Rezam as más línguas (eu) que boa parte das franquias esportivas de Chicago se assemelham a uma certa instituição de futebol e regatas. Principalmente no que tange ao futebol americano. Embora o Botafogo tenha quebrado a sua sequência sem títulos, o modus operandi de botafoguenses e torcedores do Chicago Bears é igual. Mesmo que o momento seja bom, vai sempre pairar no ar uma sensação de que algum desastre vai acontecer a qualquer instante. Masoquismo? Sim, mas com justificativa! Afinal, existem coisas que só acontecem com o Botafogo e o Chicago Bears – e na maioria das vezes, elas são desgraças.
Dito isso, venho humildemente por meio deste Bat-canal fazer duas coisas. 1) Refutar o que eu escrevi duas semanas atrás, sobre Chicago ser um time pior do que a campanha indicava. As últimas semanas mostraram que isso não é verdade. As vitórias apertadas contra Bengals, Giants e Vikings podem gerar desconfiança, mas existe mais além da sorte. A defesa, mesmo desfalcada, está forçando turnovers como ninguém. O ataque também encontrou seu ritmo, com o jogo terrestre indo bem e Caleb Williams aparecendo nos momentos finais dos jogos.
O primeiro ano de Ben Johnson não poderia começar de maneira mais positiva. É aqui que mora o segundo ponto e, portanto, a esperança. Após décadas de bagunça e desgraças, o Chicago Bears está no caminho certo. De verdade.
Maquininha caça-níquel de turnovers
Uma das grandes questões antes da temporada começar era como seria a defesa sob o comando de Dennis Allen. Experiente como poucos, o coordenador defensivo dos Bears tem um estilo de jogo bem característico: cover-2 com muita pressão no miolo da linha e blitzes pontuais. O ponto de interrogação era em relação à profundidade do elenco, mais em específico no pass rush. Qualquer lesão ali poderia escancarar a falta de profundidade e, portanto, escancarar os problemas da unidade.
O que aconteceu? Uma penca de lesões na defesa e muitos problemas de pressão. Chicago é a sexta pior equipe pressionando os quarterbacks adversários (17,9%). Em compensação, os Bears são os líderes da liga em interceptações, com 15. Como explicar essa maluquice?
Confesso que quebrei a cabeça para entender isso. Além dos problemas no pass rush, os Bears são terríveis nas primeiras descidas do campo e a 8° pior defesa contra o jogo terrestre. Porém, não tem como ressaltar o papel das lesões nesses números. Dayo Odeyingbo, o melhor dos mortais entre os pass rushers, está fora da temporada. T.J. Edwards deve voltar em breve, mas está longe de estar 100%. Nomes importantes da secundária, como Kyler Gordon e Jaylon Johnson, perderam tempo lesionados também.
Ao meu ver, a solução que Allen encontrou é simples: 1) seja excelente em 3° descidas; 2) coloque um maluco de pedra jogando como nickel e 3) se você não consegue pressionar o quarterback com frequência, pelo menos faça ele errar bastante. Até agora, nosso titio Dennis vem tendo bons resultados. Os Bears são o 2° melhor time da liga defendendo terceiras descidas. Segundo o Pro Football Reference, são 35 conversões cedidas para 104 tentativas: uma média de 33,7%.
Já os dois últimos pontos se conectam entre si. Na ausência de Gordon, o nickel original do time, quem entrou em seu lugar foi um free agent (literalmente) maluco: C.J. Gardner-Johnson. Após ser cortado por Houston, o safety mais biruta da NFL foi fundamental para a defesa dos Bears se tornar um caça-níquel de interceptações. Jogando como nickel, C.J. ajuda horrores no pass rush. Em apenas três jogos, ele tem três sacks, quatro tackles para perda de jardas e um fumble forçado.
Além disso, a sua presença como nickel abre espaço para que demais nomes façam suas gracinhas. Não à toa que Chicago tem três dos quatro líderes em interceptações da temporada: Kevin Byard (5), Nahshon Wright e Tremaine Edmunds (4 cada). As coisas podem não ser maravilhosas o tempo todo, porém Dennis Allen faz um trabalho ótimo até agora.
