Na atual temporada, poucas coisas nos transportam para um cenário de novela tanto quanto o cotidiano do Washington Commanders. Ao invés de termos um Comendador, temos Ron Rivera. Não temos Giovanni Improtta, mas Jack Del Rio. Carson Wentz, Terry McLaurin, Brian Robinson e companhia substituem os irmãos Sardinha.
No capítulo mais recente da equipe que tenta se recuperar nesta quinta-feira de quatro derrotas consecutivas, o head coach Ron Rivera deu uma declaração controversa. Segunda-feira, ao ser perguntado sobre a diferença entre os Commanders e os demais times da NFC East, a resposta foi direta: quarterback.
Praticamente seis meses após trocar pelo quarterback, Ron Rivera, instintivamente, advoga contra o projeto do qual é signatário. O ex-técnico dos Panthers elaborou, dizendo que os demais quarterbacks da divisão tiveram mais tempo para se acostumar com seus respectivos sistemas – houve mais tempo de aclimatação. Embora isso possa até ser verdade, a declaração deixa um gosto amargo para os torcedores do time da capital dos Estados Unidos.
Como alguém que foi a todos os jogos do time no FedEx Field em 2022, deixou uma sensação no mínimo desconfortável.
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A NFC East é uma grande surpresa em 2022 – exceto, claro, pelo Washington Commanders, que é exatamente o que se esperava. O Dallas Cowboys não perdeu o compasso e segue invicto com Cooper Rush como signal caller. O New York Giants vence com um corpo de recebedores em campo, e outro maior no departamento médico – sob a batuta de Daniel Jones, que, convenhamos, está longe de ser um Steve Young. Jalen Hurts pilota o único time invicto da NFL e mostra um notável desenvolvimento na NFL, dando passos largos para uma nova era em Philadelphia.
Fora Hurts, que carregava as esperanças do futuro, nem Rush, nem Jones são nomes infalíveis ou que representam uma claríssima superioridade em relação ao que Carson Wentz pode – em tese – fazer. Justificar o desempenho de uma vitória e quatro derrotas simplesmente como quarterback tira uma cavalar dose de responsabilidade das costas de Ron Rivera – de forma injusta.
Claro que Carson Wentz não é um nome de elite. Ele mostra lampejos de grandes jogadas, como no duelo contra o Jacksonville Jaguars, no segundo tempo contra o Detroit Lions e no último domingo, contra o Tennessee Titans. Todavia, esses lampejos não sustentam um ataque. A falta de consistência, a vontade de vencer em toda jogada levam Wentz a segurar a bola tempo demais, resultando em turnovers e sacks. Esse é o pacote Carson Wentz. Eu sabia, você sabia, meu querido Antony Curti sabia, o torcedor dos Eagles Henrique Bulio sabia. Ron Rivera assinou embaixo e, agora, joga seu quarterback de predileção aos leões.
As declarações de Rivera, que é comedido, deixaram incomodados até um dos mais queridos jogadores da última década, Alex Smith. O ex-camisa 11, comandado por Rivera em Washington, disse que ficou desconfortável ouvindo a entrevista. Num jogo tão coletivo quando o futebol americano, a culpa não pode ser apenas de Carson Wentz. Para Smith, isso é apenas jogar de forma injusta toda a responsabilidade no seu titular.
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A entrevista de Ron Rivera da última segunda-feira é um capítulo marcante na jornada do treinador em Washington. Com uma pegada de “ajustar a casa” desde que chegou no Distrito de Columbia, Rivera não conseguiu ainda uma temporada vitoriosa. Inclusive, ele tem um percentual de vitórias menor que o seu criticado antecessor, Jay Gruden, que também conquistou retrospectos positivos em dois dos seus anos em Washington. Por mais que Rivera diga que ele e Wentz tenham conversado longamente e “feito as pazes”, a declaração é um sintoma do vestiário.
Sem um norte, sem produzir resultados, o comentário é apenas mesquinho. Se Ron Rivera estivesse 3-2, tivesse tomado a liga de assalto com um ataque voraz, estivesse perdendo jogos por méritos dos adversários, relevaríamos. Se o legado de Ron Rivera fosse de sucessos ininterruptos, consistente, seria apenas uma declaração feita no dia seguinte a uma derrota apertada. Não é o caso. O que vemos do Washington Commanders é um rascunho de projeto, com alguns excelentes atletas, mas sem uma clara direção.
Não sei o que será da partida contra o Chicago Bears, mas não espero ver um grande salto de qualidade ou novas ideias. Não é do perfil de Ron Rivera. Honestamente, essa declaração, sem qualquer amparo de um crescimento em campo, é o equivalente a pegar um skate sem capacete e mergulhar na ladeira da demissão.
Não percam os próximos capítulos.
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