Matthew Stafford, campeão do Super Bowl

A conquista do Vince Lombardi consagra uma grande - e por vezes subestimada - carreira

Por vezes, grandes carreiras na NFL não são premiadas com um Vince Lombardi. Exemplos não faltam de brilhantes talentos que nunca venceram o Super Bowl. Dan Marino, LaDainian Tomlinson, Tony Gonzalez, Antonio Gates, Jim Kelly, Randy Moss, Warren Moon, Anthony Muñoz, Barry Sanders, Calvin Johnson… a lista é vasta.

A vitória do Los Angeles Rams premia vários nomes pela primeira vez. Entre eles, Aaron Donald, Andrew Whitworth, Odell Beckham Jr., Cooper Kupp e Jalen Ramsey. Ainda assim, a vitória sobre o Cincinnati Bengals é o momento de ouro para ninguém menos que Matthew Stafford.

Na sua décima terceira temporada como profissional, a primeira em Los Angeles, o camisa 9 mostrou, na pós-temporada, toda sua excelência. Mais do que um braço forte, Stafford sempre mostrou inteligência, paciência e, acima de tudo, resiliência, seja pelos anos em Detroit ou por sempre voltar ao gramado mesmo lesionado. Ainda assim, o camisa 9 é um grande exemplo de quarterback que corria o risco de ser escondido pela história. Ênfase no corria.

Na atual era do futebol americano, o vistoso jogo aéreo é privilegiado. Isso pode ser lido de várias formas – a adaptação das regras para permitir shootouts mais livres, o uso de analytics que demonstram a eficiência do passe ou as tendências spread que migraram do futebol americano universitário para NFL. Por conseguinte, mais quarterbacks se destacam, e surgem vários bons passadores. E, naturalmente, alguns bons passadores podem passar despercebidos, por melhores que se mostrem.

Jogando no tímido mercado de Detroit e por uma franquia que muitos dizem ser amaldiçoada, a excelência de Matthew Stafford sempre foi coadjuvante da narrativa “perdedora” que era mais sedutora para nós, os veículos de comunicação. É extremamente cômodo falar que “o Detroit Lions sempre será Detroit Lions” ao invés de investigar o que causou uma insuficiência crônica para que o time alçasse vôos mais altos. Por vezes, eram erros do próprio quarterback, claro, tentando um passe sem considerar a cobertura ou tentando compensar um déficit considerável no placar. Por outras, eram carências no jogo terrestre ou na defesa que não davam condições para que Matthew Stafford chegasse mais longe na pós-temporada.

Mesmo assim, Stafford perseverou e em todos esses anos, você não viu chiliques na Motor City. O quarterback conta com 42 campanhas vencedoras no último quarto, atrás apenas de Peyton Manning, Tom Brady, Drew Brees, Ben Roethlisberger, Dan Marino e Brett Favre. Boa companhia, não? Essa estatística só demonstra a capacidade de triunfar em momentos adversos e pressão, como vimos no último domingo no maior palco do futebol americano. Perseverou, também, quando perdeu Calvin Johnson, um dos wide receivers mais dominantes da história, a quem muitos atribuíam parte do seu sucesso. Na temporada de 2016, a primeira sem o lendário camisa 81, foram 4.327 jardas e 24 touchdowns, alcançando a pós-temporada. Em 2017, chegou à marca de 4.446 jardas, 29 touchdowns e manteve uma alta produção aérea mesmo sem seu alvo predileto até 2015.

Nos seus anos em Michigan, os Lions chegaram à pós-temporada três vezes, em 2011, 2014 e 2016. Todos na rodada de Wild Card, todos fora de casa. O camisa 9 não conquistou nenhuma vitória, esbarrando em fortes equipes de Saints, Cowboys e Seahawks. O time teve bons anos com Jim Caldwell, mas Stafford teve também que passar pela péssima versão da Patriot way de Matt Patricia. Entre 2018 e 2020, os Lions entraram numa espiral que passou longe do time ameaçador dos anos anteriores, perdendo qualquer harmonia no vestiário e entrando num processo de reconstrução.

Nesse processo, o quarterback se despediu de 12 temporadas e encontrou um encaixe perfeito em Los Angeles. Sob o comando de Sean McVay, tanto o head coach quanto Matthew Stafford encontraram aquilo que sempre precisaram. McVay conseguiu abrir seu leque de opções com um visível upgrade quando comparado a Jared Goff, enquanto o signal caller encontrou uma forte linha ofensiva, Cooper Kupp, uma defesa para lá de sólida e um time recheado de talentos em todas as fases. A temporada de 2021, como sabemos, entrou para a história, e Matthew Stafford deslanchou no momento mais importante – como é do seu feitio, desde os anos de Detroit.

***

Por algum motivo, eu sempre gostei de seguir o Detroit Lions. Assinantes mais antigos talvez lembrem que eu sempre me voluntariei a escrever as prévias de temporada do time de Michigan, e, mais recentemente, escrevi sobre o futuro de Jared Goff na equipe. Assim, acompanhei de perto o talento de Stafford por anos, sempre torcendo pelo reconhecimento que ele merecia.

No último domingo, minha torcida se concretizou com uma grande atuação.  Matthew Stafford, merecidamente, vence um Super Bowl, um feito gigantesco para um quarterback que carregou o peso de ser a primeira escolha geral e as esperanças de uma franquia por mais de uma década. Hoje, Stafford entra num seleto rol de campeões, e alcança o panteão de grandes quarterbacks da sua geração.

Acima de tudo, o futebol americano não corre mais o risco de deixar a grande carreira de Matthew Stafford se esconder na história. O camisa 9 é campeão do Super Bowl LVI. Isso não se apaga, se celebra!

“odds