Quem assistiu às duas primeiras partidas do Pittsburgh Steelers em 2021 pôde constatar que as coisas não vão bem na Cidade do Aço, pelo menos em termos de ataque. Salvo o segundo tempo diante do Buffalo Bills e um ou outro lampejo contra o Las Vegas Raiders, a franquia não foi capaz de mover a bola pelo campo consistentemente, conseguindo jardas e pontos quase sempre na base do fórceps.
Assim como em 2020, o grande calcanhar de Aquiles é de novo o jogo terrestre, por enquanto o último da NFL em jardas totais (114) e o terceiro pior em jardas por tentativa de corrida (3,0). Nem mesmo a injeção de talento representada pela escolha do running back Najee Harris na 1ª rodada do Draft surtiu efeito até agora. Então fica a pergunta: o que está acontecendo em Pittsburgh? Teria Le’Veon Bell jogado sal na terra antes de ir embora e nada mais cresce por lá?
Antes de mais nada, pense em termos de eficiência
Números são sempre úteis para entender o futebol americano, mas muitas vezes eles só contam uma meia verdade. Por isso o trabalho feito pelo site Football Outsiders com a sua métrica DVOA é tão interessante, pois ela tenta contextualizar os dados e apresentar uma visão de eficiência ao invés de apenas vomitar estatísticas cruas. Não é perfeito, claro, porém no geral traduz bem a realidade do campo.
Por exemplo, no momento no qual este texto é escrito, o running back mais eficiente da NFL é Tony Pollard, o reserva de Ezekiel Elliott no Dallas Cowboys. Ninguém em sã consciência o considera o melhor running back da liga; ele é simplesmente quem vem tendo mais sucesso – de fato, Dallas parece avançar umas 10 ou 15 jardas cada vez que Pollard encosta na bola.
E como Najee Harris entra nessa história? Você talvez não se surpreenda ao saber que ele é o segundo corredor mais ineficiente da NFL, sanduichado entre Saquon Barkley e Clyde Edwards-Helaire. Aliás, baita ironia os três running backs menos eficientes deste início de temporada serem escolhas de 1ª rodada, no entanto esse é assunto para outro texto.
Harris está entre os piores em todas as métricas de avaliação do Football Outsiders, sendo o 35º em DVOA (só na frente de Edwards-Helaire), o 34º em Effective Yards e o 33º em Sucess Rate. Você pode descobrir o significado de cada uma dessas coisas significa aqui, contudo, se não estiver com paciência, basta ter em mente que ficar entre os últimos é ruim.
A chave do problema está nas trincheiras
O calouro não é um bust. Não lhe falta talento, falta oportunidade de produzir, algo que por outro lado sobra a Pollard ou Nick Chubb, os corredores mais eficientes da lista. Não por acaso, ambos possuem sólidas linhas ofensivas à disposição.
O Football Outsiders também avalia linhas ofensivas. Sem surpresa, a dos Steelers está lá embaixo quando o assunto é jogo corrido: no caso, a 3ª pior em Adjusted Line Yards (a principal métrica usada para medir a eficiência terrestre das linhas), a 5ª pior no quesito Stuffed (corridas que morrem antes ou na linha de scrimmage) e a 4ª pior em Second Level Yards.
Traduzindo: Harris somou apenas 45 jardas em 16 tentativas diante de Buffalo, uma média pífia de 2,8 por corrida. A questão é que, segundo o Pro Football Focus, quase 80% dessas jardas vieram depois do contato. Ademais, em média, ele só conseguia avançar 1,2 jarda antes de sofrer o primeiro contato dos defensores, ou seja, Najee quase nunca chegava ileso à linha de scrimmage e quando chegava precisava quebrar tackles para conseguir algum ganho.
Enfim, a reformulada linha ofensiva de Pittsburgh vem sofrendo com os mesmos problemas de 2020. Saíram os veteranos em fim de carreira, entraram os jovens inexperientes e o time ainda não consegue correr com a bola, embora Ben Roethlisberger siga razoavelmente bem protegido. É difícil imaginar os Steelers indo longe sem um maior equilíbrio ofensivo e isso passa por um melhor trabalho dos atletas e da comissão técnica. Caso contrário, não existe running back escolhido na 1ª rodada capaz de dar jeito, ainda que ele fique incríveis 98% dos snaps dentro de campo.
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