Justin Simmons e a desvalorização dos safeties na NFL

Um dos melhores jogadores de sua posição nos últimos anos, Simmons está sem time para a próxima temporada. A desvalorização dos safeties não é de hoje, porém existem caminhos - e jogadores - que começam a mudar essa realidade.

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A NFL é igual Carnaval: todo ano tem um hit diferente e aqueles que vieram atrás, ficam (ou não) guardados nos imaginários das pessoas na famosa caixinha dos hits de Carnavais passados. Antes senhores das singles-high e do fundo do campo, a posição de safety passou por uma mudança significativa na última década. Com as novas tendências ofensivas ganhando força, tal como as mentes pensantes e as executoras (quarterbacks, OLs, running backs e recebedores), os safeties precisaram se adaptar aos novos tempos. De quebra, terminaram por serem um tanto desvalorizados.

Prova disso é a situação atual de Justin Simmons. Um dos melhores de sua posição nos últimos 10 anos, o safety hoje está sem time, após uma passagem honesta pelo Atlanta Falcons em 2024. Embora esteja na “curva errada” da idade – 32 anos -, Simmons provou que ainda tem lenha para queimar. Mesmo assim, continua sem emprego, o que mostra como os safeties andam em baixa no mercado.

A princípio, o texto de hoje pode parecer uma mistura do quadro Túnel do Tempo do Vídeo Show com previsões do João Bidu. No entanto, o surgimento de novas estrelas e tendências defensivas podem devolver os holofotes aos safeties. Portanto, não pense você que eles não importam hoje na NFL. Pelo contrário: a importância deles vai aumentar cada vez mais.

Quando o 4-1-4-1 precisa virar 4-3-3 às vezes para sobreviver

Se você já leu algum texto desmiolado de minha autoria, sabe do meu apreço em traçar paralelos entre Pete Carroll e Vanderlei Luxemburgo. Além de agentes culturais do caos, eles são considerados caras de vanguarda – no caso do pofexô, autodeclarado até. A Legion of Boom do Seattle Seahawks foi um marco na NFL não apenas pela sua qualidade, como também pelos desdobramentos que ela gerou nos anos seguintes.

Primeiro, um breve resumo para os leigos. A Legion of Boom tinha um esquema bem simples para marcar o passe: cover-3 que, de vez em quando, se transformava numa cover-1 para fazer a cobertura homem a homem. O front defensivo não era lá tão brilhante, mas aliado a uma secundária com Earl Thomas e Kam Chancellor, ela subia de nível e sufocava qualquer corrida. Sem gaps para o jogo terrestre, isso fazia com que o adversário focasse no jogo aéreo. Mas era aquilo: boa sorte em conseguir um passe completo com Richard Sherman e quem estivesse do lado oposto. Geralmente, terminava com um passe incompleto ou uma interceptação.

O grande diferencial da Legion of Boom estava justamente em suas estrelas. Sherman era um dos cornerbacks mais físicos (e birutas) da década passada, excelente na cobertura individual e principalmente jogando em zona. Porém, o que tornou a Legion of Boom tão icônica foi justamente os seus dois safeties. Earl Thomas ficava mais no meio do campo, atuando mais como free safety. Já Kam Chancellor alinhava próximo ao box, ajudando na pressão do quarterback. Os dois não apenas revezavam os papéis, como eram excepcionais em cobrir as brechas que a cover-3 deixava, conhecida como “seams”. Toda vez que o ataque alinhava dois recebedores em cada lado do campo – geralmente com slot receiver e tight end para atacar esses espaços -, Thomas e Chancellor ficavam responsáveis por cobrir as seams e fechar essas janelas também. Com o talento e a velocidade que eles tinham, tudo ficava mais fácil.

No entanto, a qualidade da lendária secundária foi se dissipando ao longo dos anos. Seja por falta de adaptação por conta de Carroll, seja pelos jogadores envelhecendo e a falta de reposição à altura, a Legion of Boom foi perdendo seu brilho. Ou melhor: mais gente aprendeu a lidar com ela.

