Quem acompanha o site há alguns pode ser lembrar da minha exaltação com o camisa 4 do Oakland Raiders após a temporada de 2016. Jogando em alto nível, com precisão e sem sentir a pressão das partidas, o irmão mais novo de David Carr teve uma temporada quase-MVP. Liderou o então Oakland Raiders em 12 vitórias, com apenas 6 interceptações, 3.937 jardas e 28 touchdowns. Para quem não se lembra, vale olhar os duelos contra New Orleans Saints e Baltimore Ravens ainda no início da temporada. Ali, o camisa 4 mostrou calma, precisão e presença no pocket para se tornar o nome dos Raiders no lado ofensivo da bola.
Infelizmente, Derek Carr não teve o gosto da pós-temporada naquele ano. Após 14 anos na fila, o Oakland Raiders perdeu seu signal caller para o confronto decisivo contra o Houston Texans – Carr sofreu uma fratura na fíbula contra o Indianapolis Colts na Semana 15. Vocês podem imaginar a catástrofe que foi assistir Connor Cook under center numa partida de tudo ou nada.
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O ano de 2017 passou longe de ser uma réplica de 2016. Com muitos drops dos seu corpo de recebedores, voltando de lesão e afobado quando pressionado, o Oakland Raiders terminou o ano com apenas 6 vitórias e uma torcida insegura quanto ao futuro. “Será que o ano anterior tinha sido apenas uma miragem?” perguntavam-se os torcedores e analistas. E, na primeira semana de 2018, as dúvidas foram ofuscadas por um contrato milionário: Jon Gruden.
Dispenso maiores comentários relativos às ações abjetas do ex-técnico que vieram à tona recentemente, até para prestigiar Derek Carr ao invés de dar os holofotes para o ex-comentarista e ex-treinador. De qualquer maneira, Gruden foi agraciado com um contrato de uma década, 100 milhões de dólares e as chaves da franquia. Campeão do Super Bowl como técnico do Tampa Bay Buccaneers, chegou como um “encantador de quarterbacks” e com estigma de “grande mente ofensiva”. De alguma forma, Gruden colheu os louros de um grande trabalho defensivo feito pelo seu coordenador defensivo Tony Dungy em 2002 e os anos de cabine de tranmissão lhe deram ares de realeza. Os Raiders pagaram para ver.
E pagaram caro.
Com as chaves da franquia, Gruden fez suas estrepolias nos Drafts. Selecionou Kolton Miller na sua primeira oportunidade, um prospecto visivelmente cru à epoca, pegou P.J. Hall na segunda rodada, um outro tackle na terceira, Brandon Parker, que sequer está na equipe… uma farra do boi para os analistas de Draft. Em 2019, acertou em alguns nomes, como Josh Jacobs, Maxx Crosby e Hunter Renfrow, e pode-se dizer que foram os grandes legados da gestão Gruden. Gostaria de evitar entrar em maiores detalhes – temos muito o que falar de Carr, e não precisamos mergulhar nas minúcias das seleções de Gruden.
Ah, antes que eu me esqueça. Vocês lembram que ele trocou um dos melhores jogadores defensivos com o Chicago Bears? Lembro bem desse dia. É o tipo de troca que só saberíamos quem venceu anos depois, certo? Para os Raiders, viraram Josh Jacobs, Blessuan Austin, Damon Arnette e Bryan Edwards. Pois é. Por melhor que o Jacobs seja, você trocaria o Khalil Mack de 2018 por um running back?
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Em 2021, tivemos o merecido desfecho de Gruden, ainda que forçado por motivos extracampo. Com um elenco longe de ser um dos melhores da NFL, Carr sobrou como o holofote de esperança de dias melhores para Oakland. Jogou em alto nível, passou para 4.804 jardas e desafiou as expectativas, batendo rivais diretos para a pós-temporada em quatro partidas consecutivas para encerrar a temporada regular. Assim, o Las Vegas Raiders chega à pós-temporada pela primeira vez desde 2016, e enfrentará um promissor Cincinnati Bengals.
Independentemente do desfecho da partida de Wild Card, a temporada de 2021 é uma vitória para Derek Carr. O quarterback mostrou resiliência e comprometimento com uma franquia que, como diria Ney Franco, estava à beira do caos. Hoje, o camisa 4 está prestes a disputar uma partida de pós-temporada pelo time que o selecionou em 2014, um prêmio para lá de merecido não só pelo que mostrou em campo nos bons momentos, mas pelo que resistiu fora das quatro linhas.
Derek Carr, hoje, é o tipo de talento que pode não só levar os Raiders à pós-temporada, mas o tipo de nome que pode ser a diferença numa franquia bem gerenciada. 2021 provou isso. Caso Ben Roethlisberger se aposente, Carr poderia entrar e comandar um ataque para lá de eficiente em Pittsburgh. Sob as mãos de Sean Payton, New Orleans seria um forte candidato à pós-temporada. Ou, ainda, caso a tolerância com Carson Wentz vá para um nível intolerável, Carr e Reich seriam uma baita dupla em Indianapolis. Acredito que queira dizer que o efeito para uma franquia que porventura conte com o camisa 4 seria nos moldes da chegada de Matthew Stafford em Los Angeles.
Isso, claro, na hipótese do front office de Las Vegas acreditar que seja hora de um novo rumo para o jogador e para os Raiders. O camisa 4 já repetiu, diversas vezes, que sangra prata e preto. Sábado, teremos um capítulo merecido na história de Derek Carr com a franquia tricampeã do Super Bowl. Independentemente do placar final, Carr sai de cabeça erguida para 2022, seja qual for o futuro.







