História: As 17 temporadas de martírio do New York Giants nos anos 60 e 70

Por mais que a última década tenha sido péssima para os Giants, ela não se iguala aos chamados “Wilderness Years”, período compreendido entre 1964 e 1980 e marcado por derrotas, humilhações e nenhuma ida aos playoffs

A derrota por 20 a 9 sofrida contra o Miami Dolphins praticamente sepultou qualquer chance de reação do New York Giants em 2021. Deste modo, será outra temporada fora dos playoffs (a 9ª nas últimas 10) e com record negativo, salvo uma improvável sequência de cinco vitórias nas cinco semanas derradeiras. Enfim, nada que destoe do caminho de fracassos tomado pela equipe desde a conquista do Super Bowl XLVI.

Contudo, mesmo o atual momento sendo terrível, ele ainda assim não é o pior da história dos Giants. O feito pertence aos chamados “Wilderness Years” (algo como “Anos de Terra Arrasada”), um intervalo de 17 temporadas de disfuncionalidade, derrotas e humilhações sanduichado por duas eras de muitas glórias. Neste texto vamos conhecer mais sobre esse período conturbado da franquia.

1960: a crise se instaura

O martírio de New York teve início em 1964 e durou até 1980. Apenas contextualizando a mudança de paradigma, o time até então eram um dos mais vitoriosos da NFL, chegando a seis Championship Games nas oito temporadas anteriores.

O motivo dessa inacreditável implosão foi a dificuldade em renovar o elenco. Em 1964, por exemplo, quatro pilares das equipes vencedoras de antigamente se aposentaram: o lendário quarterback Y.A. Tittle, o fullback Alex Webster, o defensive end Andy Robustelli e o wide receiver Frank Gifford. Seguiram-se a essa debandada uma série de Drafts pouco produtivos, trocas ruins e decisões questionáveis do front office – o qual, segundo contam os relatos da época, era pouco aberto às inovações do esporte e vivia muito preso à tradição. Tal combinação de problemas secou o talento do plantel.

O ataque ainda se manteve competitivo, mas as defesas da segunda metade da década de 1960 eram abomináveis. Um caso ilustrativo a esse respeito é a famosa derrota por 72 a 41 diante do então Washington Redskins[foot]Adotaremos o nome antigo do time quando falarmos em temporadas que assim o era[/foot] em 1966. Aliás, New York conseguiu a façanha de ceder 501 pontos em 14 partidas naquela temporada, tida de maneira quase unânime como a pior e mais humilhante da história da franquia – até hoje a única na qual ela venceu um mísero jogo (1-12-1).

A incompetência era tão grande que indiretamente impactou o destino de todo o futebol americano. Após converter quatro field goals em 25 tentativas durante o ano de 1965, os Giants foram atrás de Peter Gogolak, kicker do Buffalo Bills e da AFL. A furada de olho acabou sendo o estopim de uma enorme crise entre as duas ligas rivais, acelerando o processo de fusão antes que uma destruísse a outra por conta da briga por atletas.

1970: reconstrução fora do campo, derrotas dentro dele

A década de 1970 tem um sabor agridoce. O retorno de Andy Robustelli em 1974 é tido como um ponto de inflexão positivo. O antigo ídolo chegou para ocupar o posto de diretor de operações, modernizando a gestão da franquia ao renovar o departamento de avaliação de jogadores e investir no centro de treinamento. Ele é considerado o responsável por plantar as sementes que dariam frutos no futuro.

Porém, se as coisas começaram a caminhar fora de campo, elas nunca foram tão ruins dentro dele. Entre 1975 e 1976, por exemplo, os Giants ficaram quase um ano sem ganhar. Ao todo, entre 1971 e 1980, a franquia venceu 45 partidas e perdeu outras 100. É de longe a período mais fracassado de sua história.

A derrota mais catastrófica aconteceu em 1978, no famoso “Miracle at the Meadowlands”, quando a equipe só precisava ajoelhar para garantir a vitória diante do Philadelphia Eagles, mas decidiu correr com a bola e sofreu um fumble. A nova humilhação custou o emprego de alguns membros da comissão técnica, tornando a situação do head coach John McVay insustentável. E sim, John é parente de Sean McVay – na verdade, é seu avô.

1980: a redenção

Os torcedores mais velhos de Palmeiras e Corinthians sabem o que é um jejum de títulos, ficando respectivamente 17 e 23 anos sem comemorar uma conquista. Os fãs de New York, por sua vez, descobriram como é ficar 17 anos sem ir aos playoffs.

A maldição foi quebrada somente em 1981, quando o time retornou ao mata-mata mesmo terminando em 3º na NFC East. Não por coincidência, nesta temporada Lawrence Taylor foi selecionado na 2ª posição geral do Draft e logo de cara recebeu o prêmio de Jogador Defensivo do Ano (sim, defensor do ano, não apenas o Calouro Defensivo do Ano). Os Giants acabariam derrotados pelo todo-poderoso San Francisco 49ers no Divisional Round, no entanto o respeito havia voltado.

Em 1983, iniciou-se a era Bill Parcells. Com o treinador, a franquia voltou a frequentar os playoffs regularmente, brigando por títulos de divisão/conferência e vencendo seus dois primeiros Super Bowls. Encerraram-se os “Wilderness Years” e estavam inaugurados os gloriosos anos 1980, época de ataques mais ou menos e defesas fantásticas comandadas por Parcells e seu discípulo Bill Belichick.

Muita gente considera a década de 2010 uma espécie de reedição dos “Anos de Terra Arrasada”. Essas pessoas não estão erradas, embora a ida aos playoffs em 2016, o ponto fora da curva, quebre a sequência negativa. As semelhanças de fato chamam a atenção, como a dificuldade em sair da era Eli Manning/Tom Coughlin, os Drafts ruins e as escolhas questionáveis do front office em relação a técnicos e general manager. Talvez a má fase não dure 17 anos, todavia ela ainda não está perto do fim.

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