Pouco mais de um mês atrás, a ESPN americana publicou um artigo falando sobre uma tática não-conhecida do público e que vinha se espalhando cada vez mais na NFL. As equipes estão adicionando um seguro de contrato para seus principais jogadores, o que na prática é exatamente como funciona um seguro regular: você paga um valor por um produto e, caso algo aconteça com o mesmo, você pode recuperar parte deste (ou o valor cheio).
É um método interessante de se analisar e, principalmente, um método ainda bastante desconhecido do público em geral. Com Deshaun Watson se machucando e oficialmente perdendo o restante da temporada, o seguro voltou a ser pauta nas redes sociais. Nesse artigo, vamos utilizar a lesão do quarterback dos Browns como exemplo e também explicar o porquê da prática não ser tão difundida entre as equipes da NFL.
Watson se machucou. O contrato é totalmente garantido. E agora?
O contrato de Watson, como sabemos, é uma atrocidade para o Cleveland Browns. O time deu um contrato totalmente garantido a um jogador que estava sem atuar há mais de um ano (e que certamente seria suspenso por mais jogos) e, como sabemos, não deu certo. No ano que vem, ele terá um cap hit gigantesco, estará voltando de lesão e, relembrando, não joga bem desde a temporada de 2020.
O mesmo vale em 2026.
Agora… se lembram que a história das lesões de Watson se repetiu em 2023? Pois bem – tenha isso em mente. Logo antes da temporada de 2024 começar, apertados na folha salarial pelo contrato horripilante que possuem em mãos, o time foi obrigado a reestruturar o contrato converter o salário do jogador em bônus de assinatura para limpar espaço. Só que o time também fez um movimento que não foi comentado: dos 44M que o time converteu, 13,9 milhões de dólares foram protegidos por seguro de contrato. Justamente porque, no ano anterior, ele já havia se machucado.
Não vou me alongar explicando como funciona a contratação do seguro de contrato da NFL por dois motivos: o primeiro é que é uma tarefa, digamos, obscura, e o segundo é que o artigo da ESPN no topo já o explica muito bem, embora em inglês. Mas voltando ao contrato de Watson, a fórmula a saber é a seguinte: com esses 13,9M protegidos, eles são divididos por jogos que o quarterback vai perder.
É importante dizer aqui que os números desse artigo são aproximados e calculados a partir das fontes disponíveis. Dessa forma, pense nos números aqui citados como aproximados e não como absolutos.
13.900.000 / 17 jogos = 817.647 de salário garantido por seguro por jogo.
817.647 x 10 jogos que o quarterback vai perder daqui até o fim da temporada = o Pro Football projeta que os Browns vão receber US$ 8.17 milhões de alívio na folha salarial em 2025 por conta do seguro contratado.
Vale lembrar que, de acordo com o Spotrac, os Browns estão 41.02 milhões de dólares acima do projetado teto salarial da NFL em 2025. É a segunda situação mais calamitosa da liga e um dos três times que, neste momento, estão acima do cap. O terceiro é o Seattle Seahawks com 740 mil acima, então vão se livrar disso com facilidade. O primeiro time, que você sabe muito bem qual é, está 97.63 milhões acima do cap. E sim, você leu certo.
Então, por que todo time não usa os seguros de contrato?
Bem, as razões são muito simples. A primeira é que estamos falando de um seguro estruturado da mesma forma que você paga para o seu carro. Só que os valores assegurados são milionários, de modo que os valores para a contratação do seguro em si também são milionários. Não é nada barato fazer esse movimento, mesmo que tenha ótimo valor com relação a abrir espaço na folha salarial.
A segunda é complementar do ponto acima. Esse valor milionário a ser pago tem de sair do bolso de alguém – que, no caso, são os donos das franquias da NFL. Eles não gostam de pagar milhões por coisas que podem não gerar absolutamente nenhum retorno. Boa parte das franquias utiliza o recurso, porém não são todas. Afinal de contas, quem dá o aval final da contratação do seguro são os próprios donos.
E os donos da NFL são extremamente mão-de-vaca.
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