Um final um tanto quanto triste para o torcedor. Ir para o field goal, Kevin King espalhando a farofa, o passe inesperado para Scotty Miller no final do primeiro tempo: seja qual for o bode expiatório, a primeira final de Conferência Nacional no Lambeau Field com Aaron Rodgers de quarterback não foi como os cabeças-de-queijo esperavam. Na sequência, uma novela que se estendeu por quase toda a intertemporada. Passados os problemas, com Last Dance ou não, a mira nos Packers é uma só: Super Bowl ou Adeus.
DRAFT E FREE AGENCY 2021: Sem muito dindin pra gastar em espaço na folha, Green Bay não se mexeu muito em março mas isso não significa que nada aconteceu na intertemporada.
Depois da novela Avenida Green Bay, Rodgers pediu a volta de Randall Cobb – o que de certa forma mitiga a escolha do wide receiver Amari Rodgers na terceira rodada do Draft. Ainda no recrutamento, substitutos vieram. Eric Stokes entrará no futuro no lugar de Kevin King – que renovou em contrato de um ano – e Josh Myers falo mais abaixo.
Principal reforço: Renovar com Aaron Jones, RB. Não houve nenhuma contratação relevante na Free Agency, dado que o time estava apertado no teto salarial. Com isso, temos que colocar uma renovação aqui como reforço. Jones é um dos melhores running backs da atualidade, então é um reforço para a potencial Last Dance de 2021.
Principal perda: Corey Linsley, C. Green Bay optou por alocar os recursos na renovação de Aaron Jones e o teto salarial é estrito na NFL – ou seja, não dá para renovar com todo mundo. O substituto é Josh Myers, calouro que tem consigo muito otimismo. Mas convenhamos, a missão é difícil: Linsley foi um dos melhores centers da liga no ano passado.
Passada a novela, business as usual
O ataque de Green Bay no ano passado foi um dos mais potentes da NFL – não restam dúvidas para ninguém sobre isso. Quando você tem um quarterback Hall of Famer no comando de uma unidade ofensiva que tem um técnico amante de play-action e jogadas criativas, o caos defensivo é o que resta para o outro lado. A boa notícia para o torcedor é que mesmo com todas as noites dormidas entre abril e agosto, ao menos para 2021 a coisa segue idêntica nesse aspecto: Rodgers vem de temporada de MVP e ainda é um dos melhores a passar a bola num campo de futebol americano.
Mesmo que o instituto da regressão à média apresente-se em campo, ainda esperamos entre 30 e 45 touchdowns passados por Rodgers. O corpo de recebedores, seja como você quiser ver, está melhor para esta temporada – não que pudesse piorar, convenhamos. Randall Cobb não é um jovem, mas ao menos há o trunfo da sintonia com Aaron. Ainda que ele tenha menos produção a cada ano que passa, é um recebedor melhor do que Marquez Valdes-Scantling. Davante Adams é o melhor corredor de rotas da liga. Allen Lazard está saudável, o que por si já é uma boa notícia.
No plantel oficial do time, Valdes-Scantling é listado como o titular no oposto de Adams. Faz sentido por conta de sua velocidade para vencer os defensores – mas os drops precisam ser reduzidos em relação às temporadas anteriores. Ainda no ataque aéreo, Robert Tonyan foi uma grata surpresa, sendo bastante eficiente como alvo de Rodgers no fundo do campo.
Já a linha ofensiva… Preocupa para o início da temporada. Além da saída de Linsley, precisamos lembrar que David Bakhtiari perderá as seis primeiras semanas da temporada – ele ainda se recupera de lesão sofrida no final da temporada passada, no ligamento cruzado anterior do joelho. Ainda é um grupo sólido, mas é uma ausência relevante. Ainda falta falar de Aaron Jones, mas acredito ser chover no molhado. Running back completo, Jones teve as “amarras” soltas depois da queda de Mike McCarthy e mesmo em contrato caro, considerando que os Packers operam em modo all-in para 2021, faz até que sentido.
