O futebol americano pode ajudar as pessoas a encontrar um sopro de motivação em momentos complicados da vida. Através do esporte, o linebacker do Cuiabá Arsenal, Henrique Fernando Paim, buscou na bola oval a vontade de seguir lutando contra o câncer.
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Paim descobriu ter leucemia linfóide aos 23 anos. Um choque na vida de qualquer um. Não à toa que o jogador se retraiu, escondeu e aceitou a pena de uma doença devastadora. Com o tratamento em andamento, Henrique tratou de lutar pela vida. Atualmente tem 27 anos e após quatro anos de quimioterapia – com ainda mais três anos para seguir o tratamento – Henrique passou pelo ápice da leucemia e busca vencê-la.
“Minha primeira reação ao descobrir a doença foi de aceitar a morte. Passei dias e dias recluso sem qualquer esperança de vida. Sem contato com pessoas. Nem mesmo contei para minha família. Mas, em algum instante, não sei bem qual, consegui reagir ao tormento da ideia de morte certa. E, sem saber na época, ali naquele minuto renascia minha vida. Comecei a viajar, fazer aventuras e praticar futebol americano” contou.
Henrique Fernando é formado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Estadual do Centro-Oeste, no Paraná. Nasceu e foi criado no município de Guarapuava. Depois mudou-se para Campo Grande em 2011, por conta de um romance com aquela que futuramente seria esposa – a Janaína –, lá namoraram, brigaram, se separaram, a leucemia foi descoberta e reataram.
“Conheci Janaína numa viagem para Campo Grande. Anos depois a reencontrei pela internet e passamos a conversar. Até decidirmos que eu mudaria de Guarapuava para lá. Então mudei, ficamos juntos por um tempo e, por alguma divergência, rompemos o namoro. E quando estava sozinho descobri o câncer. Fiquei recluso no início, mas depois contei para minha mãe, que veio visitar e deu de cúpido. Contou para Janaína, que se aproximou para ajudar e reatamos”, lembra.
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O tratamento quimioterápico teve início logo após a descoberta, em 2012. Os medicamentos injetados em seu sangue destroem as células doentes – inclusive as saudáveis, infelizmente – que estão formando o tumor e impedem que se espalhem pelo organismo.
“No início fazia quimio toda semana. O cabelo caiu, perdi 30 quilos e sentia dores por todo corpo. Para todo lugar que ia passava mal. Era comer num restaurante ou lanchonete para vomitar na frente de todos. Fiquei depressivo. E, por causa da quimio, fui diagnosticado como estéril. Não podia mais realizar o sonho de ter filhos. Não sei como minha namorada permaneceu comigo. Até hoje ainda sinto muitas dores físicas”, comenta.
Mesmo com as sessões semanais de quimioterapia, que deixam o paciente debilitado, Henrique começou uma jornada pelo esporte. Chegou a saltar de paraquedas, mas o coração bateu mais forte pelo o futebol americano. Entrou para o Campo Grande Predadores. Pelos sul-mato-grossenses chegou a ir aos treinos com máscara de proteção pós-quimioterapia e curativos de soro. Foi quando os companheiros lhe apelidaram de Câncer.
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“Quando faço quimio fico cerca de três dias ruim. Uma sensação horrível. Parece que os ossos do corpo pegam fogo. Você vomita, fica fraco, tem náuseas, insônia, dor e tontura. E nem sempre pode pegar folga do trabalho. Meu médico chegou a me receitar morfina para não sentir tanta dor. Com o tempo acostumei e passei até a ir treinar mal mesmo. Os outros jogadores ficavam preocupados. Mas acabaram por entender que eu precisava daquilo”, disse.
Em 2015, ano repleto de boas notícias, a doença teve o primeiro recuo, o qual lhe permitiu diminuir a quantidade de sessões de quimioterapia. Situação que acarretou em outra boa nova, com menos medicamentos no sangue, Henrique, sem saber, voltou a ser fértil. Descobriram a novidade quando Janaína percebeu estar grávida. Uma felicidade seguida por um pedido de casamento. Depois mudaram, por oportunidades no mercado de trabalho, para Cuiabá.
“Foi um susto quando fiquei sabendo que seria pai. Eu tinha ficado estéril. Como assim vou ter um filho? Pensei. A gente nem mais se cuidava por causa disso. Então descobrimos que eu havia voltado a produzir espermatozoide, por mais incrível que pareça. E casamos com ela grávida ainda naquele ano, 2015. Hoje a bebê, de nome Yanni, está com seis meses de idade. E ela será uma torcedora do Cuiabá Arsenal” conta.
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Henrique tornou-se atleta do Cuiabá Arsenal em 2015, logo após ter chego de mudança de Campo Grande. Foi treinado pelos técnicos do clube e, neste ano de 2016, disputou a primeira partida como parte do plantel de atletas. Foi um dos responsáveis pela vitória de 76 a zero contra o Tangará Taurus, na primeira rodada do campeonato mato-grossense. Segundo ele, mais um sonho realizado com sucesso.
“Sempre tive o sonho de ser pai. Por um tempo fiquei triste pensando que não seria. Mas a vida me trouxe a Yanni de presente. Outro sonho era jogar pelo Cuiabá Arsenal. Tenho tudo que o esporte não precisa que um atleta tenha. Tenho deficiência em conseguir massa muscular, uma fadiga mais rápida e cicatrização demorada. Se me cortar posso ter hemorragia. Mas tomei isso como desafio. Preciso me dedicar mais do que uma pessoa em condições normais para ter os mesmos resultados. Por isso faço muita preparação física. E essa busca, aliada com os vínculos de amizade entre jogadores, contribuem para meu bem-estar”, acredita.
Henrique continua com as sessões mensais de quimioterapia. E, neste ano, o tumor teve uma remissão – quando a doença não demonstra mais sinais de atividade -, mas isso ainda não é uma cura. Ele segue com o tratamento até 2018.
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