Besta ou Bestial. Ryan Pace terá um dos dois adjetivos daqui cinco anos, quando o potencial contrato de calouro com Mitchell Trubisky terá seu fim. No Draft de 2017, os Bears fizeram algo arriscado – coisa que não costumavam fazer já há algum tempo.
Para começo de conversa, mesmo com signal callers pedestres durante a década de 1990 e 2000, Chicago não tem o costume de gastar escolhas de primeira rodada no Draft. A última havia sido gasta em Rex Grossman com a 22ª escolha da primeira rodada de 2003. Jay Cutler veio como primeira rodada – mas por vias tortas, dado que originalmente foi draftado pelos Broncos em 2006. Quando Josh McDaniels lá chegou em 2008, na prática despachou Jay para Chicago por uma escolha de primeira rodada e mais uma de terceira.
Soa familiar. Foi exatamente o que os Bears fizeram ontem. Ou melhor: mais ainda, porque Chicago subiu uma escolha no Draft ao mandar a terceira rodada deste ano, a do ano que vem e mais a quarta deste ano. All in.
Antes de mais nada, contexto. Este time vem de 3-13. Os Bears navegam na mediocridade – simbolizada melhor do que ninguém por Cutler – há algum tempo. Desde 2010, apenas uma aparição nos playoffs. Pior: duas campanhas 8-8 e uma 10-6 (ambas não desembocaram em pós-temporada). É ante esse panorama que Ryan Pace se encontra. É ante esse contexto que ele praticamente se viu forçado a dar um all in.
A chegada de Trubisky compra um tempo básico para Pace e John Fox. Ou pelo menos para Pace, dado que Fox até algumas horas antes da escolha sequer sabia que um quarterback estava a caminho do Soldier Field.
A escolha é ruim? Não sei avaliar AGORA. O que eu sei é que a TROCA foi ruim em termos de valor. Na prática, Pace foi enrolado por um general manager novato em San Francisco. John Lynch estava no lado certo do Draft Day. Pace, em cinco anos, pode ser rotulado como o idiota do dia.
Tentando explicar por que Ryan Pace colocou as fichas na mesa desta forma
Jets e Browns eram potenciais candidatos a subirem (6 e 12) no Draft para Mitchell Trubisky. Os Bears tinham a terceira escolha. San Francisco, louco para sair da #2 e acumular picks no processo, não escolheria um quarterback. Mas muito provavelmente disse para os Bears que os Jets e os Browns estavam fazendo propostas.
Pace perderia seu quarterback do futuro. Sendo verdade o que foi falado pelos 49ers ou não, Pace não quis arriscar. Hipotecou o time. Na prática, é isso mesmo. Uma hipoteca por um quarterback com um gigantesco ponto de interrogação por conta do baixo espaço amostral.
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Mitchell Trubisky é o melhor quarterback desta classe quando o assunto é “piso de talento”. Não sabemos, contudo, até onde isso dá. Porque ele só foi titular em 13 partidas no College Football – e nos dois anos anteriores, não “bancou” Marquise Williams, o qual sequer draftado foi na NFL. A explicação de Trubisky para isso – ao menos no Gruden’s QB Camp, programa da ESPN americana – foi que Williams era um quarterback mais adequado para o College (e ele, para a NFL). De certa forma faz sentido. O que nunca fez sentido é ele ter sido eleito Mr. Ohio – prêmio dado ao melhor jogador de ensino médio no Estado de Ohio – e não ser recrutado por Ohio State. Tampouco conseguir ser titular em North Carolina até o ano passado.
Lá, executou um ataque em spread offense com poucas leituras, toneladas de no huddle, só formação shotgun e uma complexidade baixa se comparada à NFL. Também no QB Camp de Jon Gruden, Trubisky deixou escapar que não sabia o que é uma hard count. Até eu aqui no Brasil, um reles mortal, sei o que é isso. A segunda escolha geral do Draft, não.
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Para piorar a situação, os Bears tem buracos grosseiros na secundária e na terceira escolha poderiam escolher Jamal Adams, Marshon Lattimore, Malik Hooker ou qualquer outro jogador que teria impacto imediato numa defesa que precisa de ajuda. E mais: Chicago acaba de dar 17,5 milhões de dólares garantidos para Mike Glennon. O contrato é de 3 anos e na prática só o primeiro é mega garantido. Se os Bears cortarem Glennon em 2018, irão “perder” só 2,5 milhões.
Mas se o fizeram, por que paçocas ir atrás de um quarterback? Talvez Pace tenha gostado do que viu. O histórico de quarterbacks com tão pouca experiência é mínimo. Trubisky pode estar em um dos lados da moeda: ou de Cam Newton/Aaron Rodgers ou de Mark Sanchez. Os três foram escolhas de primeira rodada após serem titulares no college por apenas um ano.
Sinceramente: não sabemos onde isso vai dar. Se Trubisky estiver mais para Newton/Rodgers (não acho que está) os Bears conseguiram um titular por mais 10 anos – ainda mais numa franquia pífia quando o assunto é quarterbacks – e a troca (inacreditavelmente) terá sido uma barganha. Se Trubisky estiver mais para Sanchez, é uma troca que colocará John Fox e Ryan Pace na rua em dois anos. Não há meio termo: é All-In total.
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