Se você gosta de NFL, com certeza ouviu falar de Tim Tebow. Seja de forma debochada, como um meme ou pela inesquecível jogada nos playoffs de 2011, o quarterback se transformou em uma lenda da liga. Sua fama é tão grande que, quando foi anunciado seu retorno aos gramados pelo Jacksonville Jaguars, em 2021, ele liderou a venda de camisetas do esporte, mesmo que estive tentando fazer uma transição para a posição de tight end, à época.
É maravilhoso perceber a anatomia de seu sucesso. Tebow foi muito vitorioso no College, mas fracassou a subir ao nível profissional: uma temporada como titular com números horrendos. Por que, então, tanto carinho e misticismo ao redor de seu nome? É um meme, ok, mas é preciso ir além disso para consolidar sua história.
No final, não é tão difícil: Tebow é o mais nobre entre os fracassados.
O carisma e o coração
Pode parecer estranho o que vou falar, mas mesmo sendo bicampeão e vencedor do Heisman Trophy[foot]Troféu dado no College ao jogador mais dominante na temporada.[/foot], Tebow nunca foi naturalmente talentoso. A falta de habilidade, contudo, era superada pelo atleticismo, pela disparidade das equipes universitárias e, principalmente, pela sua vontade vencer.
Tebow sempre foi um grande líder no vestiário e dono de um coração que batalhava até o último segundo. Isso o levou ao sucesso em Florida, projetando-o para subir ao nível profissional, mas sem grandes aspirações. Não é sua culpa que Josh McDaniels teve lapsos de insanidade e resolveu selecioná-lo na primeira rodada do longínquo recrutamento de 2010. Ele tinha em seu coração a vontade de tentar, mesmo que resultasse no insucesso posterior.
Mesmo dentro do Denver Broncos, Timothy não dava sinais de que poderia se tornar um franchise quarterback. A oportunidade, porém, cairia em seu colo em 2011, de uma forma que ninguém poderia esperar. É então que sua liderança vem à tona e se torna mais importante do que o talento naquele momento.
Quando Tebow assume a titularidade na sétima semana daquele ano, sua falta de talento torna-se notória. Os Broncos, porém, vencem. Uma campanha que se iniciou 1-4 é finalizada com 8-6. Apesar dos defeitos técnicos dentro de campo, o quarterback possibilitou que a equipe atingisse a pós-temporada, atingindo o ápice na vitória sobre o Pittsburgh Steelers. Na Semifinal de Conferência, contra o New England Patriots, evidentemente as dificuldades de Tebow cobrariam seu preço, mas não importava mais: sua história estava escrita.
Seu coração e sua vontade de superar as adversidades técnicas o levaram a lugares que pareciam inalcançáveis. Quantos quarterbacks podem dizer que venceram uma partida de pós-temporada na prorrogação com o passe decisivo? Mais ainda: quantos jogadores podem se orgulhar de ter atuado nesse momento? Ser titular de uma franquia, conseguir um contrato de calouro de primeira rodada, ser bem-visto no vestiário e ser bem quisto por uma geração. Não é preciso ser o melhor sempre.
A nobreza nos pequenos atos
Uma vitória, um gesto, um caráter. Quando Tebow se ajoelhava para orar – movimento que ficou conhecido como Tebowing, viralizado naquela época -, a simbologia vai muito além de um pequeno ato pessoal. Ali vemos um homem que, mesmo longe de ser o melhor e à beira de ter o fim de sua carreira decretado, é grato pelo momento.
Com a chegada de Peyton Manning em 2012, Tim iria para o New York Jets para, então, sumir de vez. Só retornaria a NFL em 2021, quando Urban Meyer o colocou em uma situação delicada ao tentar mudá-lo de posição. A estratégia financeira era óbvia, mas injusta quando pensamos no que isso custou ao antigo quarterback. Ainda assim, nunca o vimos vir a imprensa reclamar, nem no início da década passada, nem desta.
Em tempos de rede social, Tebow poderia alavancar sua imagem à custa de atitudes que poderiam ir contra sua índole, mas manter seu caráter sempre foi algo inquestionável dentro e fora de seu trabalho. O que lhe importava não era a fama ou ímpeto de estar dentro de campo, e sim ser íntegro nos seus caminhos.
Aos olhos do esporte, talvez Tebow tenha fracassado. Uma escolha de primeira rodada que só postulou uma temporada como titular após uma carreira universitária vitoriosa. Uma década depois, um retorno falho. Olhar assim, porém, é limitar demais o escopo do que amamos no esporte.
Se Tim fracassou, então caiu com nobreza. Mas, se ela está nos pequenos atos, então ele não foi um malogrado. Na sua própria vida, ele foi vitorioso. Quando analisamos um atleta, exigimos que seu sucesso seja equivalente a títulos, só assim ele pode ser considerado um herói. Tebow nos mostra o contrário: as benfeitorias estão nos atos que fazemos ao nosso redor, mesmo que, aparentemente, ninguém reconheça.
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