Mike McCarthy diz que nunca mais vai deixar de chamar as jogadas – isso é ruim ou bom para os Packers?

Não existe coisa mais frustrante no esporte que uma equipe que tem um desempenho aquém do esperado. Em português, pelo que me lembre, não existe um termo específico para descrever tal ação, mas no inglês o termo é to underachieve.


E o pior exemplo de to underachieve não é aquele em que os jogadores acabam se perdendo devido ao favoritismo (o famoso salto alto), mas sim aquele em que a comissão técnica não é capaz de extrair o máximo de seu produto. As vezes não é incapacidade do técnico principal ou dos seus auxiliares e sim a situação errada, no momento errado e com as peças erradas. O exemplo mais notável de underachieve no esporte bretão foi a seleção brasileira em 2006. Um time recheado de estrelas – o tal do “Quadrado Mágico” –  e com um treinador que insistia em escalar um quadrado disfuncional (ignorando o bom momento que outras formações tiveram), que acabou caindo bem antes do esperado – e ficou longe de mostrar o futebol que se esperava.

O Green Bay Packers é uma das franquias mais bem sucedidas da NFL. Conhecida por não ter dono, mas, uma espécie de “sociedade anônima” e ter planejamento a longo prazo, ela tornou-se notória em desenvolver talentos – principalmente o seu quarterback – e tornaram-se uma ameaça constante na Conferência Nacional. Atualmente a equipe conta com, discutivelmente, quarterback mais completo da liga e que até agora só tem um Super Bowl – talvez falte mais.

Compare os Packers com os Patriots, por exemplo. Dois signal callers excepcionais e duas franquias com problemas em alguns setores no campo. New England apareceu nos últimos cinco AFC Championship Game. Green Bay? Apenas um nos últimos cinco – ou dois nos últimos seis. Claramente AFC e NFC são diferentes e cada uma das franquias possui particularidades distintas, no entanto uma coisa chama a atenção: a comissão técnica e o playcall (o modo de chamar as jogadas que serão executadas no campo).

Mike McCarthy, treinador principal do Green Bay Packers, falou ontem, dia 04/08, que “nunca vai deixar de chamar as jogadas novamente” em entrevista ao USA Today. Após o desastre do Special Team no NFC Championship Game contra os Seahawks no início de 2015, McCarthy deu espaço para o coordenador ofensivo da franquia, Tom Clements, chamar as jogadas de ataque e se comunicar mais com Aaron Rodgers.

McCarthy aprendeu a lição e voltou a se conectar mais com Rodgers ao longo do ano (ele estava dividindo muito a atenção com outros setores nos últimos anos) e acabou retomando o papel no meio da temporada passada – principalmente após o ataque parecer estagnado e pouco criativo. Mesmo com a mudança, o ataque não decolou muito e terminou o ano sendo o 15º em pontos e 29º em jardas por jogada – o que retrata bem a dificuldade do ataque em lidar com as lesões e a falta de produção dos playmakers ao longo do ano. A esperança é que em 2016 o panorama mude, mas é preciso arriscar mais.


Mesmo assim, Green Bay teve uma atuação respeitável nos Playoffs e quase eliminou Arizona em casa, contando com uma atuação de gala de Rodgers ao final da partida. O final de temporada torna entendível a declaração, mas é preciso lembrar da trajetória de McCarthy antes de aplaudir a sua decisão.

Ele sempre foi conhecido por ser ultraconservador no playcalling, ainda contando com um quarterback fora de série. Foi “jogando para não perder” que Green Bay acabou caindo para os Seahawks – por exemplo. A sua insistência em não arriscar, em ficar dentro da zona de conforto, deixou os fãs fora de si em muitos momentos nos últimos anos – e isso explica um pouco a falta de aparições de Rodgers no Super Bowl.

A cada ano que passa fica mais óbvio que para chegar longe é necessário arriscar, colocar tudo para perder. Bill Belichick é o maior exemplo e deveria ser um exemplo para os treinadores da liga que ainda vivem com a ideia de não se arriscar ao longo da partida. McCarthy aparentemente mudou um pouco, visto a sua atuação durante o Divisional Round no ano passado, conquanto é preciso vê-lo muito mais em ação para ter certeza que largou o estilo ultraconservador.

Note que ele é um bom técnico principal. Sabe montar um elenco, sua comissão é extremamente competente em desenvolver talentos e normalmente atua muito bem em desafios durante a partida. Largar a chamada de jogadas poderia ser algo positivo para a franquia, mas Clements não conseguiu dar ritmo ao ataque – por inúmeros motivos.

A partir de agora, o torcedor vai torcer para que esta declaração de McCarthy só seja verdade se ele realmente confirmar que largou o estilo retranca e vai aproveitar mais o quarterback que possui. O potencial dos Packers é muito grande, porém a equipe sempre parece ter uma performance inferior ao esperado. Se o playcall não ficar mais agressivo, com certeza o torcedor da franquia vai voltar a passar raiva nos próximos anos.

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