Lavoisier dizia: nada se cria, tudo se copia

O futebol americano é uma grande briga de gato e rato: quando uma coisa dá certo, o contraponto vem rapidinho. A Legion of Boom tornou um velho conceito (a cover-3) famoso de novo, logo vários coordenadores e head coaches tentaram replicá-la. Um exemplo direto disso foi um ex-coordenador defensivo da própria LOB: Dan Quinn. Após sua passagem por Seattle, ele tentou repetir a fórmula em Atlanta. No começo e com bons recrutamentos, deu mais ou menos certo, tanto que os Falcons chegaram a ir ao Super Bowl. Contudo, esse “mais ou menos” foi o responsável pelo crime, já que a defesa nunca encontrou o equilíbrio necessário e, menos ainda, o brilho similar ao da Legion of Boom.

Falando em Quinn, outra pá de cal foi o surgimento de outra tendência na metade final da década passada: as corridas em zona e uma penca de rotas cruzando o meio do campo. Popularizadas por Kyle Shanahan e Sean McVay, a união de um backfield inteligente + um quarterback bom o suficiente para rodar o play-action + uma árvore de rotas enorme + recebedores sempre livres tornou a vida das defesas muito mais difíceis. Com isso, a “solução” foi colocar dois safeties no fundo do campo e fronts com 5 jogadores, justamente para povoar a meiuca do campo.

Como foi dito no início deste texto, a NFL é igual Carnaval com um hit novo diferente. Mas no caso da primeira, alguns hits antigos ressurgem das cinzas com uma nova roupagem.

Winfield, Hamilton & Cia: bem-vindo à era dos híbridos

A pirotecnia ofensiva dos últimos anos gerou uma consequência interessante no lado defensivo da bola. Com todo mundo preocupado com as bombas no fundo do campo, a preferência por cornerbacks e safeties mais leves, porém rápidos, aumentou. Logo, os ataques revidaram priorizando o jogo terrestre e formações pistol, por exemplo. Da mesma forma, usar dois homens no fundo do campo continua em alta na liga. O diferencial está, entretanto, em como você consegue explorar a maior virtude para um safety na NFL atual: a versatilidade.

Antoine Winfield Jr e Kyle Hamilton são os dois maiores exemplos disso. Onipotentes, onipresentes e oniscientes: eles podem jogar tanto no fundo do campo, como também alinhados próximo ao box (ou como um slot) ou como um linebacker “bônus”, dependendo da jogada. Winfield costuma atuar como o clássico strong safety, enquanto Hamilton é muito bem utilizado como nickel e como free safety também. Mas eles não se prendem a esses papéis, muito pelo contrário: em um único snap, eles podem trocar de posição num piscar de olhos.

Isso não quer dizer que o clássico safety, aquele que patrulha o meio do campo e cuida essencialmente dos passes em profundidade, deixou de existir. No entanto, os ataques aéreos cada vez mais excepcionais – e com passadores ainda mais refinados – obrigam os coordenadores defensivos a encher a secundária de safeties. Ou para quando tiver rotas cruzando no meio do campo, por exemplo, utilizar os mesmos para mesclar dois, três conceitos numa mesma jogada.

Por mais que os safeties não recebam tantos holofotes como antes, ter um playmaker na posição se tornou fundamental na NFL de hoje. Quando você tem dois, melhor ainda: vide o caso dos Lions, com Brian Branch e Kerby Joseph. Quanto mais safeties versáteis você tiver, fica mais fácil de você usar disfarces e/ou misturar conceitos. Um exemplo disso é o Houston Texans: embora tenha dois jogadores ótimas em Calen Bullock e Jalen Pitre, o time foi atrás de C.J. Gardner-Johnson justamente para tudo isso e também poder usá-lo em jogadas com três safeties no fundo do campo.

Que os safeties são os operários silenciosos da defesa, isso é fato. Mas hoje em dia, quem tem um (ou mais de um) bom jogador na posição tem uma mina de diamantes nas mãos.

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