Dê a Caleb o que é de Caleb
Vamos colocar os pingos nos is. Caleb Williams está botando a responsabilidade nos ombros e jogando bem quando precisam dele? Sim. Está jogando bem nos últimos quartos? Também. Dá para considerá-lo um quarterback top-10 da liga? Nem de longe. A inconsistência ainda está presente, com ele lançando um pato morto logo depois de fazer a jogada mais linda da semana.
Williams pode não estar jogando com garbo e elegância, de fato. Mas ele aparece nos momentos importantes e o melhor: ele ajuda o time a vencer jogos. Algo que tanto no seu ano de calouro, quanto até no começo da temporada, ele não fazia.
A melhora mais notória está onde Caleb mais penou em 2024: os sacks. Neste ano, são 16 sacks: quase 4 vezes menos do que os 68 de 2024. É claro que a linha ofensiva (e a comissão técnica, óbvio) melhorou nesta temporada, embora esteja longe de ser top-10 da liga. Porém, é só assistir alguns snaps do ataque que você verá um Caleb Williams evitando sacks e, em especial, usando mais scrambles.
Outro ponto de melhora está no pocket. Que Ben Johnson tornaria o ataque mais “fácil” para o quarterback, isso não é novidade. Contudo, a teoria só funciona se for colocada em prática. Hoje, Williams é um passador muito mais seguro no pocket do que era no ano passado. Vide o último jogo contra Minnesota. Embora tenha completado apenas 50% dos seus passes, o quarterback dos Bears encontrou soluções e, de quebra, seus recebedores nos momentos chaves da partida.
Está tudo perfeito? Não, pois ainda existe uma dissincronia de relógios entre Williams e Johnson. Em outras palavras: Caleb ainda joga muitas vezes com um timing diferente do que seu head coach gostaria de ver. Ainda assim, existem motivos para ficar feliz com ele. Sim, torcedor, você tem finalmente um quarterback promissor.
Don’t stick to the status quo
Existem dois motivos pelos quais não dá para confiar 100% no Chicago Bears. O primeiro é óbvio: se a defesa parar de forçar turnovers e a bruxa seguir solta, as chances dela virar um queijo suíço são enormes. O segundo talvez seja mais implicância da minha parte do que um problema real hoje, mas que pode uma preocupação em breve: o ataque precisa jogar melhor fora do script.
Até aqui, ele está mostrando pequenas amostras de que é capaz disso. As vitórias contra Bengals e Giants mostraram um Caleb Williams jogando bem dentro e fora do pocket, além de um quarterback muito decisivo quando se precisa dele. Mas como dito anteriormente, nem sempre ele e Ben Johnson estão em sincronia – e isso pode trazer problemas sérios. Vide a derrota contra os Ravens na semana 8, por exemplo: o jogo terrestre não entrou, Caleb Williams precisou sair mais vezes do script e passar mais a bola. Resultado: cometeu mais erros.
Os running backs ajudam muito, é claro: D’Andre Swift está tendo uma boa temporada e Kyle Monangai é uma grata surpresa. Além deles, Rome Odunze virou o melhor recebedor do time e dois calouros estão surpreendendo (e muito): Colston Loveland e Luther Burden III. Porém, DJ Moore é uma decepção enorme e a OL dá as suas rateadas de vez em quando, o que contribui para essa desconfiança.
Os próximos jogos serão fundamentais para Chicago se confirmar como um time de playoff. Além do confronto contra Pittsburgh, a reta final de temporada regular é complicada: Eagles, Packers, Browns, Packers de novo, 49ers e Lions. Outro ponto é a briga pela NFC North. Tanto Bears quanto Lions estão 1-2 dentro da divisão, enquanto que os Packers estão com campanha positiva. Vencer um jogo divisional será essencial para a equipe não só manter a liderança atual, mas também se manter na briga pela pós-temporada.
O Chicago Bears está no caminho certo. Mas para ter sucesso agora, vão precisar sair um pouquinho do seu status quo. Ficar o tempo todo nele só funciona no High School Musical mesmo.
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