Sebastianismo não resolve Kevin King
O sumiço do Rei D. Sebastião no século XVI e o consequente caos em Portugal fez aparecer a lenda de que quando ele voltasse, tudo ficaria bem e todos os problemas sumiriam. Bom, infelizmente não é o caso dos Packers mesmo com Aaron Rodgers voltando: Kevin King ainda é o cornerback número dois do time.
Antes esse fosse o único problema. Que se frise, há boas peças defensivas na equipe. Jaire Alexander é um dos melhores cornerbacks da liga, bastante agressivo e oportunista em bolas contestadas. Kenny Clark é um jogador subestimado no miolo da linha, pouquíssimo falado. Adrian Amos é um safety sólido desde os tempos de Chicago.
Mas a questão King me preocupa. Não por bode expiatório em si, mas pela discrepância de talento entre Alexander e ele. Isso é um certo problema porque o time roda pouca marcação individual e os cornerbacks ficam 80% das jogadas no mesmo lado do campo, geralmente em zona[foot]via FOA[/foot]. Mesmo com a troca de coordenador defensivo e a chegada de Joe Barry para o posto, não acredito que isso possa mudar tanto pela raiz de personnel do time – como efeito, basta o quarterback evitar o lado de Jaire e explorar Kevin King como tantas vezes vimos.
O corpo de linebackers também é uma senhora preocupação. Isso de certa forma é mitigado pelo fato de que a equipe roda pacotes dime (6 defensive backs) à rodo: no ano passado, 50% das jogadas foram assim. Mas por falta de talento defensivo na posição de linebacker ou uma defesa mais leve por conta da chuva de defensive backs, o efeito é que há pouca resistência ao jogo terrestre no meio do campo. Green Bay esteve entre as 10 piores defesas da NFL em primeiras descidas cedidas pelo chão e também em conversões de terceira descida no mesmo cenário. Em jardas cedidas após o primeiro contato, foi 11ª.
São números que preocupam porque conter o jogo terrestre é essencial num segundo tempo de partida de playoff – ou você corre o risco do adversário dinamitar o cronômetro. Green Bay não compete só pela divisão – como favorito à NFC North a barra é mais alta. Daí o porquê do torcedor ter que monitorar (bastante) isso.
Como foi em 2020: 13-3, primeiro lugar na NFC North, perdeu a final da Conferência Nacional para o Tampa Bay Buccaneers.
Aspecto tático: Como você viu acima, não falei sobre o pass rush – mas falarei aqui. Que Preston e Za’Darius Smith são talentosos ninguém duvida. Contudo, talvez tenha passado sob o radar o fato de que ambos declinaram em pressões geradas na temporada passada. Respectivamente, de 35 e 66 para 11 e 30[foot]via FOA[/foot]. A questão é: se isso se repetir novamente em 2021, o que o time pode fazer? Eis o x da questão. Mandar blitz poderia ser uma boa, mas pode expor a secundária. Até por conta disso, no ano passado a equipe foi a 24ª em blitzes, com 22%. Vejamos o que acontece neste ano.
Jogo mais importante: semana 12, vs Rams. Os Packers não demonstraram problemas para bater os Rams em casa na Semifinal da Conferência Nacional no ano passado, mas o quarterback era Jared Goff. Num confronto que pode se repetir nos playoffs, demonstração de força na segunda metade da temporada é pra lá de importante.
Pergunta a ser respondida: Esta é a Last Dance? Com o futuro incerto de Rodgers, resta saber se as indiretas postadas por ele e Davante Adams no Instagram – com alusão à última temporada de Michael Jordan em Chicago, em 1998 – vão se concretizar ou não. Se o time vencer o Super Bowl, o que é possível, a chance dele ficar aumenta bastante.
O que esperar em 2021: Apenas um aerolito caindo no Lambeau Field impediria que o Green Bay Packers vença a NFC North. O problema é depois. Como disse, a barra – e as expectativas – são mais altas com Aaron Rodgers & Amigos. O time tem condições de vencer o Super Bowl, claro. Mas vejo Tampa Bay e Los Angeles Rams à frente. Para que a chance fique mais alta, os problemas defensivos precisarão ser solucionados.
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