Dado o contexto nos últimos dois anos, podemos dizer que campanha do Buffalo Bills em 2019 foi brilhante. Em um intervalo de cerca de 18 meses, Buffalo passou de franquia aparentemente sem rumo para time de playoff na Conferência Americana, ameaçando, de quebra, a soberania do New England Patriots na AFC East. Chega até a ser difícil descrever o tamanho do feito conseguido por Sean McDermott e pelo restante da comissão técnica.
O processo de remontagem evidentemente se baseou na construção de uma defesa excelente, sem dúvida alguma uma das cinco melhores da NFL em 2019 – e talvez mesmo em 2018, apesar da equipe não ter conseguido muitas vitórias naquele ano. Além disso, claro, o outro alicerce foi a seleção de Josh Allen no Draft. O jovem foi o escolhido para ser o novo quarterback da franquia e conduzir o ataque – coisa que ele vem fazendo, mesmo que muitas vezes aos trancos e barrancos.
A grande questão é que, embora esteja se saindo melhor do que o esperado como profissional, Allen ainda é o elo mais fraco de um time montado para vencer correndo com a bola e defendendo com excelência. Sua inconsistência como passador pode ser o grande calcanhar de Aquiles dos Bills nos playoffs, momento em que a margem de erro diminui e qualquer detalhe vira questão de vida ou morte.
Aumentar a precisão nos passes é o maior desafio
Falar sobre Josh Allen é quase sempre sinônimo de polêmica. Provavelmente ninguém discorda que ele melhorou em relação ao seu ano de calouro, porém existe muita controvérsia sobre o real tamanho dessa evolução. Os fãs do Buffalo Bills e do estilo empolgante como Allen joga futebol americano tendem a vê-lo como um legítimo playmaker, enquanto os mais críticos não enxergam uma melhora realmente relevante, algo que indique um grande futuro pela frente.
Não vamos negar que Allen seja um playmaker, afinal ele é perigosíssimo correndo com a bola e já fez várias jogadas importantes em momentos decisivos, pelo chão e pelo alto – ou seja, ele não merece ser chamado de “pipoqueiro”. Contudo, à parte seus momentos de brilhantismo, são raros os exemplos de consistência ao longo dos 60 minutos de uma partida.
Josh, por exemplo, é o quarterback titular mais impreciso da NFL em 2019: 58,8% de passes certos – embora, a bem da verdade, ele curiosamente seja acima da média nos lançamentos de 10 a 20 jardas. Ademais, ele completou apenas 26% dos lançamentos para mais de 20 jardas que tentou, ficando apenas com o 28º QBR da liga no quesito.
Por si só, essas estatísticas significam muito pouco, mas combinando-as com os vídeos dos jogos de Buffalo é fácil perceber como neste caso os números traduzem a realidade. Allen ainda tem algumas limitações técnicas muito graves que resultam em passes incompletos. Conforme previsto em um texto aqui no ProFootball antes da temporada começar, seu trabalho de pés continua péssimo, influenciando a mecânica e consequentemente a precisão dos lançamentos. Steven Ruiz, analista do site USA Today, mostrou em um texto cheio de GIFs a dimensão do problema. Além disso, o segundanista está longe de ser o melhor signal caller na hora de ler as defesas e fazer a progressão dos recebedores.
O confronto contra o New England Patriots na semana 16 é o exemplo perfeito. Allen conectou dois passes lindos em profundidade para Dawson Knox e John Brown, ao mesmo tempo em que errou por muito alguns outros lançamentos longos ou mesmo passes mais simples, de 10 jardas ou menos. Com ele é quase sempre uma no cravo, outra na ferradura.
