Gostaria de iniciar esse texto respondendo “sim” para minha própria pergunta no título. Presenciamos momentos históricos para o futebol americano nas quatro partidas do final de semana passada. Tínhamos todos os ingredientes para bons jogos, mas ninguém esperava pratos de estrela Michelin em todos os confrontos.
No sábado, um energizado Cincinnati Bengals buscava sua primeira vitória fora de casa na história da pós-temporada contra o seed número um da conferência, o Tennessee Titans. À noite, Kyle Shanahan buscava derrubar o provável-MVP Aaron Rodgers numa noite de neve e frio em Wisconsin, num clima quase estereotípico para o Green Bay Packers. Já no domingo, Tom Brady receberia um Matthew Stafford embalado por uma boa perfomance na primeira rodada de pós-temporada, e, à noite, teríamos o confronto de ataque de alta octanagem entre Kansas City Chiefs e Buffalo Bills.
Meu amigo, que final de semana.
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Em absolutamente todos os jogos tivemos lances e momentos históricos. A vitória do Cincinnati Bengals levou o time à terceira final da Conferência Americana, além da primeira vitória fora de casa para o time de Ohio na história da pós-temporada. Um jovem elenco fez jogadas magníficas que causaram interceptações de Ryan Tannehill, vencendo com um field goal nos derradeiros segundos do calouro Evan McPherson. O kicker calouro decidiu a partida de um time que claramente estruturando o futuro próximo com Burrow, Chase, Higgins como os rostos dessa nova era. Do lado do Tennessee Titans, mesmo conquistando nove sacks, não aproveitou as chances ofensivas e saiu derrotado como seed número um pela terceira vez na sua história, em três oportunidades.
À noite, a história de Aaron Rodgers e San Francisco 49ers ganhou mais um capítulo. A cansativa narrativa do Draft de 2005 voltou com intensidade antes do quarto confronto do camisa 12 contra seu time de infância. Na neve, o então-poderoso Green Bay Packers falhou em anotar mais de 10 pontos dentro de casa contra um aguerrido time da Califórnia, com aquela que é possivelmente a melhor defesa dos playoffs. Apesar das limitações de Jimmy Garoppolo, o San Francisco 49ers venceu sem anotar um touchdown ofensivo ou defensivo, numa falha dos special teams de Green Bay – crônica de uma tragédia há muito anunciada.
Domingo foi especialmente emocionante. Depois de abrir uma vantagem de 20 pontos contra os Buccaneers em Tampa, o Los Angeles Rams quis porque quis dar mais um capítulo de viradas épicas para o livro de Tom Brady. E caro leitor, estava convencido da inevitabilidade do camisa 12 após o fumble de Cam Akers. Entretanto, Stafford tomou para si a narrativa com duas bolas espetaculares para Cooper Kupp, colocando o time em posição de anotar o derradeiro field goal, trabalhando com menos de um minuto no relógio. Depois de um final de temporada abaixo da crítica, Matthew Stafford mostra seu melhor lado na pós-temporada, e chega como um dos grandes nomes da sua posição na final da Conferência Nacional.
Eu sequer saberia descrever Buffalo Bills e Kansas City Chiefs. Honestamente, eu jamais faria jus à qualidade de Patrick Mahomes e Josh Allen, que mostraram o quanto são nomes de elite. Desafiando a lógica e o relógio no último quarto, Josh Allen encontrou Gabriel Davis na endzone numa quarta para 13, com segundos no relógio, além de outras duas vezes durante a partida. Um quarto período que começou 23 a 21 para os Chiefs terminou 36 a 36 num dos duelos definitivos dessa década. Com 13 segundos no relógio, Mahomes colocou os Chiefs em condições de empatar o duelo e levar para o quinto período adicional. Na prorrogação, inevitável, o camisa 15 anotou o touchdown sem dar chances para Allen encostar na bola. De todas as vezes que a regra do overtime foi cruel, talvez essa tenha sido a maior de todas.
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O que vivemos no último final de semana como fãs desse esporte é virtualmente incomparável. Todas as partidas foram emocionantes por si só e trouxeram impactos severos nos futuros de não só lendas do esporte, mas dos rostos mais explosivos das franquias. Qual o destino de Aaron Rodgers? Tom Brady pendurará as chuteiras? Joe Burrow e os Bengals serão a nova força da AFC, ao lado de Bills, Chiefs e Ravens? Como os Titans se reestruturarão para a próxima temporada?
E, mais do que isso, montou um palco colossal para as finais de conferência. Temos narrativas irresistíveis para qualquer um dos quatro times que por ventura vença o Super Bowl LVI. Uma temporada atípica desabrochou numa pós-temporada virtualmente incomparável, inesquecível. Somos sortudos!
No esporte, temos o receio de anunciar algo recente como “o maior de todos”, até pelo calor do momento. Entretanto, não vejo como outras semifinais poderiam alcançar em termos de emoção, qualidade e importância. Vimos, ao vivo e a cores, capítulos históricos de cada uma das oito franquias e futuros membros do Hall da Fama. O que testemunhamos será relevante pelos anos vindouros. Quando nossos pais dizem de um time especial da sua juventude – no meu caso, o Fluminense de 1984 pelo meu pai -, nos perguntamos como é a sensação de ver de perto a história do esporte.
É a sensação deste final de semana, caro leitor. Para sempre você poderá contar desse confronto entre Buffalo Bills e Kansas City Chiefs, consolidando a grande rivalidade da AFC pelos próximos bons anos, após um dos grandes duelos da história da NFL. Ou, ainda, o surgimento de uma nova era em Cincinatti e, talvez, o fim de outras duas, em Wisconsin e na Flórida.
Que o próximo final de semana traga grandes confrontos. Difícil superar alguns dos duelos das semifinais, mas o futebol americano é apaixonante pois não cansa de nos surpreender.







