segundo tempo contra Jacksonville. Se formos mais negativos, podemos dizer que o ataque continua modorrento e que a defesa está começando a capengar sem auxílio ofensivo.
As próximas semanas são definitivas. No domingo, os Texans encaram o Tennessee Titans, em casa, em um daqueles jogos que podem lavar a alma. Se Houston aproveitar a oportunidade contra um time mais fraco, pode “passar o carro” e retomar a confiança. Será necessário; já que logo depois enfrente o Baltimore Ravens e o Seattle Seahawks fora de casa, em embates bem mais complexos.
São semanas cruciais para a retomada ou a derrocada da temporada. Ou Houston vira a chave ou começa a pensar em 2026 (muito) antes do desejado.
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